A Última Geração de Discos Clássicos do Rock | Parte 1: Classic Rock

 

Neste artigo, o primeiro de uma série, quero falar sobre aquela que considero a última grande geração de álbuns de rock, que foi a iniciada em 1989 e findada por volta de 1991. Não que o rock tenha morrido após este período, longe disso. Se formos analisar friamente, o ano de 1992 é um verdadeiro eldorado para o estilo, o ano de 1995 foi o cenário para explosão do pop punk, do indie rock e do brit-pop, e ainda hoje ele continua firme em nichos no underground.

Porém, creio que este foi o último período em que vimos uma quantidade gigantesca de excelentes discos que definiriam e redefiniram gêneros, criaram novas bandas gigantes do estilo e ressuscitaram a carreira de lendas do passado.

Concordando ou não comigo sobre esta ter sido a última grande geração de álbuns de rock, embarque comigo nesta viagem dividida em seis partes, onde passearemos por discos brilhantes lançado entre 1989 e 1991. Primeira parada: a ressurreição do classic rock.

Ultima geração de clássicos do Rock 2

A Última Geração de Discos Clássicos do Rock

Por convenção, dizemos que o rock nasceu em meados dos anos 50, quando o rythm & blues dos negros se fundiu ao country/hillbilly dos brancos nos Estados Unidos. O rock já foi declarado morto diversas vezes, mas ao meu ver ele só se retirou para visitar outras paisagens e se fundiu aos mais diversos estilos musicais espalhados pelo mundo.

Inclusive, publicamos aqui neste mesmo site uma lista com 23 álbuns que irão te apresentar novos nomes deste estilo que apenas se avizinhou ao erudito, ao blues e ao jazz como formas musicais que vivem alheias ao mainstream, mas com público cativo, consumidor e fiel.

Todavia, voltemos à era dourada do Classic Rock. Pergunto-lhe: O que canções como “Hey You” do Pink Floyd, “Stairway to Heaven” do Led Zeppelin ou “Anarchy In U.K.” do Sex Pistols possuem em comum? Nada! A não ser que estão enfileiradas na prateleira de clássicos do rock n’ roll e isso mostra o quão vasto era o terreno criativo que os compositores das bandas tinham para cultivar suas ideias musicais.

Entretanto, ninguém contesta que qualquer uma destas canções possuem um o mais puro sangue rock n’ roll, apesar de toda a versatilidade da tríade apresentada.

Vamos trilhar outro caminho. Naqueles áureos tempos do classic rock, tivemos grandes gerações de álbuns clássicos. Quer um exemplo? Entre 1978 e 1980, temos uma das mais brilhantes gerações de lançamentos, com clássicos do quilate de “The Wall” do Pink Floyd, o álbum de estréia do Van Halen, “Highway to Hell” e “Back In Black” do AC/DC, Joy Division com seu “Unknown Pleasures”, o Motorhead impressionava o mundo heavy metal com seu “Ace Of Spades” ao lado do Judas Priest que lançava o multi-platinado “British Steel” e ambos viam o nascimento do Iron Maiden com seu álbum de estréia.  Acredito que depois deste exemplo fique claro o que chamo de grandes gerações de álbuns clássicos do rock.

Não creio que esta geração citada seja a melhor da história do rock e existem diversas outras que valem uma pesquisa mais minuciosa. Mas os amantes do rock n’ roll concordam que o estilo perdeu o glamour e a atenção da mídia nas décadas subsequentes. Então, qual seria a última grande geração de álbuns clássicos de rock? Nesta série de postagens tentarei expor qual é o derradeiro conjunto de discos que valem a pena serem ouvidos, por sua qualidade e pioneirismo, começando pela ressurreição do classic rock.

A Ressurreição dos Deuses do Classic Rock

Esta geração de álbuns lançados entre 1989 e 1991 foi responsável por revitalizar a carreira de muitos nomes consagrados que haviam entrado em crise criativa ou simplesmente implodido em decorrência de alguma distopia roqueira.

