Uganga – Resenha de “Servus” (2019)

 

Uganga Servus (2019)
Uganga: “Servus” (2019, Independente) NOTA:10!

Confesso! “Servus”, novo álbum do Uganga, me deixou emocionado!

O Uganga é um caso especial dentro do metal nacional. Uma banda que parece ter espírito próprio conclamado pela junção das consciências de seus integrantes, experimentando uma evolução além da musical pelo caminho trilhado por suas partes, quase num sentido hermético.

E assim como definiram os antigos filósofos, ao longo de seus trabalhos, o Uganga parece ter passado por uma ampliação desta consciência para apreciar realidades universais: uma iniciação.

Toda iniciação traz as agruras e as belezas da suprema aventura, sendo que a mais importante é o renascimento, a passagem de um antigo estado para um novo, de uma velha limitação para uma nova ampliação.

Um renascimento devidamente registrado no DVD “Manifesto Cerrado” (o qual resenhamos aqui), e que teve sua primeira viagem em “Opressor” (que também resenhamos aqui), disco de 2014.

Cinco anos depois, chega até nós “Servus”, quinto disco de estúdio do Uganga, cuja capa reforça ainda mais estes aspectos espirituais.

Concebida por Wendell Araújo, que já trabalhou com Ratos de Porão e Cólera, a arte que estampa “Servus” traz motivos espirituais de um futuro onde o Brasil evoluiu, seu povo abriu a terceira visão e sabe seu lugar como parte da natureza, numa época de paz e harmonia.

Todo esse conceito é refletido na convergência de símbolos de religiões e linhas espirituais diferentes, como o feiticeiro de traços indígenas trajando colares da umbanda, fazendo mudras e tendo conquistado a iluminação do hinduísmo.

Uma reflexão espiritual que vai além da capa, e passa para as letras (“Depois de hoje” trará até um discurso de Mahatma Ghandi contra a violência) e se faz som nos arranjos das composições.

“Servus” também reafirma a postura e a evolução musical dos dois últimos discos de estúdio, usando a identidade reformulada para mover sua musicalidade para frente, longe do status quo, mesmo que use elementos conhecidos de sua obra como groove e peso.

Mas até eles estão diferentes!

A explosão thrash metal da faixa “Servus” mostra não só que o Uganga tem muito a dizer, mas também muita força e contundência para impactar, deixando-nos cativos de imediato, pela dinâmica infalível gerada no calor do atrito de peso, técnica e groove em que forjam sua identidade.

Impressiona a forma com que as guitarras sacam riffs e solos que dialogam com as maneiras clássicas do thrash metal/crossover, sobre uma geometria instigante e ousada, cheia de viradas imprevisíveis, passagens inteligentes oxigenando a fórmula, mas sem deixar de ser moderno e agressivo!

Algo muito bem impresso em “Medo” (atenção ao que o baterista faz nessa música, e à participação de Casito Luiz, vocalista do Witchhammer), “Hienas” (com psicodelia em meio a um crossover furioso e a participação do grupo chileno de rap Lexico), na pesada e punk “7 Dedos” (com letra sensacional, resgatando os causos contados no interior, sobre figuras lendárias) e no climático e emocionante doom/death metal de “Depois de Hoje”. 

“O Abismo” merece destaque especial, com tensão nas timbragens, cadência melódica precisa, uma das melhores letras do disco e um sax sensacional e cortante à cargo de Marco Melo. Essa música é a mostra perfeita de como a banda ousa em arranjos de explodir a mente!

O que os integrantes fizeram em suas performances individuais é impressionante, tanto em feeling quanto em técnica.

As guitarras são pesadas e variadas, tanto em abordagem quanto em timbres, e os solos trazem aquela pegada rock n’ roll do Motorhead.

Aliás, “Fim de Festa” tem essa postura suja de mesclar heavy rock com punk, à lá Motorhead, longe da imitação, e com ousadia para inserir uma passagem mais melódica e de peso cadenciado. Segunda melhor faixa do disco!

Os vocais de Manu “Joker” Henriques permanecem poderosos e versáteis, confiantes e bem definidos. O baixo pesado sustenta as harmonias (preste atenção às suas linhas em “Imerso”, e sua parte arrastada de dar orgulho ao Black Sabbath) junto a bateria técnica.

As treze composições de “Servus” continuam equilibrando thrash metalhardcore para emoldurar seus versos contestadores e profundos, criando hinos de revolta um tanto mais experimentais desta vez, como na introdução “Anno Domini” que chega a emocionar, reafirmando ainda mais a ampliação musical deste novo estado evolutivo do Uganga.

Claro, que o passo à frente na musicalidade da banda que é impresso em “Servus”, é resultado de seu antigo estado e a nova ampliação a qual nos referimos no início do texto pode ser conferida na regravação de “Couro Crú”, que ficou mais atual, em parceria com Eremita.

Essa faixa foi originalmente gravada pelo Uganga em seu primeiro álbum, “Atitude Lótus”, de 2003, e ganhou novo arranjo quando o grupo fez a apresentação ao vivo registrada para seu DVD “Manifesto Cerrado”

Uma ampliação que não para por aí!

São texturas no refrão de “Medo”, regionalismos à moda tenaz do Uganga na estrutura e nos detalhes de “O Abismo”, psicodelia emocional de “Dawn”, percussão contundente em “Hienas”,  os efeitos de hip hop de “Couro Crú”. 

E o que dizer de “E.L.A.”Hip hop, bucolismo da viola mineira, melodia acessível! