The Gathering – “Nighttime Birds” (1997) | Você Devia Ouvir Isto

 

“Nighttime Birds”, clássico primeiro disco da banda THE GATHERING, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTOcuja proposta você confere nesse link.

The Gathering - Nighttime Birds

Definição em um poucas palavras: Gótico, invernal, melancólico, vocais femininos, agridoce, etéreo e sombrio.

Estilo do Artista: gothic/progressive metal

Comentário Geral: Formado em 1989, na Holanda, rapidamente o Gathering se tornou a banda de maior expressão em seu país, graças a discos como “Nighttime Birds” (1997) e “How to Measure a Planet?”(1998), que levaram-os a um patamar elevado dentro metal europeu.

Mas para entender como “Nighttime Birds” foi importante para a cena do metal noventista, precisamos voltar um pouco no tempo. Afinal, esse sucesso começa no disco “Mandylion”, lançado em 1995 e que trazia como trunfo os vocais da fantástica cantora Anneke Van Giersbergen emoldurados por um doom metal de tonalidades épicas e texturas valvuladas.

A chegada de Anneke Van Giersbergen permitiu à banda explorar uma face mais limpa dos cânones do doom metal, inserindo seu legado de peso chapado numa proposta moderna, de timbres crús e agressivos, junto a uma base de teclados e pontuais efeitos que envolviam toda essa musicalidade numa vibração ethereal/darkwave.

Neste sentindo, “Nighttime Birds” era o segundo disco da vocalista com a banda e finalizava a transmutação do death/doom metal de “Always…” (1992) ao gothic metal que ouvimos nas suas nove composições, baseadas em melodias introspectivas e que deixavam evidente que o heavy metal não era o único campo de influência da música do Gathering.

No caminho discográfico do The Gathering, “Nighttime Birds” já era o quarto disco de estúdio da banda, gravado no Woodhouse Studios, em Hagen, na Alemanha, entre 17 de fevereiro e 15 de março de 1997, sob a orientação do produtor Siggi Bemm, e lançado em 15 de maio de 1997, pela Century Media Records.

Quando perguntado, em entrevista de 1997, sobre as diferenças entre “Mandylion” (1995) e “Nighttime Birds” (1997), René Rutten observou que:

“Acho que o álbum atual é mais sofisticado e maduro. Você pode ouvir isso na música também. Conversamos sobre cada componente do som geral, cada minuto da música. Por exemplo, quanta voz de Anneke deve estar em primeiro plano entre guitarras e teclados ou algo assim. “Mandylion”, por outro lado, era mais uma única grande música, um único acontecimento, o álbum inteiro.”

Outra diferença imediata entre os dois discos mora nas letras, pois deixaram a temática de perdas humanas de lado e focaram o tema de “Nighttime Birds” na natureza universal, sendo nas belíssimas letras escritas por Anneke van Giersbergen.

Alias, mesmo antes de começar a trabalhar no disco, a banda já tinha o título do álbum. “Quanto ao título em si: não tem nada a ver com vampiros voando à noite, ou qualquer coisa assim, como você pode pensar. É apenas uma bela expressão em inglês e soa bem”, explicou René Rutten, que completou a explicação sobre o tema da faixa-título, escrito por Anneke: “É sobre pássaros que precisam voar milhares de quilômetros para hibernar em um lugar quente. Isso é tudo. Nada profundo, nada chocante.”

“Nighttime Birds” é um disco que se vale do atrito de opostos. É pesado, mas melódico. Sutil, mas impactante. Com vários riffs de guitarra abordados de uma forma completamente diferente, criando uma atmosfera que conflita com os vocais expressivos de Anneke. Um disco progressivo, imerso numa psicodelia shoegaze, mas com refrões simples e cativantes.

A produção conseguiu ampliar o clima invernal, melancólico e frio das composições, cujo calor e brilho de luz vem do vocal de Anneke, sendo que seu estilo já está bem encaixado à musicalidade do The Gathering após dois anos de entrosamento entre vocalista e banda.

“Nighttime Birds” é um disco emblemático dentro do metal atmosférico, que além de clássicos da obra do The Gathering, como “Kevin’s Telescope”, “Shrink”, e a própria faixa-título, ainda traz algumas pérolas escondidas, como “New Moon, Different Day”, que trouxe algo do Dead Can Dance para o jogo musical da banda.

Musicalmente, “Nighttime Birds” é o disco mais emocional do catálogo destes holandeses, onde as palavras se fazem sons, e os sons desenham imagens cheias de sentimentos e texturas agridoces, na fronteira entre o doom/gothic metal e o prog rock (por onde, aliás, passeiam em faixas como “The Earth Is My Witness” e “Third Chance”).

Como era de esperar num disco etéreo, progressivo e sombrio, os teclados possuem um papel importante, não só na ambientação, mas também com protagonismo em algumas inserções de hammond e para mostrar que estavam rumando sem volta para a exploração progressiva. “The May Song” e “Nighttime Birds”, por exemplo, traziam algo de Pink Floyd misturado ao Tiamat de “Wildhoney” (1994).

Claro que estamos falando de um disco de heavy metal, por mais etéreo e climático que ele seja, e até por isso, a cama de guitarras merece atenção, pois são elas que dão a profundidade e a densidade ao disco, através de harmonias lentas e pesadas, sustentadas nos preceitos do doom metal (bem marcados em “On Most Surface”).

E justamente a abordagem dos dois guitarristas que faz deste o último disco definitivamente heavy metal do The Gathering, marcando o fim de uma era para a banda e sendo um de seu melhores discos da carreira.

Todavia, nem mesmo a mudança da musicalidade doom metal de “Mandylion” (1995) para a melodia introspectiva de “Nighttime Birds” (1997) preparou os admiradores dos holandeses para a exploração mais progressiva que se seguiria em “How To Measure A Planet?” (1998), “If_Then_Else” (2000) e “Souvenirs” (2003), esbarrando em elementos do trip hop e do shoegaze, sem cerimônias. Mas isso é assunto para outro artigo, que você lê aqui.

Aproveite que a Shinigami Records relançou este disco clássico do metal noventista no mercado nacional e vá atrás, pois, de fato, você devia ouvir isto!

Ano: 1997

Top 3: “Kevin’s Telescope”, “Shrink” “New Moon, Different Day”.

Formação: Anneke van Giersbergen (vocais), Jelmer Wiersma e René Rutten (guitarras), Hugo Prinsen Geerligs (baixo), Frank Boeijen (teclados) e Hans Rutten (bateria)

Disco Pai: Tiamat – “Wildhoney” (1994)

Disco Irmão: Anathema – “Alternative 4” (1999)

Disco Filho: Madder Mortem  – “Mercury” (1999)

Curiosidades: A faixa-título traz uma citação de uma “Raga Kafi”, uma música indiana que pode ser ouvida no parque temático holandês Efteling, no conto de fadas de “The Flying Fakir”, além de uma citação direta ao filme “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (1971).

Pra quem gosta de: contemplar a natureza, inverno, sabores agridoces, vinho e pensar na vida.

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