“Blood Fire Death”, clássico quarto disco da banda Bathory que inaugura o Viking Metal, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO, cuja proposta você confere nesse link.
Definição em um poucas palavras: Guerra, Guitarra, Pesado, Pioneiro, Sombrio, Viking, Mão do Capeta.
Estilo do Artista: Black/Viking Metal
Comentário Geral: Thomas Börje Forsberg, real nome do lendário Quorthon, tem importância gigantesca dentro do heavy metal. Líder do Bathory, banda que retirou seu nome da demoníaca condessa húngara, forjou junto a outros importantes nomes, os primeiros acordes do que viria a se tornar o Black Metal, ao lançar os álbuns “Bathory” (1984), “The Return” (1985) e “Under a Sign of the Black Mark” (1986).
Formada em Estocolmo, na Suécia, no ano de 1983, o Bathory tinha Quorthon como seu multi-instrumentista e acredita-se que a banda sempre foi uma one-man-band, dedicada ao black metal em seu início. Mas Quorthon advertia que o Bathory “nunca foi uma banda satânica, mas sempre foi anti-critã”.
O fato do Bathory ser centralizada em Quorthon lhe dava total liberdade criativa dentro de sua mente à frente de seu tempo, vindo a ser mais visionário e vanguardista que seus asseclas de estilo musical. Uma questão que sempre assombrou o Bathory, ainda na “pitoresca” foto na parte interna de “Blood Fire Death”, era quanto a formação que gravava os discos. Quorton falou sobre isso em uma entrevista no ano de 2001:
“Já disse isso milhões de vezes e não sei de quantas maneiras mais posso dizer isso. Eu toco guitarra e baixo, além de fazer todos os vocais com um amigo meu me ajudando com a bateria e a bateria eletrônica. O Bathory é um projeto de estúdio 100% e tem sido desde 1989. Se isso agradar a qualquer um, posso inventar muitos nomes só para agradar a todos que me perguntam nomes de line-ups o tempo todo. Permita-me usar apenas um exemplo do passado. Quando gravamos o primeiro álbum, a formação original tinha acabado de se separar. Os outros dois membros originais não estavam interessados em continuar. Eles queriam fazer outras coisas na vida e seu interesse era mais voltado para o heavy metal mainstream.
“O número de cartas de fãs em resposta às duas faixas da compilação ‘Scandinavian Metal Attack’ que fizemos em janeiro de 1984 foi interminável. A gravadora nos pediu para escrever material para um álbum completo. Mas não houve escalação.
“Ninguém nunca havia pensado na banda como algo sério. Não tínhamos ambições de fazer discos ou de fazer um nome para nós mesmos. Só queríamos nos divertir no local de ensaio e tocar para fazer barulho.
“Para gravar aquele primeiro álbum, pedi a alguns amigos meus que me ajudassem. Eles eram punks e se adaptaram facilmente ao estilo. Afinal, a origem do Bathory é uma mistura do início do Black Sabbath, do início do Motorhead e do início do GBH. Passamos apenas 56 horas gravando o primeiro álbum. Ficamos felizes por ter feito um álbum. Éramos garotos de merda que acabavam de sair da escola. Eu nem poderia ter sonhado com o que sairia dessa estreia.
“Quando o primeiro álbum se tornou um tremendo sucesso, e foi decidido que deveríamos fazer um segundo álbum, eu ainda não pensava no Bathory como algo que continuaria no século 21.
“Na época, a tendência dominante na Suécia era o som e o estilo do Europe. Cada idiota que veio ao local de ensaio para fazer o teste, olhou e tocou aquela merda. Não importava que tivéssemos um contrato de gravação, as pessoas simplesmente não queriam suar e usar couro preto com spikes. Eu escolheria toneladas de baixistas e bateristas entre 1984 e 1988. Quando alguns dos álbuns foram gravados, eu provavelmente gravei 50% do baixo dos discos.
“Quando um álbum era lançado, a questão era se realmente deveríamos confundir aqueles que o compraram ao listar na capa um conjunto de nomes de pessoas que não estavam mais na banda. Eles podem ter tocado nas faixas, mas decidiram que o metal comercial era o seu negócio e, conseqüentemente, saíram logo após a gravação ou mesmo durante a produção. Decidi apenas lançar os álbuns sem nomes e fotos.
“Ainda assim, alguém teve que responder a perguntas ao falar com os fanzines que nos escreveram e pediram entrevistas. Era natural que eu respondesse às perguntas e, ocasionalmente, minha foto aparecesse nas entrevistas.
“No momento em que realmente tínhamos uma formação estável que permaneceu junto por mais de 6 meses e pudemos colocar uma foto da formação e nomes em um álbum (‘Blood Fire Death’), as pessoas estavam tão acostumadas com a merda problema de banda de um homem só. Eles apenas deduziram que a sequência de fotos era falsa. Percebi então que não importava o que disséssemos ou fizéssemos, as pessoas decidem por conta própria sobre as coisas. Então parei de me preocupar com toda essa merda.
“E ainda estou surpreso que as pessoas estejam interessadas em saber o nome de alguém que pode ter tocado bateria nesta ou naquela música. Eu nem me lembro de seus nomes e não me importo em lembrar.”
Desta forma, seguiu na contra-mão dos principais nomes do black metal de sua época, dando impulso a um novo estilo dentro do Heavy Metal.
