Cradle of Filth – “Existence Is Futile” (2021) | Resenha

 

“Existence Is Futile” é o décimo terceiro álbum de estúdio da banda britânica de metal extremo Cradle of Filth, lançado em 2021, e que chega ao Brasil pela parceria entre os selos Shinigami Records e Nuclear Blast. Este é o álbum que marca a estréia da tecladista e backing vocal Anabelle em estúdio.

Cradle of Filth - Existence is futile

“Existence Is Futile” é mais um disco a celebrar a ótima fase da banda britânica Cradle of Filth que entregou uma sequência de discos revigorados como “Hammer Of The Witches” (2015) e “Cryptoriana – The Seductiveness Of Decay” (2017). Com uma fórmula bem definida e amadurecida, Dani Filth e companhia compuseram dois discos belíssimos, alicerçados no mesmo metal extremo de nuances góticas e traços angustiantes.

De fato, o novo trabalho dá continuidade a isso, de uma forma mais obscura, brutal, e dual, podemos assim dizer. Os riffs continuam instigantes, bem como os arranjos orquestrados, altamente pertinentes à sonoridade da banda, com o atrito entre o profano e o belo feito d for,a mais instintiva e fluida.

Enquanto as partes mais extremas marcam a identidade da banda e fazem pontes com o passado, os arranjos que extrapolam este campo oxigenam as canções em partes melódicas e cadenciadas apresentando mais versatilidade técnica, explorando, inclusive, diferentes texturas sonoras aqui e acolá, sendo um disco musicalmente mais épico e dramático, lento e melódico, dentro de sua já bem estabelecida geometria estrutural intrincada e sinuosa.

Com isso, a aura sombria, provocante e misteriosa ganha mais requinte e corpo. Eles saíram da temática vitoriana do disco anterior e entraram de cabeça no existencialismo carregado da angústia do ano de pandemia, levando as letras para um novo direcionamento, sempre se dividindo entre o explícito niilismo filosófico e o implícito existencialismo poético impulsionado pelo medo do desconhecido, algo bem impresso na capa que traz uma releitura apocalíptica da obra do genial Hieronymus Bosch e na faixa “Us, Dark, Invincible”, que fecha o trabalho.

Outra faixa que chama a atenção é “Suffer Our Dominion”. Primeiro pela participação de Doug Bradley, ator britânico que interpretou o personagem Pinhead, de Clive Barker, no cinema. Segundo porque, musicalmente e pela introdução (lembrando fatalmente de “Her Ghost In The Fog”), é a faixa que mais se aproxima do que o Cradle of Filth fez no passado, em discos como “Cruelty And The Beast” (1998) e “Midian” (2000).

Além disso, a estrutura do disco lembra muito aquela de “The Principle of Evil Made Flesh” (1994), pois assim como naquele primeiro álbum do Cradle Of Filth, “Existence is Futile” tem três partes bem definidas e separadas por suas características, como se entregasse uma coletânea de três contos mórbidos elegante e brutalmente musicados pela forma melódica e sinfônica de seu black metal fortemente pincelado de nuances góticas.

Neste sentido, “Existencial Terror”, “Necromantic Fantasies” e “Crawling King Chaos” (talvez, a melhor música do disco), faixas que compõem a primeira parte do disco, chegam não só como o seu momento mais forte (adicione aí a também ótima “Black Smoke Curling From the Lips of War”), mas também mostrando como o guitarristas Rich Shaw e Ashok são extremamente técnicos e hábeis na construção de riffs e solos (eles salvam “The Dying Embers” do vale insosso do mais do mesmo).

Inclusive, a formação da banda ganhou muito com a chegada de Anabelle Iratni, pois suas inserções de teclado e orquestrações soam renovadas, o que deu novas possibilidades para a musicalidade pensada por Dani Filth. Os dois trabalham juntos no ótimo Devilment, o que contribui para o entrosamento.

“Existence Is Futile” foi gravado durante o ano de 2020 no Grindstone Studios, no condado inglês de Suffolk, ao lado do velho conhecido Scott Atkins (Devilment/Benediction/Vader), e o trabalho em estúdio brilhante é a primeira coisa que chama a atenção. Tudo está bem definido, cada instrumento audível, mesmo nos movimentos mais caóticos e entrópicos.

Ou seja, “Existence Is Futile” é mais um ótimo disco do Cradle of Filth, mostrando que a fase mais complicada da banda ficou realmente no passado, pois agora a qualidade só cresce de um disco para o outro.

Ah! A edição nacional em CD traz duas faixas bônus não referências no encarte e na contra-capa, intituladas “Sisters of the Mist” (ótima por sinal, novamente com Doug Bradley e misturando a fase “Midian” com a vibe vitoriana do disco anterior) e “Unleash the Hellion”, ambas disponíveis apenas nas edições especiais do disco.

Mais uma obra-prima da morbidez requintada do Cradle of Filth.

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