“And the Celestial Ascension” já é o terceiro full lenght da banda carioca Gods & Punks, fundada em 2013.
Ele é parte de um projeto chamado The Voyage Series, que narra de forma seriada um conceito através das músicas e da arte gráfica, sendo este o terceiro capítulo, continuando o que foi apresentado em “Into the Dunes of Doom” e “Enter the Ceremony of Damnation”, seus dois álbuns de estúdio anteriores.
Até por isso, creio que um dos poucos defeitos deste disco é o fato de não trazer um encarte com as letras, mesmo elas estando disponíveis no Bandcamp. De fato, elas trariam uma imersão ainda maior no trabalho da banda, principalmente para quem gosta de fazer uma imersão à moda antiga no trabalho.
“Ascension” a faixa de abertura, além de deixar claro que existe um conceito por aqui, mostra também como o Gods & Punks é bom em criar climas, enquanto se vale do peso chapado, das melodias sinuosas e do fuzzeado febril das timbragens psicodélicas.
As referências ao Black Sabbath são óbvias, assim como da maioria dos bons nomes que ajudaram a construir as fusões do doom rock com o stoner rock/metal, porém elas são usadas como ponto de partida para construir uma identidade bem definida e amadurecida, ainda mais orientada para os aspectos psicodélicos “espaciais” ao modo do que já fez um dia o Hawkwind.
Se você pegar “Escape to Stars”, por exemplo, existem ali ideias que remetem ao Rush de uma forma muito própria. Até por isso ela é uma das melhores do disco, apesar dos exageros momentâneos dos vocais de Alexandre Canhetti.
Nesse sentido, um curiosidade interessante confirma esta observação também quanto as referências modernas: o nome da banda veio de uma música do Monster Magnet, o que nos leva a crer que as observações de remissões noventistas, e até mais modernas de Kadavar e Uncle Acid & the Deadbeats, são pertinentes.
“Crowns on Fire”, por exemplo, trará algo das formas noventistas do doom/stoner rock, mas de um forma bem particular e multifacetada, sendo um perfeito exemplo de como equilibram peso e velocidade em prol de um dinâmica que os desvie dos perigos maçantes da repetição.
Essa característica é importante porque, no geral, as faixas são longas, se desdobrando em movimentos ora mastodônticos, ora contemplativos, porém criativos, mesmo que por vezes despretensioso, como ouvimos em “Infinite Hourglass” e “The Rift” (essa com algo que me lembrou alguns momentos do Tool), ambas com mais de sete minutos de duração.
Sem dúvidas “And the Celestial Ascension” é um passo à frente na abordagem musical da banda e também no trabalho em estúdio, excelente e capaz de potencializar todas as suas qualidades.
Conseguem manter uma ligação com seus dois discos anteriores, principalmente pelo peso impresso, mas soam mais envolventes, dinâmicos e inteligentes no duelo entre tempestade e calmaria.
Tire um tempo para ouvir este disco com calma. Acomode-se confortavelmente, feche os olhos e deixe as composições guiá-lo por uma jornada lisérgica repleta de reviravoltas.
FAIXAS
1. Ascension 06:55
2. Crowns on Fire 05:41
3. Infinite Hourglass 07:01
4. Escape to the Stars 07:02
5. The Rift 09:44
6. Dying Planet 05:18
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