“Monuments” é o quinto álbum de estúdio da banda islandesa de hard/classic rock Vintage Caravan, lançado em 2021, e que chega ao Brasil numa edição em slipcase à cargo do selo Hellion Records.
Este quinto álbum do Vintage Caravan em dez anos apresenta uma banda ainda mais madura e consciente musicalmente dentro de sua proposta valvulada de amalgamar rock progressivo com heavy rock enquanto atrita o vintage com o moderno.
Desde 2006, quando foi fundado, o Vintage Caravan está mostrando uma evolução vertiginosa.
Seu primeiro, auto-intitulado e hoje raríssimo primeiro disco foi um cartão de visitas poderoso, que chamou a atenção de grandes selos europeus, em especial a Nuclear Blast que assinou com a banda e por onde lançariam seus próximos três discos.
Na sequência, com “Voyage” o jovem trio islandês se estabeleceu como uma das grandes revelações do rock de cores vintage em sua geração, muito pela alta capacidade técnica e pelo feeling do guitarrista e vocalista Óskar Logi Ágústsson em desdobrar o rock progressivo com energia e ferocidade do hard rock.
“Arrival”, o terceiro trabalho, impressionou pela maturidade que o trio atingia em tão pouco tempo, sendo capaz de misturar o classic rock, o heavy metal e o rock progressivo como poucos são capazes de fazer na atualidade, investindo em complexidade entremeada a melodias certeiras.
A dúvida que pairava sobre o próximo passo dos islandeses foi dirimida com o diferente “Gateways”, lançado em 2018 pela Nuclear Blast e que ampliava suas influências, mostrava evolução do trio como compositores, mas soava errático no direcionamento.
Mantendo o ritmo de um álbum a cada dois ou três anos aproximadamente, o Vintage Caravan oferece mais um capítulo de sua discografia, agora por nova gravadora, a Napalm Records.
E até pela capa do disco fica evidente que eles não pretendem investir em novidades, além de inspirar uma retomada daquilo que estava funcionado bem antes de “Gateways”.
É fato que nos movimentos graves, mais afinados ao stoner, o Vintage Caravan sempre cai no lugar comum, mas ainda assim, cada composição deste grupo traz um detalhe que equilibra o mais do mesmo com o brilhantismo das influências de Led Zeppelin, Rush e Gentle Giant.
Sendo assim, temos novamente as viagens psicodélicas entrelaçadas a solos e riffs nervosos, algumas experimentações inspiradas no blues, e um acachapante peso groovado gerando passagens encorpadas e climas mais sombrios, tudo envolto num espírito progressivo, obscurecido por sonoridades metálicas.
Até por isso, “Monuments” é a sequência musical lógica de “Arrival”, pois deixa de lado algumas explorações melódicas feitas em “Gateways” e dá um passo atrás rumo aos seus discos anteriores, buscando novamente pela incisividade de sua música.
Desta forma, temos baixo e bateria dobrando os riffs de guitarra por diversas vezes, sendo um dos pontos que geram uma energia poderosa para as composições junto com os refrãos certeiros e cativantes (como o de “Can’t Get You Off My Mind”), até mesmo nas ótimas baladas, onde mostram que a técnica pode ser empregada junto com o feeling.
Desnecessário chamar a atenção para o trabalho de guitarras de Óskar Logi Ágústsson (ele rouba a cena já na segunda música), pois ele é um dos caras com mais feeling na sua geração (tente não se emocionar com o solo da belíssima balada “This One’s For You”).
Vou enaltecer aqui o baterista Stefán Ari Stefánsson, que tem domínio técnico, mas principalmente muita sensibilidade para dar o ritmo e a energia que a música pede. Ouça “Forgotten” com atenção às suas linhas e perceba como ele é a força-motriz da música.
Por tudo isso, simplesmente não entendo mesmo como uma banda “tanga-frouxa” como o Greta Van Fleet tem mais espaço do que uma banda vibrante, honesta e forte como o Vintage Caravan.
Cabe ressaltar a produção afiadíssima, que potencializou os momentos positivos do disco, como “Whispers” (abertura explosiva), “Crystallized” (vão do blues ao heavy metal passando pelo fusion e pelo progressivo em menos de seis minutos), “Dark Times” (com ritmo acelerado e melodias dobradas), “Hell” (com sabor de prog rock acentuado) e “Clarity” (uma balada prog que faz de sons imagens em nossas mentes).
Eles conseguiram retomar o equilíbrio de sua fórmula musical, reparando alguns desvios de personalidade praticados em “Getaways” (isso desde aquela capa estranha), mas, também, apararam as arestas antigas com muita maturidade.
Mesmo assim, seguindo o que aprendi no disco anterior, vou com mais calma desta vez. “Getaways” foi um disco que me impressionou num primeiro momento, mas depois foi perdendo força e hoje é o trabalho que menos gosto do Vintage Caravan, simplesmente pela personalidade alterada das suas composições.
Por isso, com muita cautela, direi que “Monuments” tem potencial para ser o melhor álbum do Vintage Caravan!
Vamos ver o que o tempo dirá.
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