Stephen King é um dos (suspeito-o como primeiro da lista) meus autores favoritos.
Entretanto, sou crítico o bastante para dizer que The Colorado Kid não traz a qualidade característica de outras obras do Rei do Maine, podendo ser classificado dentre as que os iniciantes não devem passar perto.
Minha opinião pode, porém, ser desqualificada por eu não enxergar “Carrie” ou “O Iluminado” como suas máximas obras-primas e as indicaria apenas como portas para adentrar à parcela de terror do universo do autor.
O que me fez, então, ficar tão imerso neste pequeno livro (para os padrões de Stephen King, 150 laudas é pouco maior que o tamanho de alguns seus contos)?
Simples.
Primeiro foi a expectativa que de uma hora para outra King iria tirar um coelho de sua cartola e surpreender como já é costumeiro nas suas narrativas.
Bem, posso lhe adiantar que isso não ocorreu!
Segunda opção, as referências múltiplas à cultura pop que preenchiam as páginas. Acredito que quando eu percebi que Stephen King não ia amainar meu desconforto corroborando com a primeira causa enumerada anteriormente, continuei a leitura buscando tais menções ao mundo pop.
Antes de continuar, gostaria de mencionar que o próprio autor reconhece, no posfácio, que não existe meio termo entre gostar ou não desta narrativa que foi inspirada por um recorte de jornal (que ele perdeu e não foi salvo nem pelo Google, apelidado pelo autor como o salvador de idiotas do século XX).
“The Colorado Kid” é o tipo de item da bibliografia classificado como ame ou odeie.
Embora, fiquemos de início com a sensação de que ele quis compor algo na linha de autores como Agatha Christie, George Simenon ou Conan Doyle, é certo que ele desistiu no meio do caminho e trouxe sua narrativa para um novo objetivo.
Mas o próprio autor explica sua mudança de rumos na evolução da história no já citado posfácio:
“Mistério é meu assunto aqui, e estou ciente que muitos leitores se sentiram enganados, mesmo irritados, por minha incapacidade de oferecer uma solução ao problema colocado. Será que é porque eu não tive nenhuma solução para dar? A resposta é não.”
Eu ainda preferia que ele tivesse escolhido um dos seis finais que menciona ter imaginado: “eu poderia ter dado meia dúzia de finais, três bons, dois ótimos e um excelente como uma pintura”.
É nítido que o interesse maior está no desenvolvimento do mistério do que na sua solução. As publicações modernas do autor demonstram ainda mais esta ideia.
Na série “A Torre Negra” fica claro que a jornada é mais importante do que o desfecho. Ainda assim, é impossível não se admirar com a imprevisibilidade do Mestre do Terror que cruza uma terceira via dentro da literatura de mistério que foge do noir ou do hardboiled.
Admiração esta que acometeu os críticos do New York Times que classificaram a obra como um exemplo literário pós-moderno.
O desfecho pode não colaborar para que este livro esteja no Panteão bibliográfico de Stephen King, mas as inúmeras referências à cultura pop tornaram a leitura interessante.
A partir do momento em que me dei conta disso, a busca pelas mais diversas associações ao mundo pop se tornou a motivação para avançar as páginas.
O primeiro dado a chamar a atenção (apesar de passar batido e ser retomado quando percebi as demais referências) é o personagem Dave Bowie. É claro que nossa mente remete de imediato a David Robert Jones, o conhecido cantor David Bowie, mas num primeiro momento é óbvio demais e supressão de uma letra no nome nos leva a relevar a associação imediata.
O Dave de Stephen King é um dos editores de jornal local em uma ilha denominada Moose-Lookit. Seu colega profissional, Lewis Teague, empresta o nome de um diretor de cinema, responsável pela adaptação do livro “Cujo”, do próprio Stephen King.
É sabido que o autor é um apaixonado pelo rock n’ roll (como você pode conferir aqui), inclusive sendo um péssimo guitarrista (definição dada por ele mesmo), além de termos o Ramones compondo a famosa canção Pet Sematery para a adaptação cinematográfica de uma de suas obras, O Cemitério.
