Vardis – “100 M.P.H” (1980) | Você Devia Ouvir Isto

 

“100 M.P.H”, disco ao vivo da banda VARDIS, lançado em 1980 e recentemente relançado no Brasil via Hellion Records, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTOcuja proposta você confere nesse link.

Vardis - 100 MPH (1980, 2021, Hellion Records) Resenha Review NWOBHM

Definição em um poucas palavras: Pesado, guitarra, crú, rock inglês, ao vivo.

Estilo do Artista: NWOBHM

Comentário Geral:  Originalmente batizada de Quo Vardis, em 1973, por causa do Status Quo, a banda de Steve Zodiac seria rebatizada em 1977 apenas para Vardis.

Fundado em Wakefield, na Inglaterra, o Vardis emergiria profissionalmente junto com o movimento que explodiria entre 1979 e 1981 quando uma nova geração de bandas de cabeludos emergiram praticando um tipo de heavy rock que o punk tentou varrer para baixo do tapete.

Claro que a competitividade era alta e além nomes icônicos, como o Def Leppard, de Sheffield, o Iron Maiden de Londres, o Saxon de Yorkshire e o Venom de Newcastle, tínhamos, com maior ou menor destaque, Diamond Head, Raven, Girlschool, Satan, Blitzkrieg, Tygers of Pan Tang, Witchfynde, Angel Witch, Holocaust, Jaguar, Demon, Samson e tantas outras brigando por um espaço.

“Eu lembro que o [termo] NWOBHM foi usado pela primeira vez em um artigo na Sounds, em referência a uma safra de bandas novas e jovens surgindo no final dos anos 70. Todos tinham estilos e sons diferentes, mas todos tocavam rock que não era punk. Parecia muito mais eclético na época do que como foi caracterizado em retrospecto.” refletiu anos mais tarde Steve Zodiac sobre o Vardis ser encaixado como uma banda da NWOBHM.

Musicalmente, o Vardis se colocava no centro do quadrilátero delimitado por Slade, Saxon, Motorhead e Status Quo, ou seja, crueza, melodia, velocidade, alto volume e peso, além de dois pés fincados nas raízes mais primitivas do rock n’ roll.

Muitas de suas músicas têm o ritmo do boogie herdado das bandas de hard/blues rock setentista e elas trazem, pelos timbres distorcidos e a técnica despojada, aquele clima de pub cheirando a cerveja para o registro de “100 M. P. H.”.

Inclusive, é difícil não lembrar da estética crua e o espírito “paulera” do histórico “Slade Alive!”, de 1972, à começar pela capa vibrante e monocromática, e até mesmo pela impressão de que tocam vivo para alguns poucos, mas ensandecidos, espectadores (que literalmente pedem por mais “barulho”).

Olhando pelas fotos do recheado encarte da reedição nacional e prestando atenção ao som do Vardis, vemos que guitarrista e vocalista Steve Zodiac tinha uma imagem postura técnica que lembrava um pouco o mestre Johnny Winter (impressão reforçada no blues rock “The Loser”).

Para uma banda que simplesmente escolheu ignorar o que fizeram Black Sabbath, Led Zeppelin, Deep Purple e Judas Priest nos anos 1970 e acelerar a proposta de Slade, Status Quo, Sweet e Foghat, ele era o guitarrista certo (confira “Let’s Go” e você vai entender o que estou dizendo).

Além disso, em diversos momentos, mas principalmente na faixa “100 M.P.H”, eu fiquei com a sensação de estar ouvindo um show de uma versão heavy metal do Ten Year After. Certamente Steve Zodiac estudou a cartilha de Alvin Lee, assim como o baixista soa como um discípulo de Leo Lyons.

Cabe ressaltar que Steve Zodiac chegou a ser eleito um dos quinze melhores guitarristas do rock no ano de 1982 pela revista Sounds.

O único problema é que essa era uma proposta muscal que já nasceu datada e não funcionava nos discos de estúdio, por soar repetitiva e sem inspiração.

