Voivod – “Lost Machine: Live” (2020) | Resenha

 

“Lost Machine – Live” é um disco ao vivo da banda de thrash metal canadense Voivod gravado durante a turnê do álbum “The Wake” (2018), o disco vencedor do Prêmio Juno 2019 (concedido pela Academia Canadense de Artes e Ciências Fonográficas) na categoria “Álbum de Heavy/Hard do Ano”.

Registrado em Quebec, cidade natal da banda, “Lost Machine – Live” traz treze músicas que se dividem entre seus clássicos e novidades do catálogo.

O Voivod, um dos mais importantes nomes do metal canadense, sempre se dividiu entre o peso sujo do thrash metal e as peculiaridades do prog metal, e até por isso despertou aquele dualismo “ame ou odeie” nos fãs de heavy metal ao longo das suas quatro décadas de existência.

Voivod - The Lost Machine (2020, Shinigami Records)

O Voivod foi uma das primeiras bandas canadenses de thrash metal a atingir um público internacional.

Seus dois primeiros discos, “War And Pain” (1984) e “Rrröööaaarrr” (1986), são construídos sobre as formas mais sujas, primitivas e barulhentas do thrash/speed metal, mas era claro que ali existia um diamante bruto a ser lapidado.

Entretanto, creio que foi por causa destes dois primeiros discos que o Voivod sempre foi tão subestimado como um devoto das formas “toscas” do  speed/thrash metal oitentista.

Porém, a evolução chegaria rápido e os tons estranhos de suas músicas foram transmutados numa forma vanguardista e progressiva do thrash metal já no próximos dois discos: “Killing Technology” (1987) e principalmente “Dimension Hatröss” (1988), seu melhor disco da carreira.

A partir daí o Voivod cunhou uma discografia interessante, amadurecendo e lapidando cada vez mais sua sonoridade, chegando a uma expressão muito particular do heavy metal.

De “Killing Technology” (1987) a “Nothingface” (1989) o Voivod entregou discos conceituais  que narravam as aventuras do personagem Voivod, uma criatura senciente, enquanto ele viajava pelo universo.

De uma forma sucinta, o Voivod sempre me soou o Slayer tentando ser a versão mais fusion do King Crimson, ou o Discharge se amalgamando ao Pink Floyd pré-“The Dark Side of the Moon”.

Impossível de copiar, mas uma musicalidade difícil de digerir, ainda mais quando foi fundada no Canadá em meados dos anos 1980, um período em que as bandas disputavam para saber qual era mais rápida e pesada.

Esse legado de quatro décadas é, de certa forma, celebrado neste “Lost Machine – Live” com uma ótima qualidade de som, diga-se.

Dos velhos tempos ainda estão na formação apenas o vocalista Snake e o baterista Away, que mantêm a tradição do Voivod viva e ativa, tendo ao seu lado o guitarrista Chewy e o baixista Rocky.

Chewy, que já está na banda desde 2008, impressiona nas suas linhas precisas e técnicas, principalmente nas músicas antigas, se mostrando ainda melhor e mais adaptado do que ouvimos no ao vivo “Warriors of Ice” (2011).

Devemos lembrar que o saudoso Denis D’Amour era um guitarrista que tinha uma abordagem única no instrumento, talvez com o estilo mais diferenciado do thrash metal. 

Sendo assim, reproduzir suas linhas criativas não é para qualquer um, mas Chewy o faz com destreza e personalidade.

Por falar em “Warriors of Ice” (2011), esse “Lost Machine – Live” funciona como um ótimo complemento àquele material que consistia basicamente de clássicos revisitados com a formação renovada, algo que não se repete agora, pois abrem espaço para músicas mais novas, principalmente do disco mais recente.

Voltando à performance da banda, os vocais de Snake permanecem fortes e agressivos (mesmo que o tempo tenha enferrujado seu timbre para as linhas mais melódicas) e a cozinha agressiva mantém o ritmo de loucura controlada que sempre caracterizou o Voivod.

No repertório, clássicos como “Psychic Vacuum” (uma das melhores músicas da banda), “The Prow”, “Into my Hypercube” (o mais próximo que o Voivod chegou de uma balada), “Voivod”, “Overreaction” e o cover para “Astronomy Domine” (retirado do primeiro álbum do Pink Floyd) dividem espaço com composições mais recentes como “Post Society”, “Obsolete Beings” (que não faz feio entre os clássicos no início do show), “Iconspiracy” (com ótimas guitarras de Chewy), “Always Moving” e “Fall” mostrando o quão importante, diferenciada e relevante foi, e ainda é, a carreira da banda.

Além disso, é muito bom poder ouvir toda aquela musicalidade estranha e complexa ser tocada ao vivo, ganhado organicidade e sendo energizada pela troca com o público.

Um disco ao vivo que vale cada segundo e pode ajudar a desfazer o conceito pré-estabelecido que muitos têm da banda.

Eu, se fosse você, conferia!

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