Darkthrone – “Soulside Journey” (1991) | Você Devia Ouvir Isto

 

“Soulside Journey”, clássico primeiro disco da banda DARKTHRONE, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTOcuja proposta você confere nesse link.

Definição em um poucas palavras: experimental, satânico, extremo, escandinavo, técnico.

Estilo do Artista: Death metal/black metal

Darkthrone - Soulside Journey (midscrape Music)

Comentário Geral: Apesar de ser norueguesa, a banda Darkthrone sempre passou ao largo das polêmicas que envolveram a cena black Circle, tanto que foi a primeira daquele grupo a conseguir um contrato com uma gravadora de nome dentro do heavy metal, no caso a Peaceville.

A única ligação entre o Darkthrone e o black cirlce, em meados de 1991, era que, junto a Burzum, Immortal, Thorns, Enslaved, Arcturus, e um embrião do Emperor, eles orbitavam a loja Helvete e o selo Deathlike Silence.

Porém, mesmo após a escolha pelo black metal, o trio formado por Nocturno Culto, Zephyrous e Fenriz não estava ligados aos crimes e atentados terroristas que fizeram a fama do movimento.

Todavia, seu primeiro disco, “Soulside Journey” estava mais para o death metal sueco do que para o black metal norueguês.

Lançado em 1991, “Soulside Journey” era um disco que trazia resquícios da primeira encarnação da banda, de quando ainda se chamavam Black Death.

O contrato com a Peaceville chegou de uma forma quase mágica para o então quarteto norueguês, conforme contou Gylve Nagell (também conhecido como Fenriz) ainda na época da gravação do disco:

“Como fechamos o negócio foi um sonho do caralho! Acabamos de enviar uma fita para nosso selo favorito, Peaceville, e três semanas depois recebemos uma carta dizendo que eles queriam assinar conosco.”

O disco foi gravado no Sunlight Studios, em Estocolmo, na Suécia.

Na época, o Darkthrone tinha muita proximidade com o Entombed, afinal gravaram no mesmo estúdio, em épocas próximas, e Uffe e Nicke, membros da banda sueca, estavam envolvidos na produção de “Soulside Journey”.

Até por isso, esse primeiro disco do Darkthrone está mais para o death metal sueco do que para qualquer forma de música extrema norueguesa, algo claro já na timbragem das guitarras e do desenvolvimento da faixa de abertura, “Cromlech”, talvez a melhor música do disco.

A única diferença é que o Darkthrone era um pouco mais experimental, técnico, ousado e satânico que as bandas suecas.

Essas observações eram corroboradas pelo próprio Fenriz, que nas entrevistas da época chamava a atenção para as estruturas pouco usuais das composições e enquadrava suas letras como poesia satânica.

O mesmo Fenriz que definia de forma bem curiosa a musicalidade do Darkthrone:

“Tocamos música estranha e pouco ortodoxa, sem versos, sem refrão. Tocamos uma trilha sonora de terror e se tocássemos com outros instrumentos (violoncelo, sintetizador, trompas, violinos), seria rotulado como música clássica, mas tocamos death metal, então soa como death metal.”

Naquele início de 1991, quando o disco foi lançado, eles se declaravam influenciados por bandas como Paradise Lost, Necrofagia, Morbid Angel, Autopsy e Nocturnus.

De fato, é possível perceber a influência de cada um desses nomes ao longo do repertório.

Em “Sunrise over Locus Mortis”, “Grave with a View”, “Eon” e “Iconoclasm Sweeps Cappadocia” (com seus riffs sabáticos) é possível percebe-los claramente misturando o Nocturnus com o Paradise Lost (da fase “Lost Paradise”).

Já “Accumulation of Generalization” parece uma desconstrução satânico-instrumental-climática do Autopsy, enquanto a faixa-título e “Nor the Silent Whispers” impressionam pelas mudanças constantes de andamentos sem perder um grama de peso e impacto, mostrando o quanto eles eram diferenciados e tinham personalidade própria partindo de referências óbvias.

Outra influência pouco apontada, mas perceptível era do Poison, obscura banda alemã de thrash metal que também circulava pelo death/black metal.

Isso se dá principalmente nas faixas em que alternam variações de andamentos e velocidades, e distribuem riffs desmedidamente como ouvimos em “Sempiternal Sepulchrality”, ou no senso totalmente brutal e anti-comercial de “Neptune Towers” e de “The Watchtower”.

Sem dúvidas, neste disco, o Darkthrone, que ainda era um quarteto, trabalhava sua musicalidade de uma forma mais técnica (a precisão de tempo e ritmo de Fenriz -creditado como Hank Amarillo – na bateria é algo impressionante) e muito sofisticada (as guitarras se desdobram em harmonias e dissonâncias agressivas, mas técnicas e provocativas) se comparado ao que fariam nos próximos discos minimalistas.

Analisando friamente, aqui já é possível enxergar um tom mais maléfico no Darkthrone, aquele inerente ao metal norueguês, numa dosagem que se destaca das bandas suecas, assim como toda a inventividade do death metal aqui demonstrada não se assemelhe a nada do que a banda fez nos discos seguintes de sua carreira!

A mudança para o black metal norueguês veio após problemas com a formação e o trabalho seguinte, “A Blaze In The Northern Sky”, já mostrava uma banda referência da cena norueguesa do metal negro.

Inserido nesse contexto, o Darkthrone viu o potencial musical a ser explorado dentro do black metal e deixou toda a musicalidade criada no primeiro disco para trás.

Devemos lembrar que na época eles estavam trabalhando no álbum “Goatlord”, ainda orientado ao death metal, e pouco antes de entrarem em estúdio resolveram mudar o direcionamento musical.

A mudança foi motivada pelo trio Nocturno Culto, Zephyrous, e Fenriz, o que levou à saída de Dag Nilsen (o único membro que não estava feliz com a mudança de direcionamento) após a gravação de “A Blaze in the Northern Sky” (Dag não é creditado no encarte, mas as linhas de baixo são suas).

Mas aí já é assunto para outro artigo (que você pode ler aqui).

Contudo, tenha em mente que “Soulside Journey” é um dos melhores discos de death metal de todos os tempos! Um clássico a ser redescoberto.

Aproveite que a Mindscrape Music acabou de relançar esse disco no mercado nacional em formato slipcase, com direito a pôster da capa e nível de material importado, e coloque esse disco obrigatório na sua coleção

Ano: 1991

Top 3: “Cromlech”, “Soulside Journey”, “Neptune Towers”

Formação: Ivar Enger (Zephyrous, guitarra), Ted Skjellum (Nocturno Culto, guitarra e vocal), Dag Nilsen (baixo) e Hank Amarillo (Fenriz, bateria)

Disco Pai: Poison – “Into The Abyss” (1987)

Disco Irmão: Entombed – “Clandestine” (1991)

Disco Filho: Obliteration – “Nekropsalms” (2009)

Curiosidades: Existem algumas remissões interessantes nas letras deste disco, inserindo versos em locais estratégicos das músicas que são retiradas de bandas undergrounds, como a alemã Poison e a norte-americana Possessed.

Pra quem gosta de: Filmes de terror, satanismo, violência, experimentalismo e mudar de opinião.

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