Um destes nomes foi o Aerosmith, que viria a lançar em 1989 o grande álbum “Pump”, continuando uma dominação do mercado fonográfico que começou em “Permanent Vacation” (1987) e chegaria a seu ápice em 1993 com o disco  “Get a Grip”.

Por sua vez, Alice Cooper continuaria sua bem sucedida fase iniciada em “Trash” (1989 – que comentaremos nas próximas partes) com “Hey Stoopied” de 1991; o Whitesnake mostrava evolução na sua fórmula que mesclava peso e baladas açucaradas com o multi-platinado “Slip Of The Tongue”; o Black Sabbath lançaria o ótimo e renovador  “Headless Cross”; o Motörhead produziria o seu último clássico, “1916″, o disco que traz homenagens ao nosso país e à banda punk Ramones; e o Dire Straits, após um hiato de seis anos, retorna com o brilhante “On Every Street”. 

Esta também é a época em que “Journeyman” manteria Eric Clapton em alta antes da explosão de “Tears in Heaven” em 1992, muito por causa da belíssima “Runnin’ On Faith”. Já os “azarados” do Lynyrd Skynyrd retornam com um álbum auto-intitulado, recomeçando uma carreira interrompida de maneira trágica no fim dos anos 70.

Influenciado pelo rock alternativo que bebeu de sua própria obra, Neil Young lançaria o crú e influente “Ragged Glory”. Os canadenses do Rush investiam num a sonoridade progressiva mais pesada com “Roll The Bones” e o Rolling Stones começava a recuperar sua grande forma no ótimo “Steel Wheels”, um disco impulsionaria o seu gigantesco sucesso de público nos anos 1990.

Após muitos altos e baixos, Lou Reed, um dos maiores nomes da história do rock, conseguiu compor um disco que transpira a energia do Velvet Underground e fez seu nome ser notado novamente: “New York” (1989) vale uma audição mais atenta pelas referências e pela qualidade das canções. Assim como Iggy Pop, que com seu “Brick By Brick” marcaria o início dos anos 1990 com o sucesso de “Candy”, cujo clipe explodiu na MTv, trazendo a participação de Kate Pierson, do B-52’s, e apresentando-o às novas gerações.

Ramones e o Cemitério Maldito

Um dos grandes destaques dentro do classic rock de 1989 a 1991 foi um álbum alavancado pela mistura de rock com cinema e literatura, mais precisamente, Ramones e Stephen King. No ano de 1989, foi lançada a versão cinematográfica do clássico “O Cemitério” do mestre do terror norte-americano, que trazia algumas referências à banda punk americana.

A “parceria” foi enlaçada de maneira ainda mais forte pela canção “Pet Sematary”, composta especialmente para a película e que aparece como faixa de abertura do lado B do álbum “Brain Drain”, décimo primeiro do Ramones, lançado em 1989.

Só esta faixa antológica credenciaria o disco a estar nesta lista, mas ainda temos “I Believe In Miracles”, “Don’t Bust My Chops”, a genial “Punishment Fits the Crime”, “Learn To Listen”, “Can’t Get You Outta Mind” e “Merry Christmas (I Don’t Want To Fight Tonight)” que só elevam ainda mais a qualidade absurda deste álbum, que também ficou marcado como o último a contar com Dee Dee Ramone, mas que se mostra um dos melhores momentos da banda na fase em que lapidaram mais o seu punk, indo além dos três acordes.

O Milagre do Queen

No ano de 1989 o Queen era um gigante. Uma das poucas bandas a se manter permanentemente no topo desde o princípio dos anos 70 e durante os injustos e famigerados anos 80. Pois bem, em maio daquele mesmo ano, Freddy Mercury e cia lançaria seu segundo melhor álbum da década (só perdendo para “The Game”, de 1980): “The Miracle”. As canções são recheadas de conteúdo pop e espirito roqueiro sendo impossível destacar a performance de algum integrante em separado.

