“Silent Waters”, oitavo álbum da banda finlandesa AMORPHIS, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO, cuja proposta você confere nesse link.
Definição em um poucas palavras: melódico, pesado, original, progressivo, cativante.
Estilo do Artista: Progressive/Death/Doom Metal
Comentário Geral: Oriundo da Finlândia, o Amorphis é um dos nomes que detém uma das personalidades mais reconhecíveis no meio heavy metal na atualidade, cunhada numa das maiores metamorfoses sonoras vistas ao longo da carreira de uma banda do gênero.
Em sua primeira década a banda foi do death metal tipicamente escandinavo e noventista a uma forma personalíssima de heavy metal, usando as influências folk para banhar sua música de melodias frias, sombrias e melancólicas ao logo do caminho.
Com isso, o Amorphis criava uma sonoridade livre de ideias pré-concebidas, onde a criatividade não se via mais encastelada em nenhum dos rígidos padrões do metal extremo, num experimentalismo que criava paralelos com o que faziam na mesma época nomes como Paradise Lost, Katatonia, e Crematory.
Claramente o Amorphis era uma banda se arriscando, explorando texturas, sentimentos e abordagens de uma forma única, com apelo progressivo e diferente de tudo o que já tinham feito ou fariam.
Porém, à partir de “Far From the Sun” (2003), o Amorphis começou um movimento de retomada de alguns elementos clássicos de seus três primeiros discos, mas sem perder a identidade experimental e progressiva criada nos últimos anos.
A chega do vocalista Tomi Joutsen foi determinante para a sonoridade que a banda criaria em sua segunda década, pois ele tinha um trunfo importante para a sonoridade da banda: era capaz de realizar tanto as linhas limpas como as guturais.
Isso dava às composições ainda mais amplitude de evolução, o que rendeu “Eclipse”, em 2006, facilmente um dos três melhores discos de sua discografia.
Com “Eclipse” o Amorphis era capaz de unir tudo o que deu certo em sua música, desde a agressividade do metal extremo ao apelo acessível da fronteira entre o acessível e o alternativo.
O Amorphis havia, então, encontrado o seu equilíbrio através da diversidade de sua própria inquietude criativa e “Silent Waters” reforçava a boa fase dos finlandeses.
Essa boa fase e a motivação renovada do Amorphis foi reforçada por Tomi Joutsen em entrevista da época:
“Nós temos um bom clima dentro da banda no momento, e estamos todos motivados e muito otimistas para o futuro do Amorphis . Quando gravamos ‘Eclipse’, queríamos fazer um novo álbum quase imediatamente depois, porque tínhamos algumas das músicas prontas e, como eu disse, estávamos motivados e queríamos fazer algo ao invés de ficar em casa ou não fazer nada . “
Lançado em 2007, “Silent Waters” teve como música de divulgação justamente a faixa-título, o que se justifica por ela ser, digamos, mais “comercial”. Entretanto, apesar de ser uma boa música, ela está longe de resumir o que ouvimos ao longo do disco.
Já na abertura com “Weaving the Incantation” essa minha observação pode ser conferida, pois traz um vocal death metal em meio a uma musicalidade mais pesada e densa (com os tradicionais riffs de tempero folk).
Algo que se estende à primeira metade da faixa seguinte, “A Servant”, que mostra como o Amorphis conseguiu o equilíbrio entre o peso e a melodia que, por sua vez, será ainda mais explorado na já citada faixa-título que chegará na sequência.
Essas três músicas dão a tônica do disco que ajudaria a refinar a estética musical do Amorphis pela modernidade, com foco na técnica e na preocupação com os arranjos, que estão trabalhados ao mínimos detalhes, indo mais fortemente ainda em direção ao progressivo, mas sem excessos de virtuose e consciente do trunfo que é ter um bom refrão.
“I of Crimson Blood” , por exemplo, encapsula muito do metal moderno de tons melancólicos, melódicos e progressivos.
Além disso, esse disco reforçava a estabilidade de uma formação poderosa, com músicos técnicos e criativos no manejo do atrito de peso e melodia, capazes de criar um novo capítulo da discografia da banda tão ou mais forte que o anterior.
Provas disso residem nas faixas “Towards and Against” e “Shaman”, que praticamente reúnem todos os elementos que o Amorphis usou com sucesso ao longo de toda a sua carreira (como os riffs de tempero folk), se valendo sempre do atrito de dicotomias, passando pelo trabalho de guitarras e teclados, até o refrão marcante.
Dentro do repertório, ainda podemos destacar a acústica “Enigma” (com harmonias ao violão lembrando vagamente “Norwegian Wood”, do Beatles) e a climática “Her Alone”, essa última com um desfecho ao piano e vocais femininos de arrepiar.
Outro momento brilhante do disco está na sua faixa de encerramento, “Black River”, com linhas de guitarras inspiradíssimas e construídas sobre progressões familiares, além de outros detalhes envolventes do arranjo urgente e climático.
No geral, ouvimos uma banda que criou uma dinâmica muito própria para misturar o metal extremo com os aspectos atmosféricos e melódicos do folk metal, se valendo de estratégias progressivas e uma fumaça gótica envolvente.
As letras de “Silent Waters” são traduções do finlandês para o inglês de poemas escritos pelo poeta Pekka Kainulainen inspirados pelo personagem Lemminkäinen, retirado da Kalevala, que casam perfeitamente com a belíssima capa de Trevor Smith, invocando a estética dos tempos de “Tales From a Thousand Lakes”.
Posteriormente, em discos excepcionais como “Under the Red Cloud” (2015) e “Queen of Time” (2018), eles iriam ainda mais fundo em direção ao progressivo, mas sem excessos de virtuose.
Esse ótimo disco ganhou um recente relançamento via Shinigami Records, sendo uma ótima oportunidade de conferi-lo, pois, de fato, VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO!
Ano: 2007
Top 3: “Weaving the Incantation”, “Towards and Against” e “Enigma”
Formação: Tomi Joutsen (vocais), Esa Holopainen (guitarra), Tomi Koivusaari (guitarra), Santeri Kallio (teclados), Niclas Etelävuori (baixo) e Jan Rechberger (bateria)
Disco Pai: Opeth – “Blackwater Park” (2001)
Disco Irmão: Paradise Lost – “In Requiem” (2007)
Disco Filho: Barren Earth – “On Lonely Towers” (2015)
Curiosidades: A Kalevala é a epopeia nacional da Finlândia, escrita/compilada por Elias Lönnrot, sendo Lemminkäinen um dos heróis da mitologia ali descrita. Com isso, o Amorphis deu foco aos aspectos folk de sua imagética ao usar as histórias do antigo povo de Suomi.
Pra quem gosta de: mitologia nórdica, versatilidade, reparar em detalhes, vinho tinto e noite de lua cheia.
Leia Mais
- Amorphis | 5 Discos Pra Conhecer a Banda Finlandesa.
- Paradise Lost – “In Requiem” | Você Devia Ouvir Isto
- Katatonia – “Brave Murder Day” (1996) | Você Devia Ouvir Isto
- Death Metal | 11 Discos Para Conhecer o Metal da Morte
- Sinisthra – “The Broad and Beaten Way” (2020) | Resenha
- Amorphis – “Eclipse” (2006) | Você Devia Ouvir Isto
- Amorphis: “Queen of Time” (2018) | Resenha
- Opeth – “Garden of the Titans: Live At the Red Rocks Amphitheatre” (2018) | Resenha
- Amorphis – “Live At Helsinki Ice Hall” (2021) | Resenha
Dica de Livros Sobre o Tema:
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