Katatonia – “Brave Murder Day” (1996) | Você Devia Ouvir Isto

 

“Brave Murder Day”, clássico segundo disco da banda KATATONIA é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTOcuja proposta você confere nesse link.

Definição em um poucas palavras: Pesado, melancólico, progressivo, gótico.

Estilo do Artista: Doom/Death Metal

Katatonia - Brave Murder Day (1996, Peaceville, Mindscrape)

Comentário Geral: Não há dúvidas da importância de “Brave Murder Day”, álbum lançado em 1996, para a carreira do Katatonia.

Mesmo porque não havia muitas bandas fazendo o som que o então trio sueco praticava.

Para explicar de forma simples, eles pegaram o death/doom metal do trio de ferro inglês (Paradise Lost, Anathema, My Dying Bride) e deram um tratamento melódico mais frio e melancólico, influenciados por nomes alheios ao nicho a que pertenciam.

Mas o caminho entre o primeiro e o segundo disco não foi nada fácil.

“Dance of December Souls”, primeiro álbum de 1993, causou impacto não somente na cena, mas também na banda que acabou entrando num breve hiato até 1995.

Jonas Renkse (vocalista e baterista) e Anders Nystrom (guitarra), os dois fundadores do Katatonia, colocaram projetos individuais em prática, com destaque ao October Tide.

Com o October Tide, Jonas Renkse pode explorar um lado mais gótico e melancólico da sonoridade que o próprio Katatonia havia sugestionado naquele primeiro disco.

De certa forma, essa incursão de ambos amadureceu a visão musical do reformulado Katatonia de 1995, já sem o baixista Le Huche e com o guitarrista/baixista Fredrik Norrman que trabalhava com Jonas Renkse no October Tide.

Decidido que o Katatonia lançaria um novo disco o ritmo foi frenético, sendo que muitas músicas eram finalizadas na noite anterior a serem gravadas no estúdio ao lado de Dan Swano, em algumas semanas de julho de 1995.

Nesse sentido, “Brave Murder Day” foi um disco concebido em estúdio. Quase nenhuma das composições estava finalizada quando começaram as sessões de gravação e várias foram escritas durante o processo.

De certa forma, esse ritmo acelerado deu o clima do disco que em sua primeira versão não foi nem masterizado.

As músicas contribuíam para que essa rusticidade foi amplificada, pois, em comparação ao que ouvimos em “Dance of December Souls”, tudo em “Brave Murder Day” soa minimalista.

Desde as estruturas das composições, até a capa e a produção, tudo encarna no doom/death metal os aspectos do lo-fi, enquanto costura influências díspares de nomes como Fields of the Nephilim, The Cure, Jeff Buckley, Kent e Slowdive.

Essas duas últimas bandas foram influências declaradas pelo próprio Anders ‘Blakkheim’ Nystrom em 2006:

“Assim que começamos a compor novamente, começamos a nos reconectar e compartilhar quais bandas e artistas eram importantes e influentes para nós na época. Logo percebemos que compartilhávamos o amor por uma nova banda que havia chegado ao cenário sueco. Eles se chamavam Kent. Junto com outra banda chamada Slowdive. Talvez uma das nossas maiores influências de todos os tempos”

Essa proposta causou atritos entre a banda e o produtor, que queria inserir toda aquela atmosfera grandiloquente do primeiro disco novamente.

De certo modo, “Brave Murder Day” olhou para um horizonte diferenciado dentro da música pesada, além de se apresentar como uma bifurcação artística no caminho do Katatonia.

Algo que Jonas Renkse corrobora ao refletir sobre esse disco:

“Eu acho que esse disco trouxe algo de novo para uma cena onde tudo tinha que ser pomposo, musicalmente excitante, dramático. Nós fizemos o oposto e para mim era renovador na ápoca. Além disso, ele se tornou a fundação sobre a qual construímos o atual Katatonia”.

E ele completa dizendo que tinha um plano, uma fórmula para construir as músicas.

A verdade é que as influências nessa época já não estavam mais centradas no que faziam Paradise Lost e Tiamat como era perceptíveis no primeiro trabalho.

As estruturas rítmicas agora eram simples e repetitivas (a bateria é tão fria que até parece eletrônica) e as melodias minimalistas numa espécie de mantra gótico levavam a um estado hipnótico pelas circunvoluções de frequências graves e melancólicas.

Até por isso, a aridez da produção contribuiu para a desolação sombria, densa e etérea que essa combinação desconfortável impunha ao ouvinte em cada uma das seis faixas do repertório oficial.

