Amorphis – “Eclipse” (2006) | Você Devia Ouvir Isto

 

“Eclipse”, álbum da banda AMORPHIS, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTOcuja proposta você confere nesse link.

Definição em um poucas palavras: melódico, pesado, original, progressivo, cativante.

Estilo do Artista: Progressive/Death/Doom Metal

Amorphis - Eclipse (2006 - Nuclear Blast, 2020 - Shinigami Records)

Comentário Geral: Oriundo da Finlândia, o Amorphis é um dos nomes que detém uma das personalidades mais reconhecíveis no meio heavy metal na atualidade, cunhada numa das maiores metamorfoses sonoras vistas ao longo da carreira  de uma banda do gênero.

Em seus primeiros anos, o Amorphis praticava um death metal dentro da mais perfeita tradição escandinava dos anos 1990.

Dessa época, o álbum “The Karelian Isthmus” e o EP “Privilege of Evil”, de 1992 e 1993, respectivamente, mostravam o que de melhor o death metal finlandês podia oferecer.

No álbum seguinte, “Tales From a Thousand Lakes”, o Amorphis já mostraria que podia ir além ao buscar uma identidade ainda mais folk para banhar sua música de melodias frias, sombrias e melancólicas.

Sem medo de exagerar, “Tales from a Thousand Lakes” é o álbum  mais vanguardista do metal extremo no início dos anos 1990, até mais do que o clássico “Gothic”, do Paradise Lost.

Com “Elegy”, o álbum seguinte, o Amorphis começou a diminuir os vocais guturais, abrindo mais espaço para as linhas limpas e olhou com atenção o que seus congêneres praticavam no final do século.

Um estudo que refletiria fortemente no próximo álbum, “Tuonela”, que trazia uma sonoridade livre de ideias pré-concebidas, onde a criatividade não se via mais encastelada em nenhum dos rígidos padrões do metal extremo.

Mesmo que possamos traçar paralelos com o que faziam na mesma época nomes como Paradise Lost, Katatonia, e Crematory, é observável que o Amorphis tinha mais personalidade e uma bem definida carta de intenções em seu experimentalismo.

Experimentalismo que atingiria seu ápice no álbum seguinte: “AM Universum” (2001),o disco que tinha o clássico “Alone”!

Após “AM Universum” (2001), e a volta do baterista Jan Rechberger,  o Amorphis tentou uma espécie de inserção novamente aos elementos clássicos em “Far From the Sun” (2003).

Isso era algo já evidenciado na capa, mas a pouca inspiração do material era também sintoma de que a fase com com Pasi Koskinen nos vocais, que tinha entrado na época de “Elegy”, já tinha rendido o máximo que podia.

Ao mesmo tempo, esse foi o disco que funcionou como uma espécie de transição para o que ouviríamos da banda em sua próxima fase de ouro.

O próximo álbum, “Eclipse”, começou a ser trabalhado ainda com o antigo vocalista, como declarou o tecladista Santeri Kallio ao site Sea of Tranquility:

“Começamos a compor algumas das músicas para ‘Eclipse’ logo depois de terminarmos o último álbum ‘Far From the Sun’, bem, depois da turnê europeia e shows em festivais, e juntamos mais da metade das músicas, é claro sem as melodias vocais. Nós até fizemos demo das músicas com nosso vocalista anterior, Pasi Koskinen, mas então quando ele deixou a banda nós jogamos os vocais na lata de lixo e começamos a procurar por um novo vocalista.”

O Amorphis então recrutaria o vocalista Tomi Joutsen que tinha um trunfo importante para a sonoridade da banda: era capaz de realizar tanto as linhas limpas como as guturais.

Isso dava às composições ainda mais amplitude de evolução, o que rendeu a “Eclipse”, em 2006, facilmente o título de um dos três melhores discos da discografia do Amorphis.

Em “Eclipse” o Amorphis era capaz de unir tudo o que deu certo em sua música, desde a agressividade do metal extremo até o apelo acessível da fronteira entre o melódico e o alternativo. 

Isso tudo já ficava claro na abertura com “Two Wolves”, que traz até algo mais stoner para as cores góticas da banda, principalmente na determinação dos vocais e nos riffs, seja de guitarra quanto de teclados.

