Lik – Resenha de “Misanthropic Breed” (2020)

 

Se você também gosta daquele característica sonoridade old school do death metal sueco, perpetrado por bandas como Entombed, Carnage, Dismember, Grave, Edge of Sanity e Unleashed, então você tem a obrigação de conferir “Misanthropic Breed”, álbum da também banda sueca Lik (cujo nome significa “corpos” em sueco).

O quarteto foi fundada em 2014 e conta com integrantes do Katatonia (Niklas Sandin, que aqui toca guitarra e Tomas Åkvik, que já tocou coma banda o vivo) e do Witchery (o baterista Christofer Barkensjö), sendo “Misanthropic Breed” seu terceiro full lenght.

De antemão, preciso enaltecer o cuidado com os detalhes da edição nacional de “Misanthropic Breed”, à cargo do selo Mindscrape Music, que nos oferece altíssimo padrão de qualidade gráfico e de prensagem, com slipcase, e nível de material importado.

Lik - Misanthropic Breed (2020, Misanthropic Breed) DESTACADA2

Antes de mergulhar nas músicas de “Misanthropic Breed” convém lembrar que o death metal sueco em sua gênese estava ligado a uma fórmula que misturava o peso e velocidade do death metal norte-americano com a sujeira, determinação, energia, violência e crueza do hardcore escandinavo.

Musicalmente, o que ouvimos aqui é uma forma cativante e muito bem feita dessa estética musical com algo da melodia de nomes como At The Gates e Desultory, por exemplo, já na geração seguinte de bandas suecas de death metal.

Algumas passagens ainda são construídas sobre ensinamentos básicos do metal tradicional.

“Decay”, com sua balanceada mistura de peso e melodia, por exemplo, possui um solo que tem até guitarras dobradas à lá Iron Maiden, sendo um dos destaques do disco.

Por sua vez, “Faces of Death” mostra como o metal tradicional oitentista está diluído nas tintas carregadas do death metal do Lik.

Nesse âmbito, o Lik recupera um sentimento do passado, sem soar anacrônico, e se valendo de eficientes artifícios melódicos, além de um exemplar trabalho de estúdio que permitiu desfilar seu apelo old-school por uma sonoridade moderna.

Isso pode ser conferido em outras faixas de destaques como “The Weird” (a abertura fulminante), “Funeral Anthem” (com groove provocante), “Becoming” (talvez o melhor resumo da personalidade do Lik) e “Female Fatal to the Flesh” (duvido seu pescoço resistir a esse groove acachapante).

Em todas essas músicas temos formas diferentes de mostrar o mesmo conteúdo, revelando maturidade e criatividade como compositores dentro de um estilo com regras bem definidas.

“Misanthropic Breed” tem duas partes bem definidas, separadas pela rápida faixa-título que mostra como o Lik também sabe criar climas. Aliás, o uso de excertos de filmes de terror clássicos contribuem para a ambientação do trabalho.

Na segunda metade do disco o ciclo seguirá com uma faixa brutal e rápida (“Flesh Freenzy” – uma espécie de Slayer encontra Dismember), outra groovada e mais trabalhada (“Morbid Fascination” – um metal punk energizado pelo peso sujo do death metal), e mais uma “quebra-pescoço” (“Wolves” – talvez a melhor música do disco), mantendo o alto nível.

A busca do quarteto pela musicalidade dentro do death metal é perceptível, pela dinâmica e pela organicidade, mesmo que não se rendam a experimentalismos ou inovações.

Os ingredientes da receita continuam sendo riffs mórbidos e solos afiados instilados por guitarras distorcidas de forma característica, vocais funestos e seção rítmica massacrante que dita a dinâmica de forma propositalmente instintiva.

Desta forma, não há como negar que exista um objetivo bem definido de trazer a imagética e o espírito de uma época do passado para o presente.

Em “Corrosive Survival”, por exemplo, a veia oitentista está presente nos dando uma ideia de como seria uma versão sueca do Celtic Frost.

Tudo bem que isso não seja uma novidade. A novidade é que soam mais como uma entidade renascida da era de ouro do death metal sueco do que com sacerdotes que repetem ensinamentos antigos do gênero.

O grande trunfo para isso reside não em uma sabedoria hermética do death metal, mas no fato de não prolongarem desnecessariamente suas músicas e terem a inteligência de alocar melodia ou grooves onde é preciso e variar a velocidade de acordo com a necessidade.

Nesse contexto, mesmo que o trabalho de guitarras seja aquilo que salta aos ouvidos no primeiro plano (o que elas fazem em “Becoming” é de arrepiar!), pela inteligência nas suas inserções (existem riffs e licks despojados convivendo com solos trabalhados), audições sucessivas farão a performance do baterista Chris Barkensjö se sobressair pela precisão e pelo fato de fugir dos manjados blasting beats.

Vai ser um dos grandes discos de death metal do ano ao lado de “Solitude in Madness” do Vader!

FAIXAS:

1. The Weird
2. Decay
3. Funeral Anthem
4. Corrosive Survival
5. Female Fatal to the Flesh
6. Misanthropic Breed
7. Flesh Frenzy
8. Morbid Fascination
9. Wolves
10. Faces of Death
11. Becoming

FORMAÇÃO:

Chris Barkensjö (bateria e vocais)
Niklas “Nille” Sandin (guitarra)
Tomas Åkvik (vocal e guitarra)
Joakim “Myre” Antman (baixo)

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