“Blood Fire Death” foi lançado no ano de 1988 e era o quarto álbum da banda sueca. A mudança já era notória na capa do álbum que trazia uma imagem fora dos padrões minimalistas de outrora, além de algumas novidades no que diz respeito a sonoridade e nas composições de Quorthon.
Podemos dizer que este é o marco zero do Viking Metal, ou seja, aqui “nasce” um novo sub-gênero metálico. Particularmente, considero este o melhor álbum do Bathory, sendo, possivelmente, alcançado somente por “Hammerheart”. As mudanças vieram inspiradas pela resposta dos fãs a duas faixas do álbum anterior, “Under a Sign of the Black Mark”, como disse Quorton em entrevista:
“Nosso terceiro álbum, ‘Under a Sign of the Black Mark‘, continha algumas faixas, ‘Enter the Eternal Fire’ e ‘Call from the Grave’, que receberam respostas positivas de nossa base de fãs. Eles pediram mais coisas assim. Então desenvolvemos isso um pouco mais em nosso quarto álbum ‘Blood Fire Death’ com faixas como ‘Odens Ride over Nordland’, ‘A Fine Day to Die’ e ‘Blood Fire Death'”
O saudoso mentor intelectual do Bathory continua a explicar a construção de “Blood Fire Death” e sua repercussão de público e crítica:
“…as coisas naquele álbum foram organizadas de forma diferente. Começamos a organizar nossa música em camadas, incorporando camada de vocais de apoio, guitarras acústicas e uma profundidade atmosférica. Isso foi muito apreciado pelo nosso público. Começamos a vender muito mais álbuns, receber muito mais cartas de fãs e as revistas pararam de nos chamar de clones do Venom. Considerando que eu nunca tive um álbum do Venom em toda a minha vida, parecia estranho ser apelidado de uma cópia de algo que você não sabia absolutamente nada.”
Ao primeiros giros do vinil somos apresentados ao cavalgar dos deuses vikings em “Odens Ride over Nordland”, introdução emoldurada por orquestrações e finalizada com o soprar do vento que apresentará a canção “A Fine Day to Die”. Um clássico do heavy metal, a introdução desta canção traz elementos novos ao estilo, como andamentos acústicos e os inesperados vocais limpos de Quorthon. Os primeiros passos da música nos parecem longínquos, mas se aproximando aos poucos, até culminar numa violência baseada no Black Metal clássico dos discos anteriores. O riff aqui apresentado é genial, as incursões acústicas e atmosféricas são arrepiar o fã de uma boa composição musical, que ainda nos oferece corais em contraste à violência do solo de guitarra, confeccionando uma textura diferenciada dentro do som da banda.
“The Golden Walls of Heaven” segue a escola do Black Metal com bastante violência musical, riffs cortantes e velocidade desmedida, além do vocal rasgado. Os versos desta canção apresentam um acróstico com a primeira letra de cada linha formando a palavra “SATAN” (repetida 8 vezes). As seguintes “Pace ‘till Death” e “Holocaust” seguem a escola do black metal tradicional, ou seja, rápido, ríspido e brutal, com solos inspirados e à velocidade da luz.
Virando o vinil temos o clássico absoluto “For All Those Who Died”. Uma faixa black metal, completamente cadenciada, com um riff de guitarra mortal e que termina dando espaço à pesadíssima Dies Irae. Pesada, tanto musical quanto liricamente. Mais uma vez, Quorthon faz uso de acrósticos e, neste caso, a primeira letra de cada linha formam a frase na vertical “CHRIST THE BASTARD SON OF HEAVEN” (Cristo, o filho bastardo do paraíso).
Todo este caminho foi uma preparação para a melhor canção do álbum. A faixa-título se apresenta com inspirações folk e um riff fantástico, aliado a vozes lúgubres ao fundo. Como se não bastasse, temos solos de guitarras primorosos e um desfecho folk de arrancar lágrimas, com vozes inspiradíssimas, voltando ao riff inicial, com peso e terminando o álbum como houvera iniciado, trazendo a mesma linha folk da primeira faixa em fade-out. Assim, de modo periódico, termina um dos clássicos absolutos do Black Metal e que inaugura o Viking Metal.
Muitos podem contestar, alegando que o álbum seguinte, “Hammerheart”, é mais inspirado pela cultura viking do que este, mas a essência que deu origem a “Hammerheart” está aqui. Por tudo isso que escrevemos, além das belas composições, VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO!
Ano: 1988.
Top 3: “A Fine Day To Die”, “For All Those Who Died” e “Blood Fire Death”.
Formação: Quorthon (vocais, guitarras, percussão, efeitos), Kothaar (baixo), Vvornth (bateria).
Disco Pai: Manowar – “Into Glory Ride” (1983)
Disco Irmão: Enslaved – “Frost” (1994).
Disco Filho: Primordial – “To the Nameless Dead” (2007).
Curiosidades: Um dos grandes destaques do álbum é sua capa criada pelo pintor norueguês Peter Nicolai Arbo, cujas obras são baseadas na Mitologia Nórdica. Esta pintura que estampa a capa de “Blood Fire Death” é chamada “The Wild Hunt of Odin” (Åsgårdsreien – 1872), que em tradução livre seria “A Caçada de Odin”.
Pra quem gosta de: Mitologia nórdica, vikings, paisagens escandinavas, carne vermelha, armas medievais e cerveja escura.
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