Pink Floyd | “Echoes”, o Grande Divisor de Águas da Banda

 

“Echoes”, canção clássica do Pink Floyd lançada em 1971, começa seu desfile pelos alto falantes, executada sem a pressão de ser o molde para um dos mais emblemáticos momentos do rock.

O ritual que precede é sempre o mesmo. Retiro o plástico externo que envolve um quadrado ilustrado e guardião de um disco enegrecido.

De modo herético negligencio um passo do ritual ao ajustar o braço mecânico nos sulcos iniciais do lado B do vinil que, por sua vez, gira em velocidade constante.

O movimento circular executa uma das mais importantes canções do rock, responsável por nortear a sonoridade de uma das mais reconhecidas bandas de todos os tempos.

“Echoes”, o Grande Divisor de Águas do Pink Floyd

Como uma das maiores bandas de rock da história, o Pink Floyd apresenta uma discografia recheada de obras-primas. Pessoalmente, tenho predileção pelo álbum The Division Bell (1994) dentre os inúmeros clássicos lançados pelo grupo britânico, como The Wall (1979), Wish You Were Here (1975) e, principalmente, Dark Side Of The Moon (1973), um marco da música moderna.

O que poucos fãs do Pink Floyd notam é o caminho espinhoso que o grupo percorreu até o reconhecimento pós-“Dark Side of the Moon”. Como e quando se deu a descoberta daquela sonoridade tão característica? Quais as consequências para a “harmonia” do grupo, decorrentes do processo de composição e registro das dez canções ali compiladas?

Apesar de todos os louros colhidos desta obra ímpar, as maldições foram lançadas em meio aos integrantes do Pink Floyd, na fase pós-“Dark Side of the Moon”, principalmente no relacionamento conturbado entre David Gilmour (guitarrista e vocalista) e Roger Waters (baixista e vocalista), tendo no centro da contenda a liderança da banda.

Se voltarmos pouco mais de meia década do lançamento de Dark Side Of The Moon, encontramos uma banda completamente diferente e imersa numa música extremamente psicodélica e lisérgica.

Além disso, o Pink Floyd era capitaneado por Syd Barrett, um guitarrista inventivo, vocalista acima da média, compositor notável e o rosto bonito que no fim dos anos 60 começava a importar muito para o sucesso de uma banda.

Liderados por Barrett, o conjunto britânico (à época sem Gilmour) galgou degraus, saindo de um quarteto de estudantes de Cambridge para mentores de uma nova tendência musical que começava a dominar o underground.

O problema era que este gênio precoce do rock se mostrava dominado pelos efeitos do LSD que, consequentemente, potencializou um suposto distúrbio mental que incapacitou a gravação do sucessor de The Piper At Gates of Dawn.

O destino de Barrett foi viver em um mundo completamente alheio à realidade. Com este cenário, os três outros membros da banda se viram com um sério problema, pois Barrett era o principal compositor do Pink Floyd.

Como solução imediata para os shows, os três recrutaram um guitarrista de blues chamado David Gilmour.

A ideia inicial era que Gilmour tocasse nos shows e Syd ficaria com o posto de compositor principal, algo muito similar ao que o grupo Beach Boys propôs a Brian Wilson.

Mas a história já nos mostrou que os fatos não se realizaram do modo planejado.

Até o lançamento de Dark Side of The Moon, tivemos ao todo seis álbuns que mostravam momentos oscilantes na qualidade das canções. Nada era desastroso do ponto de vista musical, mas ainda não vislumbrávamos o brilhantismo corriqueiro do futuro.

O Pink Floyd pós-Barrett demorou a encontrar o seu caminho e efetivar a promessa vista no primeiro disco, apesar da sonoridade que os consagrou ser muito diferente da apresentada no álbum de 1967.

O problema mais grave residia na busca de uma nova voz para o Pink Floyd que variava entre Gilmour, Waters e Richard Wright (tecladista e vocalista).

No caminho musical, o Pink Floyd tentou explorar tanto canções megalomaníacas (como Atom Heart Mother ou Alan’s Psychodelic Breakfast), quanto canções simplórias como o blues acústico Seamus, onde Gilmour e seu violão duelam com os uivos de um cachorro. Este blues canino encerrava o lado A do álbum Meddle (1971), que ainda trazia a ótima One Of These Days.

Virando o vinil, tínhamos o lado B todo tomado por uma única canção com mais de vinte minutos de duração denominada Echoes, a composição mais importante da história do Pink Floyd.

A afirmação anterior pode parecer absurda, mas a essência do Pink Floyd dos anos posteriores está ali, em cada andamento daquela canção, que tinha total sentido em todos os seus 23 minutos.

Nenhuma harmonia, nenhum acorde e nenhum riff de guitarra são gratuitos.

Analisando Echoes de modo sistemático, percebemos que toda a musicalidade e construção harmônica dos sucessos futuros estão ali resumidas, em cada acorde e cada viagem psicodélica.

Ela tem passagens rápidas, outras lentas, inúmeros solos lisérgicos e momentos de musicalidade abstrata.

Observe que Dark Side Of The Moon parece uma única canção dividida em atos, com estrutura tão similar a Echoes que álbum todo parece um irmão mais crescido da fenomenal composição de 1971.

Neste mesmo ano, o conceito do álbum que só ganharia vida em 1973 era desenvolvido na casa de Nick Manson (baterista), apesar de que alguns detalhes não foram ali estabelecidos.

A própria banda reconheceu a importância desta faixa ao batizar a coletânea dupla lançada em 2001 com seu título.

O embrião do clássico álbum do prisma se deu na canção Echoes, onde, depois de anos vagando nas mais diversas formas de compor, o Pink Floyd encontrou sua musicalidade pós-Barrett, a lapidou em Obscured By Clouds (1972) e se preparou para o sucesso mundial que viria de modo acachapante.

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6 comentários em “Pink Floyd | “Echoes”, o Grande Divisor de Águas da Banda”

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  6. Um divisor de águas não só para o Floyd mas, acredito , também para quem assistiu o vídeo dessa obra! No live in Pompeii, ainda em VHS.

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