Até por isso, a estratégia de abrir a discografia com um disco ao vivo era acertada.

Afinal, o Vardis sempre tinha sua sonoridade crua e pesada minada pelas produções lineares, que não conseguiam retirar no estúdio a energia que demostravam no palco, e o segundo álbum intitulado “The World’s Insane” (1981) era uma prova disso.

Não que a produção deste disco ao vivo seja muito acima do diletante. Ela é crua, abafada e suja, mas a atitude ousada se mostrou mais acertada, pois ao vivo, eles conseguiram um cartão de visitas com uma performance impressionante para a a época, saturado de solos de guitarra explosivos trabalhados sobre as possibilidades do blues, que além de tudo, os diferenciava das demais bandas da geração.

Os buracos que existem pela rusticidade da produção (que por vezes deixam os vocais ininteligíveis) e pela organicidade do formato são compensados com muita energia!

O disco abre com a fúria primitiva de “Out of the Way”, já passando o recado: letras curtas e muitas progressões da guitarra sobre uma base contundente, tudo tocado no último volume, remetendo fatalmente ao histrionismo e lascívia roqueira da década de 1970.

Nesse cenário se destacam faixas como “Move Along” (com passagens realmente empolgantes), “The Lion’s Share” (com dobras de guitarra e baixo), “The Loser” (um hard blues nervoso), “Living Out of Touch” “If I Were King” (que foi tocada no rádio pela primeira vez pelo icônico DJ John Peel, na Radio 1).

Porém, após o terceiro disco de estúdio, “Vigilante” (1986), Steve Zodiac colocou a banda em hibernação e saiu do mundo da música:

“Eu saí porque estava gastando mais tempo em batalhas legais por direitos de música do que em música. Decidi aprender a ciência por trás da arte e me formei como engenheiro de som, trabalhei com teatro por um tempo e depois criei cursos de formação em produção e engenharia de som.”

Em março de 2014, o fundador do Vardis, Steve Zodiac começou a remasterizar o álbum “Vigilant” (1986) e a confluência de fatores levou a uma reunião da banda para um festival na Inglaterra.

Esse show de retorno foi seguido de mais alguns até que Steve Zodiac e Terry Horbury decidiram seguir em frente com a banda, só que com o baterista Joe Clancy.

Infelizmente, em 2015, o baixista Terry Horbury faleceria, mas o Vardis continuaria com Martin Connolly sendo recrutado para o posto. Porém, antes ele deixaria o álbum “Red Eye” gravado.

O disco seria lançado em 2016 e contaria com o baterista original, Phil Medley, sendo o último trabalhado em estúdio da banda até o momento.

Por fim, cabe mencionar que “100 M.P.H” foi relançado no Brasil pelo selo Hellion Records numa edição luxuosa com duas bonus track, poster e slipcase.

Ano: 1980

Top 3: “100 M.P.H”, “The Loser” e “If I Were King”.

Formação: Steve Zodiac (vocal e guitarra), Alan Selway (baixo) e Gary Pearson (bateria).

Disco Pai: Slade – “Slade Alive!” (1972)

Disco Irmão: Saxon – “The Eagle Has Landed – Live” (1982)

Disco Filho: Holocaust – “Live (Hot Curry & Wine)” (1983)

Curiosidades: Em outubro de 1979, o Vardis lançou um EP de sete polegadas também intitulado “100 M.P.H.”, limitado em duas mil cópias e lançado pelo selo Redball Records. Além da faixa-título, o material trazia versões em estúdio de “Blue Rock”, “Destiny” “The Worlds Insane” e na bateria estava Phil Medley que tocaria novamente num material da banda apenas no disco “Red Eye” de 2016. Uma cópia original deste primeiro EP já chegou a ser anunciada por quinhentos euros.

Pra quem gosta de: Jeans e couro, velocidade, garage rock, solos, virtuose e discos raros.

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