The Gathering – “How To Measure A Planet?” (1998) | Você Devia Ouvir Isto

 

“How To Measure A Planet?”, quinto disco da banda THE GATHERING, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTOcuja proposta você confere nesse link.

The Gathering - How To Measure A Planet Resenha Review relançamento Shinigami Records Century Media

Definição em um poucas palavras: experimental, ousado, espacial, psicodélico.

Estilo do Artista: Atmospheric Rock.

Comentário Geral: A transformação musical que o Gathering sofreu com a chegada de “How To Measure a Planet?” em novembro de 1998 foi tão chocante que pegou a todos de surpresa, gerando uma divisão na opinião dos fãs da época.

A banda formada uma década antes pelos irmãos Hans Rutten e René Rutten na cidade de Oss, na Holanda caminhou do death/doom metal ao gothic metal, partindo do primeiro disco, “Always…” (1992), até o lançamento de “Nighttime Birds” (1997).

Neste caminho, o Gathering sempre deixou claro que o heavy metal não era o único campo de influência de sua música, mas, mesmo assim a metamorfose acontecida nos discos seguintes, “How To Measure A Planet?” (1998), “If_Then_Else” (2000) e “Souvenirs” (2003), foi ousada.

Nem mesmo a mudança da musicalidade doom metal de “Mandylion” (1995) para a melodia introspectiva de “Nighttime Birds” (1997) preparou os admiradores dos holandeses para a exploração mais progressiva que se seguiria, esbarrando em elementos do trip hop e do shoegaze, sem cerimônias.

Ficara nítido que os músicos da banda estavam mergulhando na sonoridade vanguardista de discos como “Ok Computer”, do Radiohead, e “Mezzanine”, do Massive Attack, além de claramente estar absorvendo texturas e abordagens de bandas diversificadas como Portishead (como na psicodelia fantasmagórica, esfumaçada e hipnótica de “Frail”), Pink Floyd, Slowdive (como nas texturas orgânicas e febris de “Great Ocean Road”), Dream Theater, Cocteau Twins, Sigur Rós, Dead Can Dance e Spiritualized.

Ou seja, o Gathering resolvia romper de vez as fronteiras do heavy metal e se aventurar sem preconceitos musicais ou amarras no musicalidade mais moderna que era executada nos anos finais da década de 1990.

Além disso, faixas como “Rescue Me” (com guitarras pesadas à seu modo), “The Big Sleep” e “My Electricity” (uma releitura do Dead Can Dance pela estética do Slowdive), são três momentos que fazem  de “How To Measure a Planet?” um dos discos mais melancólicos do catálogo do Gathering.

O grande destaque por aqui sem dúvidas vai para “Liberty Bell”, uma faixa que parece misturar o Black Sabbath com o Cocteau Twins numa espessa névoa shoegaze cheia de blips e blops. Talvez, apenas a psicodelia sinuosa de “Locked Away” e a épica viagem da faixa-título possam rivalizar com ela como melhores momentos do disco.

Outros bons momentos do repertório estão em “Red Is a Slow Colour”, com arranjos densos e belos; “Marooned” e suas bases de trip hop“Travel”, uma longa balada experimental que joga peso nas influências de Radiohead; e o sombrio e enigmático experimentalismo à lá Pink Floyd de “South American Ghost”.

Quando perguntado sobre o estilo da banda neste disco, o baterista Hans Rutten refletiu:

“Eu não sei … Eu ainda amo metal, bandas de metal progressivo como Prong, Voivod, bandas que se desenvolvem, o que é na minha opinião muito, muito bom. Mas é música, então é só … categorizar, como sempre, eu odeio! Algumas músicas do ‘How to Measure A Planet?’ são metal, algumas são psicodélicas, outras são realmente melódicas …”

Contribui para esse redirecionamento “radical” da musicalidade do Gathering a saída do guitarrista Jelmer Wiersma, deixando apenas o fundador René Rutten responsável pelo instrumento e abrindo espaço na musicalidade para a inserção de novos elementos.

Neste longo disco duplo, o Gathering explorava todas as nuances da psicodelia moderna dentro de sua identidade musical, reinventando a forma com que criava as camadas de suas músicas.