Sabendo deste gosto pessoal, a menção a cada elemento deste segmento musical era devidamente enumerada por mim e eles não foram poucos.
Na ficção de Stephen King, o casal Johnny e Nancy (não necessariamente os da foto), encontram o corpo na praia enquanto passeavam. |
Além do editor do jornal local temos Chris Robinson, um médico homônimo ao vocalista da banda Black Crowes.
O casal que encontra o corpo na praia é denominado como Johnny & Nancy, uma clara referência ao casal Sid & Nancy, onde King trocou o baixista dos Sex Pistols (Sid Vicious) pelo vocalista Johnny Rotten.
Temos ainda uma clara alusão ao clássico Tea For a Tilerman, álbum setentista de Cat Stevens que trazia os clássicos Wild World e Father And Son.
No campo literário, King cita explicitamente Agatha Christie e explora sem rodeios uma das maiores frases de Sherlock Holmes (criação de Arthur Conan Doyle): “quando se elimina o impossível, aquilo que sobra – não importa o quão improvável – deve ser a resposta”.
Outras referências diretas são o nome de Horatio Alger, um autor de livros infantis; Ellery Queen, uma protagonista de revistas de mistérios e no livro de King viria de braços dados a Mrs. Jane Marple, uma clara alusão à investigadora criada por Agatha Christie.
Como se não bastasse, ainda temos uma atiradora do velho oeste, Annie Oakley e um repórter do Planeta Diário, jornal onde trabalha o alter-ego do Super Homem, dentre os nomes pertencentes a cultura pop que King emprestou em sua curta obra.
Em 2010, o livro serviu de gatilho para a adaptação da série “Haven”.
Todavia, a principal ligação entre livro e série estaria na edição publicada pelo Haven Herald que traria uma reportagem sobre o misterioso cadáver original da obra de Stephen King. Nunca a expressão “baseado em..” foi tão sincera.
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Valeu!!
Grande Jam… Também tenho acompanhado seu trabalho no seu site, sempre muito bem escrito… O Stephen King tem muitas obras legais, mesmo. Recentemente li “Novembro de 63” que para mim está entre o Top 5 de suas obras. Estou lendo “Revival” e achando um pouco morno, mas parece que vai virar um bom livro… O melhor dele é a imprevisibilidade de seus roteiros… Abraços e volte sempre… Ah! Creio que poderíamos desenvolver uma parceria numas duas postagens um dia destes… O que me diz? kkk
Marcelo, nosso 'amigo' SK tem muito disso. Escreve histórias que alguns consideram verdadeiros clássicos, enquanto outros… detestam! Eu, mesmo, gostei de alguns livros de King que os meus amigos odiaram. Mas algo não podemos negar: o cara é um baita de um gênio. Quanto ao “Homem do Colorado”, estava assim 'meio' que indesivo se comprava ou não – se lia ou não. Após ler sua resenha, juro que a minha vontade está pendendo mais para o lado do “não”. Acho que vou deixar a obra quietinha e sair em busca de outros títulos do autor.
Apesar de raramente opinar po aqui, saiba que constantemente acompanho os seus posts muito bem escritos e elaborados. Aquele sobre as bandas de rock que salvaram o rock nos anos 2000 é fantástico.
Abraços!
http://www.livroseopiniao.com.br
Oi adorei.. muito obrigado, amei a maneira que vc usou para descrever essa resenha…me fez se interessar pelo
livro….mas vc já leu o livro reverso escrito pelo autor Darlei… se trata de
um livro arrebatador…ele coloca em cheque os maiores dogmas religiosos de
todos os tempos…..e ainda inverte de forma brutal as teorias cientificas
usando dilemas fantásticos; Além de revelar verdades sobre Jesus jamais
mencionados na história…..acesse o link da livraria cultura e digite
reverso…a capa do livro é linda
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?