Avantasia – Resenha de “Moonglow” (2019)

 

Avantasia - Moonglow
Avantasia: “Moonglow” (2019 | Shinigami Records, Nuclear Blast) NOTA: 8,0

Já não é exagero nenhum perguntar qual a mais significativa parcela da carreira de Tobias Sammet, o Avantasia ou o Edguy?

“Monglow” já é o oitavo disco da carreira do Avantasia, e traz novamente um time de primeira linha para ajudar Tobias a contar a história de uma criatura que não se encaixa no mundo após ser aqui jogada, buscando as sombras.

Apesar do conceito sombrio, as composições não possuem, no geral, uma escuridão mais proeminente nos arranjos, nem passagens soturnas. Elas são quando muito melancólicas, mas de um modo mais artístico do que psicológico, como se “Moonglow” fosse uma versão hard n’ heavy da trilha sonora um filme de Tim Burton.

Isso fica evidente em faixas como “Invincible” (e sua melancolia que remete ao eruditismo de Tchaikovsky) e suas irmãs “Alchemy” “The Piper at the Gates of Dawn”, que completam a trinca com Geoff Tate  nos vocais.

Estas são faixas que merecem uma atenção especial, pois, “Invincible” lembra muito o Queensryche de início dos anos 1990, com emoção e uma interpretação brilhante de Geoff Tate, remetendo a seus melhores dias.

“Alchemy” traz um hard n’ heavy certeiro e uma passagem que me lembrou vagamente “Kashmir” do Led Zeppelin, ou “Judgement Day”, do Whitesnake. Por fim, “The Piper at the Gates of Dawn” traz outros vocalistas junto a Tate, com destaque a Eric Martin, numa faixa veloz e melódica, um típico speed metal requintado e intrincado.

E por falar em Eric Martin, ele está presente no cover de “Maniac”, de Mike Sembello, um clássico dos anos 1980. Uma faixa que obviamente não se encaixa no conceito do álbum , mas reflete a liberdade que Tobias se impôs neste trabalho, transformando o pop num hard n’ heavy de primeira categoria.

+ Confira 5 filmes essenciais de Tim Burton, nesse texto. 

Até por isso, “Monglow” é uma obra tão intrinsecamente pessoal, principalmente no alegórico conceito, que não é difícil vê-la destacada até mesmo da discografia do Avantasia, que já atingiu a marca de vinte anos de atividades.

Isso se explica no fato de que Tobias começou a trabalhar neste álbum após findada a turnê de “Ghostlights” (2016), disco anterior, para que ele fosse um disco solo.

E, de fato, “Monglow” é um disco mais variado e menos épico se comparado aos demais álbuns do Avantasia, oxigenando a fórmula, sem descaracterizá-la, pois ainda é guiada pelo amplo alcance vocal de Sammet e seus ilustres convidados.

Ghost in the Moon” até traz algo de épico na abertura, com clima de rock opera clássica, chegando a lembrar os bons momentos do Meat Loaf, pelos andamentos dramáticos e emocionantes, em duas partes separadas por um solo precioso de Sascha Paeth. Esse espírito será retomado já no fim do álbum com “Lavender”, onde Bob Catley dá algo de AOR às melodias certeiras.

E por falar em AOR, “Heart”, a faixa bônus, tem indiscutivelmente algo de Journey em seu espírito.

Além de Paeth, responsável pelas guitarras e pelo baixo, a banda de apoio ainda conta com Felix Bohnke na bateria e Michael Rodenberg nos teclados.

Voltando a “Ghost in the Moon”, ela já deixa claro que “Moonglow” trouxe algo diferente nos detalhes da música do Avantasia.

Os andamentos continuam pormenorizados e inspirados. As texturas, sentimentos e timbragens estão intensificadas (salvo em alguns teclados), com polimento e foco nas composições e na produção (essa, mesmo com seus escorregões, que falaremos mais adiante).

Porém, a sequência com “Book of Shadows” garante que alguns aspectos old school podem funcionar muito bem ainda.

Essa faixa é o primeiro bom susto de “Moonglow”, com melodia e peso em constante atrito, e destaque para a parte que conta com a participação de Mille Petrozza, do Kreator (além dele, nessa mesma música, temos Hansi Kusch, Ronnie Atkins e Jorn Lande).

Ou seja, existem remissões à estética dos musicais, ao mesmo tempo que vemos fugas constantes dos limites do power/speed metal.

Além da já citada “The Piper at the Gates of Dawn”, temos “Requiem for a Dream” com dramaticidade na abertura, e Michael Kiske comandando o metal melódico rápido e incisivo, mas diferenciado na seção rítmica (muita atenção às linhas de baixo desenhadas no meio da música), além de “Starlight” com a classuda participação de Ronnie Atkins.

A grande composição de “Moonglow” talvez seja “The Raven Child”. Aliás, ouso dizer que essa é uma das melhores músicas do Avantasia!

Sua introdução folk com Hansi Kusch é arrepiante e tem sabor cinematográfico, intercalado por guitarras instigantes, que separam o diálogo musical também com Jorn Lande, vozes que se unem em dado momento, criando ótimas linhas e um refrão certeiro,  junto a coral gregoriano, harpa celta e até algo de country.

Essa é uma música que reflete muito bem o aspecto multifacetado da música que o Avantasia aqui nos apresenta, com instrumentação diferenciada e mudanças de tempo.

Infelizmente, nem tudo agrada.

A faixa-título traz até lapsos de consciência pop, mas as escorregadas estruturais da composição, como na transição  para o primeiro refrão, comprometeram muito, principalmente se comparada com o restante do trabalho, algo que nem a ótima voz de Candice Night pode relativizar.

Além disso, muitos vocalistas possuem timbres similares e nesse sentido a produção não nos permite, muitas vezes, diferenciá-los a menos que você esteja com o encarte em mãos.

A timbragem de alguns teclados também, creio eu, não foram bem escolhidas para a musicalidade do Avantasia. Alguns trazem texturas oitentistas que, ao invés de vintage, soam datadas ( como em “The Piper at the Gates of Dawn”, na introdução que parece tirada de algum jogo do saudoso Super Nintendo).

Pode até não ser o melhor disco do Avantasia como um projeto, porém “Moonglow” traz uma ou duas das melhores faixas da carreira do projeto de Tobias Sammet.

TRACKLIST

1. Ghost in the Moon
2. Book of Shallows
3. Moonglow
4. The Raven Child
5. Starlight
6. Invincible
7. Alchemy
8. The Piper at the Gates of Dawn
9. Lavender
10. Requiem for a Dream
11. Maniac (Michael Sembello cover)
12. Heart

FORMAÇÃO

Tobias Sammet (vocal, baixo, teclado, piano e orquestrações)
Michael Rodenberg (teclados e orquestrações)
Sascha Paeth (guitarra, teclados, piano e orquestrações)
Felix Bohnke (bateria)

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