Quando a competição por brutalidade e velocidade que o heavy metal experimentou na segunda metade da década de 1980 atingiu seu ápice, o Napalm Death surgiu para fazer estremecer todas as estruturas do mainstream. A formula era simples: vocais ininteligíveis, letras contestadoras (seja em estética ou em conteúdo), ritmo insano, guitarras produzindo riffs e servindo de massa sonora, além de um baixo que acompanhava a bateria em suas levadas à velocidade da luz .
Desde sua gênese abalou os alicerces e as convenções, não somente do heavy metal, mas também da música contemporânea, ao romper com qualquer tradicionalismo estético, dentro e fora do metal, injetando no gênero velocidade e peso descomunais à partir de 1981, quando a banda foi fundada na histórica Birmingham.
Como um dos principais arautos do grindcore ao lado do Repulsion, o Napalm Death era a velocidade, a violência e a ruptura como qualquer tipo de estética e regra, em forma de música .
Ok! Ao olharmos para os primeiro discos do Napalm Death, resumir sua musicalidade por esses preceitos é diminuir sua influência e seu espírito revolucionário. A ideia musical não era complicada, mas seu poder vinha não só da agressividade. A ousadia de misturar tudo o que fosse mais sujo, violento, crú e anti-musical, desde o punk rock escandinavo, ao hardcore norte-americano, passando pelo D-Beat do Discharge, e até o thrash metal europeu.
Somava-se à fórmula o discurso político que era urrado, contrapondo a qualquer tipo de técnica ou estética, e voilà, tínhamos um novo estilo, um grito de total insanidade contra tudo e contra todos!.
O Napalm Death é, sem duvida, uma banda ímpar dentro do heavy metal, pioneira do grindcore, mas não ancorado a ele, dando um certo tom de coerência em sua quebradeira, pulsando entre a ordem e o caos. Com o tempo o Napalm Death foi adicionando ainda mais elementos de thrash metal e de death metal em sua música cunhando uma discografia de respeito.
E é justamente dessa discografia vasta e de altíssimo nível que vamos hoje pinçar cinco discos essenciais para se conhecer do Napalm Death.
1. “FROM ENSLAVEMENT TO OBLITERATION” (1988)
Um disco com vinte e duas músicas em 1988 era no mínimo curioso. Tudo bem que os fãs do Napalm Death já haviam experimentado o álbum anterior, “Scum”, com 28 exemplos de pura brutalidade na velocidade da luz.
Esse primeiro disco da banda merecia estar na nossa lista, pois é um trabalho que muda a história do heavy metal. Pense em 1987, uma coleção de 28 músicas desfiladas em meia hora. Foi chocante!
Mas a crueza e imaturidade pode assustar alguns ouvidos incautos e novatos, além disso as composições e a produção de “From Enslavement to Obliteration”, o álbum seguinte, fez “Scum”, um disco concebido numa época de descobertas, incertezas e gravado por duas formações diferentes, soar diletante.
O trabalho de estúdio de “From Enslavement to Obliteration” permitiu até mesmos que percebêssemos o salto técnico dos músicos.
Faixas como “Evolved As One”, “Unchallenged Hate”, “From Enslavemet to Obliteration”, “Practice What You Preach” e “Mentally Murdered”, são provas disso e soam muito musicais em meio a toda a brutalidade impressa pelo Napalm Death.
Aquela proposta musical de “Scum”, sem dúvidas, foi amadurecida em “From Enslavement to Obliteration”, em 1988, numa concisão que já começa na formação: Lee Dorrian nos vocais, Bill Steer na guitarra, Shane Embury no baixo e Mick Harris na bateria. Uma das mais emblemáticas do metal extremo.
Após esse disco Lee Dorrian sairia para se dedicar ao stoner/doom metal junto ao Cathedral, e Bill Steer também desfalcaria a formação para se dedicar ao Carcass, que em 1988 também lançaria o clássico “Reek of Putrefaction”, um dos pilares do Goregrind ou splatter metal.
