Rainbow – Resenha de “Live In Munich 1977” (2013, 2020)

 

“Live in Munich 1977” é um disco ao vivo da clássica banda britânica Rainbow, captado em 20 de outubro de 1977, na cidade de Munique, originalmente registrado para ser exibido no canal de TV alemão WDR em seu clássico programa Rockpalast.

Após circular por mais de duas décadas como um bootleg, parte do show foi lançado em CD e em DVD em 2006, posteriormente também em vinil, até ser relançado em 2013 nas duas mídias digitais, agora sem os cortes da versão anterior.

Rainbow - Live In Munich 1977 (2020, Shinigami Rec)

Essa edição que temos em mãos e analisaremos é a que foi lançada no Brasil em 2020, pelo selo Shinigami Records em parceria com a earMUSIC, que de cara impacta pelo belíssimo formato digipack embalando o CD duplo, acompanhada de um encarte recheado de fotos e informações.

É bom lembrar que o Rainbow é uma banda que detém um dos grandes discos ao vivo da história do rock gravado na mesma turnê que passou por Munique, em 1977.

Logo após o lançamento de “Rising”, em julho de 1976, o grupo liderado por Ritchie Blackmore, à época egresso do Deep Purple, saiu em turnê, partindo dos Estados Unidos, passando pela Inglaterra e o restante da Europa até finalizá-la na Austrália e no Japão.

Deste percurso, as apresentações de setembro na Alemanha e de dezembro, no histórico Budokan, no Japão, foram registradas para aquele que se tornaria o primeiro ao vivo da banda, “On Stage”, lançado em julho de 1977.

Nesse sentido, “Live In Munich 1977” funciona como um complemento de “On Stage” no sentido histórico de mostrar a banda capitaneada por Ritchie Blackmore e Ronnie James Dio em seu auge.

As diferenças principais entre os dois discos residem na formação. No show de Munique já traziam o baixista Bob Daisley (no lugar de Mark Clarke e formando uma das melhores seções rítmicas da história do rock ao lado de Cozy Powell) e o tecladista David Stone (que substituiu Tony Carey).

Esse show na Alemanha aconteceu seis meses antes do lançamento do disco “Long Live Rock N’ Roll” (1978), mas como as composições já estavam prontas, tínhamos no repertório performances explosivas de “Kill the King” (que já havia aparecido no repertório de “On Stage” e abre o show em Munique num ritmo vertiginoso) e da faixa-título.

Musicalmente, “Live In Munich 1977” registra um Rainbow na vanguarda do heavy rock setentista, com Ritchie Blackmore extrapolando o conceito musical elástico e pesado que já empregava no Deep Purple, mas de uma forma mais intensa e visceral.

Isso fica nítido das esticadas jams de “Catch The Rainbow”, “Man On A Silver Mountain” (onde Blackmore mostra sua verve blues numa jam espetacular), “Sixteenth Century Greensleeves” e nos quase trinta minutos de “Still I’m Sad” (com o tecladista mostrando sua reverência a Jon Lord e Keith Emerson), onde o guitarrista extrapolava suas habilidades musicais de uma forma que o Deep Purple não permitia, como a própria “Mistreated” mostra já no início do show.

Uma história interessante sobre Blackmore nesse show é que ele havia sido preso na Áustria por se desentender com um fã e depois, supostamente, quebrar o maxilar de um dos policiais no show de Viena, em 18 de outubro.

Enquanto a banda rumava para Munique, Blackmore estava preso e as autoridades austríacas relutavam tanto em libera-lo que chegou-se a cogitar o adiamento do show da Alemanha.

Porém, como o show tinha um contrato de exibição com a TV alemã, o cancelamento foi descartado e a apresentação foi adiada do dia 19 de outubro para o dia seguinte.

Ritchie Blackmore chegou atrasado para o show, como a mesma roupa de três dias e faminto. Subiu ao palco e desfilou toda a sua música com técnica e raiva, desde as linhas rápidas de “Kill the King” até quebrar sua guitarra no fim do set.

Voltando ao show, outros clássicos mais explosivos e diretos como “Kill the King”, “Long Live Rock N’ Roll”, “Sixteenth Century Greensleeves” e obviamente “Kill the King” nos permite admirar o poder e a técnica espontâneos que emanavam da bateria de Cozy Powell (que explode num solo visceral em “Still I’m Sad”).

Claro que não é necessário discorrer sobre a maestria de Ronnie James Dio nos vocais. Seu timbre ainda inalterado pelo tempo é uma das marcas do heavy rock setentista.

Sua voz firme firme consegue ser poderosa e elegante ao mesmo tempo. “Catch the Rainbow” é uma prova disso, mas ouça a versão de “Mistreated”, do Deep Purple, aqui presente, com a devida atenção e tente não reverenciar esse mestre.

Outra história interessante é que na jam de “Man On A Silver Mountain” Dio insere o embrião de uma composição chamada “Night People” e que apareceria somente em sua carreira solo na década seguinte.

Obviamente o repertório carecia de músicas como “Tarot Woman”, “Startruck” (que até aparece rapidamente no meio da jam de “Man on a Silver Mountain”) e “Stargazer”, e elas caberiam aqui se enxugassem as longas digressões instrumentais.

Mas assim era o rock nos anos 1970 e realmente não dá pra reclamar do que ouvimos, pois isso é a história do rock registrada em alto e bom som!

Faltou um DVD nessa edição nacional? Faltou. Mas isso não tira o grande mérito do resultado final!

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2 comentários em “Rainbow – Resenha de “Live In Munich 1977” (2013, 2020)”

  1. Marcelo Lopes Vieira

    Olá Marcos Tulio, sou obrigado a concordar com você. Aliás, gosto mais desse ao vivo do Rainbow do que do “On Stage”, que tenho aqui no acervo em vinil! Parabéns pela compra, essa edição está lindíssima!

  2. Acabei de comprar o cd na Locomotiva Discos, é um dos melhores “Live” album de todos os tempos, histórico e obrigatório!!

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