Os maiores sucessos foram para a magistral “Scandal”, que mostra como o teclado deve ser usado no rock e traz um dos clipes mais legais do conjunto; a melódica “The Miracle” com mais um clipe interessantíssimo com versões infantes para os integrantes do conjunto; “Breakthru” que traz toda a identidade musical do Queen com muito lirismo e arranjo de piano na introdução; “Invisible Man” com tempero dançante e mostrando uma criatividade pop de muito bom gosto; e a melhor de todas as faixas, “I Want I All”. Impossível descrever o impacto desta música que é guiada pelo duelo das guitarras de Brian May, com a voz sempre inspirada de Freddy Mercury. Um dos maiores álbuns desta geração!

O Blues de Gary Moore

Passando para o terreno no blues, não poderia deixar de lembrar de um dos maiores lançamentos daqueles dias. Gary Moore era um veterano na cena, já havia integrado o grande Thin Lizzy e era dono de uma extensa carreira solo com discos que mostravam toda a sua influência bluesy.

Mas o sucesso arrebatador só veio com o clássico “Still Got The Blues”, de 1990, que contava com participações de grandes nomes da música, como Albert King, George Harrison e Albert Collins. O disco trazia grandes sucessos de autoria própria e algumas releituras.

Porém, o destaque máximo é para a faixa-título que marcou o início dos anos 90 com seu riff atemporal. Moore inclusive precisou se defender de uma acusação de plágio, na Alemanha em 2008, por causa daquele riff que introduz seu maior sucesso comercial.

O Scorpions e a Nova Ordem Mundial

Para o final desta nossa primeira parte da série, deixei um álbum que é um marco de uma época, pois a canção “Wind Of Change” é um verdadeiro hino, não só do rock, mas político, tendo se tornado um dos símbolos culturais e artísticos do fim daquilo que ficou conhecido historicamente como Guerra Fria. É muito comum  assistir a cenas da queda do muro de Berlim tendo a canção do Scorpions como trilha sonora.

O álbum da banda alemã que trazia esta antológica canção foi denominado “Crazy World”, sendo lançado em novembro de 1990. As músicas mostravam uma sonoridade melhor que a apresentada no álbum anterior, mas ainda sem o peso dos discos clássicos do início da década de oitenta.

Além do hino histórico, o disco ainda trazia o rock n’ roll de “Tease Me, Please Me”, “Don’t Believe Her” e uma das mais belas baladas de sua carreira: “Send Me An Angel”. Este foi o último grande lançamento de inéditas do Scorpions até o excelente “Humanity: Hour I”, já em meados da primeira década do novo milênio.

Completando a Geração.

Por fim, chegamos ao fim da primeira parte da nossa viagem através da última grande geração de álbuns de rock, dedicada às bandas e artistas do classic rock que revitalizaram sua carreira entre 1989 e 1991.

Claro que não é possível comentar todos os grandes clássicos lançados por esta maravilhosa geração roqueira. Por este motivo, listo abaixo os grandes clássicos do classic rock (e suas variantes como o blues rock) desta era que por algum motivo não foram comentados previamente, mas que valem uma audição:

  1.  John Lee Hooker: “The Healer” (1989)
  2. Elton John: “Sleeping With The Past” (1989)
  3. Kiss: “Hot In The Shade” (1989)
  4. Bob Dylan: “Under The Red Sky” (1990)
  5. Deep Purple: “Slaves and Masters” (1990)
  6. Black Crowes: “Shake Your Money Maker” (1990)
  7. Traveling Wildburys: III (1990)
  8. Queen: Innuendo (1991)

E você, qual disco do classic rock lançado entre 1989 e 1991 colocaria nesta lista da última geração de discos clássicos do rock?

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