Amorphis – Resenha de “Queen of Time” (2018)

 

 

Amorphis-Queen-Of-Time-Artwork
Amorphis – “Queen of Time” (2018, Nuclear Blast, Shinigami Records) NOTA:8,5

Poucas bandas podem se gabar do controle de qualidade altíssimo de sua discografia.

Desse grupo, uma porcentagem ainda menor conseguem dizer que criaram uma identidade tão forte que quase geraram um subgênero inteiramente para si em torno de sua abordagem musical.

Uma destas, de fato, é  o Amorphis!

São quase três décadas de inquietude musical que forjou álbuns tão diferentes quanto marcantes pela identidade sonora contida nas diversas formas que a banda imprimiu sua fusão de metal, folk e progressivo.

Oriundo da Finlândia, o Amorphis é um dos nomes que detém uma das personalidades mais reconhecíveis no meio heavy metal na atualidade, e nos mostra como ela está intacta em “Queen of Time”, mais um trabalho de primeiro nível, que tem a missão difícil de suceder o excelente “Under The Red Cloud” (2015).

Décimo terceiro disco da banda, “Queen of Time” chega mantendo o nível de complexidade, criatividade e poder de cativar.

Seja pelo instrumental diferenciado, as orquestrações com coro, ou os convidados (Anneke Van Giesbergen , Rafael Bittencourt e a Orphaned Land Oriental Orchestra dentre eles), a verdade é que o Amorphis acertou a mão outra vez!

A produção de “Queen of Time” foi deixada à cargo de Jens Bogren (que também esteve envolvido em Eonian”, novo disco do Dimmu Borgir), que conseguiu, num ótimo trabalho em estúdio, equilibrar melodia e aspereza, crueza e grandiloquência, melancolia e brilho, potencializando o melhor de cada aspecto pela variação de texturas, velocidades e peso.

O resultado final é um disco que exala bom gosto desde a primeira a faixa, “The Bee” (abusando dos contrastes vocais, com groove nas guitarras, e refrão melódico), até o desfecho com “Pyres on the Coast” (que praticamente resume a musicalidade de “Queen of Time”), seguida das duas bonus tracks, com destaque à belíssima “As Mountains Crumble”.

Pegue “The Golden Elk”, por exemplo. Existe, nessa faixa, grandiloquência melódica, vocais guturais, arranjos de cordas e um solo de Oud (uma espécie de alaúde) amalgamados de forma harmoniosa.

A variação da melodia vocal, ora nos versos, ora nos refrãos, alternando com os guturais, dentro de cada composição é uma arma poderosa no dinamismo, e já pode ser sentida da abertura para a segunda faixa “Message In The Amber” (o primeiro grande momento do álbum), que dá continuidade à alegoria temporal da letra de “The Bee”. 

“Queen of Time” é um álbum que também marca o Amorphis cruzando mais uma linha em sua metamorfose musical.

A proposta iniciada em “Eclipse”, álbum de 2006, o primeiro com o vocalista Tomi Joutsen,  ao que parece, foi fechada em “Under The Red Cloud” (2015).

Claro que ainda temos os timbres tradicionais do Amorphis, os vocais agressivos em contraste aos limpos e linhas progressivas, misturadas a densas guitarras góticas, mais evidentes em faixas como “We Accursed” (com protagonismo aos vocais guturais), “Heart of Giant” (mais acelerada e direta até nos aspectos progressivos, com o vertiginoso duelo de guitarra e teclados no solo) e “Grain of Sand”.

Mas até nestas faixas podemos ver como em “Queen of Time” estão ainda mais abertos a experimentações nas estruturas básicas e nos climas, em meio as texturas folk e enérgicas, com teclados melódicos e vocais femininos inseridos nas ambientações.

Aliás, preste muita atenção aos vocais deste álbum, existe uma clara preocupação em encaixá-los como parte dos arranjos, principalmente os coros.

Sem dúvidas, o Amorphis está ainda mais progressivo, desde a instrumentação diferenciada,  como o órgão gravado na Igreja de Paavali, o vocoder, e os instrumentos folk, até as estruturas das composições, com quebras de tempo, e complexidade sofisticada por definição.

Mas não pense que o Amorphis de desdobra em progressões técnicas inócuas, que podem significar qualquer coisa ou nada! Cada movimento tem significado emocional, e toda a pompa e circunstância vem adoçada por melodias certeiras ou groove contagiante.

Sempre há algo de empolgante em de “Queen of Time”, afinal a inteligência criativa da banda parece não ter limites, e algumas faixas irão dialogar diretamente com o passado recente do Amorphis, como nos hits “Wrong Direction” (mais simples, mas não menos eficiente em sua fortes tintas góticas), e “Among the Stars” (com Anneke Van Giesbergen nos vocais, num típica fórmula moderna de folk/prog/metal europeu), ou na ótima bonus “Brother and Sister”. E mesmo nestes momentos, algo soa diferente.

“Daugther of Hate”, uma das mais progressivas faixas de “Queen of Time” , é a grande estrela do repertório. Densa, pesada, e coesa, existe nela espaço tanto para guitarras death metal quanto para um belíssimo arranjo de sax, e um pouco de spoken word em finlandês, à cargo de Pekka Kainulainen, um multifacetado artista da Finlândia, responsável por todas as letras deste disco.

A pompa exagerada de alguns momentos mais melódicos pode incomodar, mas isso é apenas um ponto no plano musical de refrãos envolventes, linhas de guitarra com ganchos melódicos tão saborosos quanto inteligentes, e altíssimo nível musical.

Em “Queen of Time” temos um álbum que claramente mostra um Amorphis tentando revitalizar sua sonoridade de dentro pra fora, com empolgação, e preocupado em não desmontar a dinâmica que se tornou sua marca registrada.

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