2. “HARMONY CORRUPTION” (1990)
Para muitos esse é o melhor disco do Napalm Death! Particularmente eu prefiro “From Enslavement to Obliteration”, simplesmente por ser o disco que me abriu as portas para a música extrema, porém não há como negar que “Harmony Corruption” completava a metamorfose do Napalm Death, formatando, enfim, sua personalidade musical.
Agora com o padrão de qualidade da produção de Scott Burns, o Napalm Death apresentava seu disco mais bem acabado, sem macular seu DNA transgressivo e ultrajante, mas dando mais espaço para o thrash metal e o death metal norte-americano (as participações de Glenn Benton e Donald Tardy confirmam isso) em seu violentíssimo grindcore. Isso fica evidente em pedradas como “Malicious Intent” e ” Circle of Hypocrisy”.
As mudanças de formação foram decisivas para o que ouvimos em “Harmony Corruption”. Após “From Enslavement to Obliteration” o quarteto se reduziu ao duo Shane Embury e o baterista Mick Harris.
Para completar o time vieram o vocalista Mark “Barney” Greenway, egresso do Benediction (onde gravou o clássico “Subconscious Terror”), e a dupla de guitarristas Jesse Pintado (oriundo do Terrorizer) e Mitch Harris (que já havia tocado com Mick no Defecation).
Ou seja, era quase um supergrupo do death metal/grindcore daqueles tempos.
Não há como negar que os vocais de Barney se encaixaram à proposta do Napalm Death de forma ainda melhor que Lee Dorrian, pois seu timbre “harmonizou” (se é que isso se aplica ao entrópico Napalm Death) perfeitamente ao instrumental mais “elaborado” e de maiores possibilidades por incluir dois ótimos guitarristas.
Mas não pense que amainaram sua brutalidade, afinal, o Napalm Death pegou o que havia de mais agressivo tanto do death metal quanto do thrash metal. Ouça o clássico “Suffer the Children” e entenda o que quero dizer.
Ignore a péssima capa e mergulhe na fórmula de brutal death metal que seria repetida à exaustão nos anos 1990.
3. “FEAR, EMPTINESS, DESPAIR” (1994)
Esse lugar seria, por direito, de “Utopia Banished”, mas gosto de apresentar nestas listas discos que mostrem faces interessantes e diferentes dos nomes que escolhemos, e com o Napalm Death não seria diferente.
“Fear, Emptiness, Despair” (1994) é uma espécie de evolução de “Utopia Banished”, não dá pra negar, ao mesmo tempo que abre as possibilidades experimentais que a banda exploraria ao menos nos próximos três discos.
Em “Utopia Banished” o Napalm Death havia registrado a confirmação de sua maturidade, investindo em algo mais sombrio, com toques industriais, mas sem perder uma grama de peso ou velocidade. Com isso a banda viu seu nome crescer em popularidade tanto com mídia quanto público. As mudanças na formação continuavam nesse disco com a saída do baterista Mick Harris, e a entrada de Danny Herrera.
Com “Fear, Emptiness, Despair” o Napalm Death pela primeira vez conseguia repetir a formação de um disco para o outro, o que deu ainda mais respaldo para estender o conceito do disco anterior e abriu espaço para movimentos mais ousados, experimentais, em meio a uma sujeira industrial que só aumentava a brutalidade de seu som. Eles chegam a usar tempos mais lentos, e esbarram no doom/death metal em passagens de “State of Mind”.
O grande destaque do repertório é “Plague Rages”, uma faixa que resume bem as intenções do Napalm Death em “Fear, Emptiness, Despair” . Outra evolução nesta fase pós-“Harmony Corruption” vinha nas letras, que começaram a chamar a atenção por falar de problemas como racismo e tecer críticas sociais com mais criatividade.
Não dá pra negar que a banda acompanhava a curva de crescimento da popularidade do metal extremo em meados dos anos 1990, uma atenção que era justificada pela qualidade de seus álbuns, pois o efeito causado pela novidade já havia passado há anos.
Nessa mesma época o Napalm Death chegou a ter problemas sérios com bandas de tendências nazistas como o Mein Kempf e o Corrosive Metal. Cabe comentar que em 1993, eles haviam gravado o emblemático EP “Nazi Punks Fuck Off”, trazendo como principal destaque um visceral cover da homônima composição do Dead Kennedys, que bradava de forma nada delicada contra os movimentos neonazistas dentro da cena punk.
4. “ENEMY OF THE MUSIC BUSINESS” (2000)
A segunda metade da década de 1990 foi complicado para as bandas das vertentes mais pesadas do heavy metal. Parece que a maioria delas resolveu experimentar novas fronteiras ao mesmo tempo. Posso te dar uma lista rápida: Slayer, Testament, Katatonia, Paradise Lost, Amorphis, Megadeth, Anathema, Tiamat, Rotting Christ, Samael… Nem o Napalm Death se salvou!
Claro que no caso deles o estrago foi bem menor, mas mesmo assim discos como “Diatribes” (1996), “Inside the Torn Apart” (1997) e “Words from the Exit Wound” (1998) dividiram a opinião dos fãs e da mídia especializada.
O fato é que o Napalm Death andou por caminhos conflituosos e confusos nesta fase. Seja em música quanto em formação. O vocalista Barney chegou a sair rapidamente do Napalm Death por diferenças musicais e entrou no Extreme Noise Terror, onde gravou o ótimo “Damage 381”, e o guitarrista Jesse Pintado começava a ter problemas sérios com abuso de álcool.
O ano de 1999 trouxe uma esperança: o EP de covers “Leaders Not Followers” recolocava musicalmente as coisas no lugar para o Napalm Death. Com a virada do milênio isso se confirmaria ao lançarem um dos melhores momentos de sua discografia: “Enemy of the Music Business”, lançado em 2000.
O recado já era dado no título e na volta do antigo logo. O primeiro diretamente para a antiga gravadora, a Earache, e o segundo para os fãs. O retorno às raízes death metal/grindcore, aquele rápido e brutal, sem firulas ou experimentalismos, era confirmado ao longo de quatorze pedradas.
Um resumo do que ouvimos em todo o disco pode ser encontrado em “Can’t Play, Won’t Pay”, e “Mechanics of Deceit”, onde o Napalm Death parece novamente ultrajante, cáustico, com a faca nos dentes e com sangue nos olhos!
Na sequência, “Order of the Leech” confirmaria que a tal fase experimental havia acabado, sendo outro título que poderia estar em nossa lista.
5. “TIME WAITS FOR NO SLAVE” (2009)
A verdade é que o Napalm Death passaria a primeira década do novo milênio repetindo, disco após disco, a fórmula de “Enemy of the Music Business”. O que não é nenhum demérito, pois renderia discos como “The Code Is Red… Long Live the Code” (2005) e “Smear Campaign” (2009).
Ambos poderiam estar aqui listados, mas vou destacar “Time Waits for No Slave” pela simples razão do Napalm Death fazer exatamente isso, mas trazer também uma oxigenação para essa fórmula através do equilíbrio dos aspectos diferentes de sua música com muita criatividade.
Esse já era o décimo quarto disco de estúdio da banda e trazia composições mais elaboradas, maiores, indo do death metal ao hardcore através dos riffs poderosos e agressivos, além da bateria avassaladora, numa variedade instigante como ouvimos em “Work to Rule” e “Downbeat Clique”.
Em “Time Waits For No Slave” o Napalm Death entrega uma versão atualizada do que exatamente se espera de um nome com o seu legado, se destacando neste período mais recente da carreira que tem em “Apex Predator – Easy Meat” (2015) o mais recente álbum de inéditas.
Mas cabe destacar também a coletânea “Coded Smears and More Uncommon Slurs” (2018), com b-sides e faixas presentes em edições exclusivas lançadas entre 2004 e 2015 que é imperdível para admiradores da arte brutal do Napalm Death.
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