Não só, mas principalmente por isso, “Eclipse” é um disco bem mais pesado que seu anterior, e segundo o tecladista Santeri Kallio isso tem um motivo específico:

“Acho que todos na banda sabiam queríamos fazer músicas mais dramáticas e certamente mais pesadas, com melodias maiores. Eu acho que uma das razões pelas quais a música ficou mais pesada é que estávamos tocando uma música do ‘The Karelian Isthmus’ no set ao vivo, assim como de ‘Tuonela’, o que talvez nos tenha levado nessa direção.”

O que pode parecer um conflito entre  duas abordagens diametralmente opostas, o Amorphis realiza como um amálgama bem equilibrado, gerando faixas excepcionais como “House of Sleep” (que chega na sequência como uma das melhores músicas da história da banda), “The Smoke” (outra faixa histórica do Amorphis), “Leave Scars” (mostrando toda a versatilidade do vocalista na linhas limpas e guturais sobre uma estrutura folk) e “Perkele (The God of Fire)”, que se encaixam como peças de um quebra-cabeças musical alinhado ao pensamento progressivo.

“Depois do último álbum, eu acho que realmente queríamos testar ao máximo nossos limites nesse”, refletiu o tecladista, e isso aproximou a sonoridade da banda do progressivo setentista.

“House of Sleep” inclusive tem uma passagem climática com teclados que remetem à era de ouro do rock progressivo, de nomes como Camel, Yes e Caravan.

Já “Under A Soil And a Black Stone” é uma faixa mais cadenciada e climática, quase uma power ballad, que mostra uma forma diferenciada de trabalhar essas influências progressivas pelas vias do rock alternativo e do hard rock.

Assim como a ótima “Empty Opening” fará, mas agora seguindo o manual do gothic metal de sua época, mesclada a leves influências do Pink Floyd na abertura.

Algo que é realizado por caminhos diferentes em “Same Flesh”, com sua dramaticidade técnica e derramamentos expressivos nos vocais de Tomi Joutsen, que chega a remeter a Phil Anselmo nos tempos de Pantera.

Com essas influências progressivas convivem melodias altamente cativantes, quase radiofônicas, e passagens com o peso do death metal, reforçando o fato de estarem conscientes e dominantes da arte que queriam produzir, enquanto revisitavam seu próprio legado.

Algo que fica claro em “Perkele (The God of Fire)”, essa pisando pontualmente no death metal, além de “Born From Fire” e “Brother Moon”, construídas sobre as bases melódicas e das timbragens mais tradicionais do Amorphis, além de trazer duas das melhores linhas vocais do disco.

Cabe mencionar que a sequência de discos com Tomi Joutsen é irrepreensível.

“Silent Waters” (2007) e “Skyforger” (2009) refinavam a estética musical do Amorphis pela modernidade, com foco na técnica e na preocupação com os arranjos, que estão trabalhados ao mínimos detalhes.

Posteriormente, em discos excepcionais como “Under the Red Cloud” (2015) e “Queen of Time” (2018), eles iriam ainda  fundo em direção ao progressivo, mas sem excessos de virtuose.

Porém foi com o “Eclipse” que o Amorphis já havia encontrado o seu equilíbrio através da diversidade de sua própria inquietude criativa.

Esse ótimo disco ganhou um recente relançamento via Shinigami Records, sendo uma ótima oportunidade de conferi-lo, pois, de fato, VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO!

Ano: 2006

Top 3: “House of Sleep”, “The Smoke” e “Perkele (The God of Fire)”

Formação: Tomi Joutsen (vocais), Esa Holopainen (guitarra), Tomi Koivusaari (guitarra), Santeri Kallio (teclados), Niclas Etelävuori (baixo) e Jan Rechberger (bateria)

Disco Pai: Anathema – “Alternative 4” (1998)

Disco Irmão: Paradise Lost – “Paradise Lost” (2005)

Disco Filho: Sinisthra – “The Broad and Beaten Way” (2020)

Curiosidades: Novamente o Amorphis se vale do folclore finlandês para seus temas, agora usando a saga do personagem Kullervo, um anti-herói de destino trágico na mitologia Fino-húngara, filho mal-fadado de Kalervo.

Pra quem gosta de: Beber vinho, mitologia nórdica, versatilidade, reparar em detalhes.

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