Buffalo Summer – Resenha de “Desolation Blue” (2020)

 

O Buffalo Summer chega a seu terceiro álbum, “Desolation Blue”, mostrando ainda mais energia e maturidade que no álbum anterior, “Second Sun”.

O quarteto galês foi formado em 2010 pelos irmãos Gareth e Andrew Hunt, baterista e vocalista, respectivamente, junto com o guitarrista Jonny Williams e o baixista Darren King, e no início se dedicavam a explorar clássicos do blues em longas jams.

Logo começaram a escrever material próprio e no ano seguinte lançaram seu primeiro e auto-intitulado trabalho, que lhes rendeu boas críticas, além de comparações com Lynyrd SkynyrdDeep Purple e Led Zeppelin, e shows ao lado de Ugly Kid Joe, Duff McKagan e Skid Row.

Buffalo Summer - Desolation Blues (2020, Hellion Records)

Nesse terceiro disco continuam amadurecendo e modernizando seu hard rock de inspirações blues rock, reforçando sua personalidade ao invés de mascarar uma mudança.

Com isso, eles desconstroem e reconstroem as influências do classic rock usando-as como base de trabalho e usando de estratagemas modernos para retirar o anacronismo das influências setentistas óbvias.

As guitarras continuam se desdobrando em riffs bem elaborados, licks e solos harmônicos inspirados pelas possibilidades do blues e com gosto apurado para ganchos melódicos, enquanto a seção rítmica faz a energia pulsar.

Muito dessa energia emana da forma com que o disco foi gravado: ao vivo em estúdio, em apenas cinco dias, novamente sob a produção de Barrett Martin (foi ele quem produziu “Second Sun”), também um músico experiente, ligado a bandas como Screaming Trees, Mad Season, R.E.M e Stone Temple Pilots.

Essa forma de gravação não só reflete o entrosamento e a auto-confiança do Buffalo Summer, mas principalmente o fato de estrem num estágio avançado de maturação e o desejo de soar o mais verdadeiro possível numa época de tantas simulações.

E para não dizer que tudo está como “dantes”, eles inseriram algo do alternativo noventista com mais proeminência nessas novas composições, assim como toques dos primórdios oitentistas do indie rock.

Talvez a presença do produtor (que também toca percussão, vibrafone, piano Fender Rhodes e órgão Hammond) tenha os influenciado tanto na melancólica vibe grunge de “Pilot Light” quanto na sonoridade acústica de “Last to Know” (à lá R.E.M.) e “The Bitter End” (numa pegada alternativa me lembrando os ótimos Collective Soul e Live, essa música seria sucesso lá pelos idos de 1993).

Ao mesmo tempo, “If Walls Could Speak” ecoa também o período noventista, mas agora pela estética hard rock do Guns n’ Roses, enquanto a abertura, “The Power & The Greed”, marca a forma melancólica do estilo ao molde do The Cult, enquanto ” The Mirror” (com o melhor refrão do disco) é puro amor aos anos 1980.

Porém, estas são apenas referências, pois o Buffalo Summer possui uma personalidade própria muito marcante, construída à partir do que absorveram dos gigantes ancestrais do rock.

Pegue, por exemplo, “Hit The Ground Running”. Ela tem a identidade do Buffalo Summer marcada à ferro e fogo, mas é inegável sua herança na estética musical dos Rolling Stones.

Outro exemplo é “When You Walk Away”, que traz a estética dark dos anos 1980 para a musicalidade da banda, chegando a lembrar vagamente nomes como The Mission e Killing Joke.

Até por isso, ao contrário do iluminado e festivo “Second Sun”“Desolation Blue” me pareceu mais compenetrado, cinzento, outonal e melancólico.

Uma observação corroborada tanto pelo blues denso e imersivo “Dark Valentine”, quanto pela já citada “Pilot Light” ou o hard rock sinuoso de “Untouchable” – que até remete ao que faz atualmente o guitarrista Slash ao lado do vocalista Myles Kennedy.

Com “Desolation Blue”, o Buffalo Summer consegue manter o crescimento de seus músicos como compositores, apresentando uma musicalidade mais elaborada, e nos entregando o melhor de seus discos até o momento.

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