Neste sentido, o produtor Attie Bauw foi importante para dar o tom exato de “How To Measure A Planet?”, na impressão orgânica do timbres,  que a forma detalhista, sombria e “espacial” da nova roupagem do Gathering exigia.

Além disso, Attie foi o responsável pelas programações eletrônicas, percussão e por vários arranjos. Nesse âmbito, é interessante observar que a orientação dos teclados ficou menos atmosférica e mais psicodelicamente experimental.

O baterista Hans Rutten, que aliás se destaca em todas as músicas, deu sua visão sobre esse caráter em entrevistas da época:

“Frank [Boeijen, teclados] e nosso produtor Attie tiveram muitas ideias para experimentar, e fizemos muito isso … Acho que os teclados são muito atmosféricos, mas de outra maneira; este álbum é diferente de ‘Nighttime Birds’, então fizemos outra coisa.”

“How To Measure a Planet?” foi gravado entre julho e outubro de 1998, nos estúdios holandeses Bauwhaus Studios e Wisseloord Studios, e assim como os grandes discos de psicodelia progressiva fortemente experimentais é um trabalho que necessita de tempo para assimilação de suas camadas e nuances, que vão das melodias sutis e acessíveis às experimentações psicodélicas quase surrealistas.

Em suma, “How To Measure a Planet?” é um álbum ousado e inovador que ultrapassou a fronteira entre o heavy metal dos primeiros álbuns do Gathering e as nuances inexploradas do post-rock e do post-metal.

Quando questionado sobre o estilo que o Gathering praticava em “How To Measure A Planet?”Hans Rutten declarou à época que: “…talvez uma espécie sombria de doom rock.”

Ele continua refletindo sobre a diversidade do álbum de forma mais profunda:

“Eu acho que é muito diverso; temos canções como ‘Liberty Bell’ e ‘Rescue Me’, que são canções típicas do Gathering para mim, e no segundo CD, você tem músicas como ‘Probably Built in the Fifties’, que é muito pesada, ou ‘Illuminating’, que é outra música típica do Gathering; mas a canção-título “How to Measure a Planet?”, que também está no CD 2, dura 28 minutos, sendo uma paisagem sonora épica e muito longa, uma espécie de viagem psicodélica. Há muita diversidade neste álbum, eu acho que você não pode dizer que é apenas psicodélico; algumas músicas são bem curtas e, por exemplo, “Frail”, a música de abertura, é bem “descontraída” – queríamos abrir este CD de uma forma bem descontraída, porque sempre abrimos de uma forma muito pesada, e acho que estamos um pouco fartos de tocar apenas guitarras pesadas; para nós, não é mais empolgante – sim, é por isso que fizemos esse álbum diverso, eu acho.”

Claro que esta diversidade defendida pelo baterista não agradou muitos fãs do lado mais heavy metal do Gathering, mas abriu sua música para uma nova base de fãs, tanto que “How To Measure A Planet?” vendeu três vezes mais que qualquer um de seus predecessores.

Este disco recebeu um relançamento primoroso no Brasil à cargo do selo Shinigami Records em parceria com a Century Media, numa edição limitada a 300 cópias. Vá atrás, pois você devia ouvir isto!

Ano: 1998

Top 3: “Liberty Bell”, “Locked Away”, e “How To Measure A Planet?”.

Formação: Anneke van Giersbergen (vocais, violão), René Rutten (guitarra, theremin, didgeridoo), Frank Boeijen (teclados), Hugo Prinsen Geerligs (baixo) e Hans Rutten (bateria).

Disco Pai: Slowdive – “Souvlaki” (1993)

Disco Irmão: Paradise Lost – “Host” (1999)

Disco Filho: Anathema – “A Fine Day to Exit” (2001)

Curiosidades: O início da faixa-título inclui um diálogo entre o cientista aerospacial russo Korolyov e o histórico cosmonauta soviético Yuriy Gagarin, o primeiro humano a viajar ao espaço. O diálogo foi registrado durante o primeiro vôo ao espaço da humanidade, em 12 de abril de 1961.

Pra quem gosta de: Ficção científica, livros sobre ciência, psicodelia, novidades tecnológicas e teremim.

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