Kadavar – Resenha de “For The Dead Travel Fast” (2019)

 

kadavar - for the dead travel fast
Kadavar – “For The Dead Travel Fast” (2019 | Shinigami Records)

O trio alemão Kadavar resolveu aplicar a maior renovação de sonoridade de sua discografia neste mais recente trabalho, “For The Dead Travel Fast”, lançado no Brasil via Shinigami Records.

Quinto disco da banda, “For The Dead Travel Fast” transita além da sonoridade apresentada nos discos anteriores, explorando elementos do progressivo alemão inglês ao proto metal.

Claro que as doses de krautrock e Pink Floyd estão bem diluídas no já consistente peso lisérgico e sisudo do seu stoner rock, e podem ser conferidas por aqui em faixas como “Saturnales” (uma música viajante, cantada e composta pelo baixista e que dá uma ideia de como seria “Solitude”, do Black Sabbath, se fosse composta por David Gilmour) e “Long Forgotten Song” (com seu peso acachapante, sorumbático, e uma declarada inspiração em “Comfortably Numb”, do Pink Floyd), responsáveis por fechar o trabalho.

Essa busca por uma sonoridade mais ousada vai ao encontro da temática dos filmes de terror clássicos (como “Nosferatu” [1979] e “A Dança dos Vampiros” [1967]) abordado nas letras, gerando algo mais sombrio e estranho que o concretismo de “Rough Times”, disco lançado pelo Kadavar em 2017.

Existe, de certa forma, um clima gótico diferente, mais mórbido e disseminado no rock pelas bandas de doom rock dos anos 1970, à começar pela ambientação da introdução dramática e dissonante de “The End”, que remete a trilhas sonoras como “Supiria”, do Goblin, ou  “Obscured by Clouds”, do Pink Floyd.

Essa fumaça gótica é similar àquela gerada nas clássicas histórias de terror do romantismo europeu. O nome do disco inclusive é advindo do  poema “Lenore” do poeta gótico alemão Gottfried August Bürger e imortalizado no primeiro capítulo do livro “Dracula”, de Bram Stoker.

Como se isso não fosse o bastante, o trio se dirigiu para a Transilvânia, para captar as sensações do lugar. A capa do disco é uma foro tirada na frente do misterioso Castelo de Bran, suposta residência de Drácula naquela região da Romênia.

Durante todo o trabalho essas referências são mescladas e existem inserções geniais de sons fantasmagóricos, gargalhadas demoníacas, além de dissonâncias bruscas e inesperadas que geram alguns “sustos”.

De cara, “For The Dead Travel Fast” chama a atenção pela capacidade do Kadavar em reinventar sua sonoridade sem mascarar uma mudança ou soar sem personalidade, mesmo com toda a psicodelia que é injetada sem ressalvas nas composições, lembrando, por diversas vezes o Hawkwind.

São exemplos claros dessa observação “Dancing With the Dead”, uma típica composição do trio, mas contextualizada ao trabalho, e “Demons in My Mind”, com sua massa sonora psicodélica grave e impactante.

A imprevisibilidade nos arranjos vem aliada a esse apelo setentista do proto-metal com clima esfumaçado de filme terror em faixas como “Children of the Night” (um proto-metal de manual e uma das melhores do disco!), “Evil Forces” (com riffs pesados, cativantes, lembrando a primeira fase do Judas Priest), “Poison” (com refrão matador) e “The Devil’s Master” (com suas palhetadas cheirando a rock clássico e clima fuzzeado).

“For The Dead Travel Fast” foi gravado e produzido pela própria banda, que cuidou também da capa, e cabe comentar que o trabalho em estúdio foi muito competente ao deixar a sonoridade tão encorpada quanto psicodélica, mas sem apostar na sensação de entorpecimento febril, e sim no acinzentado de um crepúsculo invernal.

Cada músico visivelmente está dando seu máximo! O vocalista Christoph ‘Lupus’ Lindemann  de destaca ao oferecer um trabalho diversificado, além de entregar linhas de guitarra inteligentes, criativas e poderosas pelo fato de serem despretensiosa.

Já o baterista Christoph ‘Tiger’ Bartelt é um caso à parte. O controle de tempo e ritmo que ele tem permite dosar técnica e peso nos momentos certos, formando uma ótima dupla com o baixista Simon ‘Dragon’ Bouteloup, eficiente em dar corpo à musicalidade da banda.

Não é exagero dizer que o Kadavar traduziu musicalmente, a seu modo e dentro do seu estilo, uma história de terror. A linguagem só é diferente, mas de fato é isso! Inclusive no alto potencial de provocar calafrios pelas frequências executadas.

De longe, mas bem de longe, o melhor disco do Kadavar!

FAIXAS

1. The End
2. The Devil’s Master
3. Evil Forces
4. Children Of The Night
5. Dancing With The Dead
6. Poison
7. Demons In My Mind
8. Saturnales
9. Long Forgotten Song

FORMAÇÃO

Christoph ‘Lupus’ Lindemann (vocal & guitarra)
Christoph ‘Tiger’ Bartelt (bateria)
Simon ‘Dragon’ Bouteloup (baixo)

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