Porém, “Brave Murder Day” tem um elemento surpresa que se encaixou perfeitamente nessa estética musical: Mikael Åkerfeldt, do Opeth.

No hiato entre os dois primeiros discos do Katatonia, Jonas Renkse perdeu a habilidade de produzir vocais agressivos e rasgados.

Eles então chamaram o velho amigo Mikael Åkerfeldt que aceitou cuidar dos vocais rasgados/guturais com todo o talento que lhe cabe, enquanto Jonas ficou encarregado dos vocais limpos.

Basta a primeira faixa, “Brave”, terminar para ter certeza de que não existia convidado mais adequado para cantar nesse disco do Katatonia.

A sintonia entre ele e a banda é imediata e seus vocais se encaixaram perfeitamente no desenho harmônico das guitarras.

Aliás, o trabalho de Fredrik Norrman e Blackheim, com seus timbres lúgubres e gélidos, são a alma deste disco, pela inteligência dentro da estética minimalista.

O simples fato de abrirem o disco com uma música que ultrapassa os dez minutos já era sinal da ousadia usada para construir todo o disco.

Essa música, junto com “Murder” (com seus cacoetes de black metal) e “Day” (a primeira com vocais limpos e ambientação gótica), a trinca inicial que batiza o trabalho, dão a ideia musical de um The Mission ou um Fields of the Nephilim que tivesse surgido no Black Circle norueguês.

Aliás, o próprio Anders Nyström, reconheceu a influência do Fields of the Nephilim nas suas composições, principalmente do álbum “Elizium”, de 1990:

“Uma enorme influência pra mim como compositor. Este álbum vai além dos clichês médios que você pode pensar que vêm da cena gótica. Ele detém muita paixão e eu acredito que sua essência não seja nada além do rock místico, obscuro e profundo. Uma excelente imagem cinematográfica também.”

“Brave Murder Day” é um disco de doom/death metal  à seu modo, emocional, vanguardista e simples, como mostram “Rainroom”, “12” e “Endtime”, que chegam na sequência como três das melhores músicas que o gênero já deu ao mundo.

Ao mesmo tempo, essas músicas mostram logo no início da carreira a alta capacidade que o Katatonia possui de inovar e se renovar. Isso até os dias de hoje, vide os recentes e ótimos “City Burials” (2020) e “The Fall of Hearts” (2016).

“Brave Murder Day” representou uma desconstrução para reconstrução da identidade do Katatonia e que o colocou como um dos nomes mais influentes no mundo do heavy metal a partir de então.

Recentemente esse disco foi relançado no Brasil numa edição primorosa à cargo da Mindscrape Music, em digipack com 3 painéis e laminação fosca, além da capa original do trabalho em preto e branco e logo púrpura.

Além de trazer a versão mixada do trabalho, lançada na década seguinte, esse edição nacional traz como bônus o EP “Sounds Of Decay”, de 1997, que era uma clara continuação deste disco.

As três faixas deste EP, “Nowhere”, “At Last” “Inside The Fall”, funcionam como um complemente perfeito para “Brave Murder Day” e qualquer uma delas poderia estar no disco sem diminuir sua qualidade, principalmente a primeira.

Com esse material completo temos a última parcela do Katatonia devotada ao death metal, pois no próximo álbum, “Discouraged Ones” eles já se entregariam ao gothic metal, tirando a mão do peso e concentrando sua energia na profundidade emocional.

Nem preciso dizer que essa edição de “Brave Murder Day” é obrigatória, certo?

Ano: 1996

Top 3:  “Brave”, “Day”“12”.

Formação: Jonas Renkse (vocal e bateria), Fredrik Norrman (guitarra), Blackheim (guitarra e baixo) e Mikael Åkerfeldt (vocais).

Disco Pai:  Fields Of The Nephilim – “Elizium” (1990)

Disco Irmão: Opeth – “Orchid” (1995)

Disco Filho: October Tide – “Rain Without End” (1997)

Curiosidades: A turnê deste disco durou pouco e foi feita na Europa ainda no ano de 1996. Foram cerca de vinte datas ao lado da banda norueguesa In the Woods, mas o Katatonia não tocava muito ao vivo nessa época.

Pra quem gosta de: Quebrar regras, se reinventar, melancolia, dias cinzentos e vinho tinto.

Leia Mais:

Sugestões de Leitura:

Outros Artigos que Podem Ser do Seu Interesse:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *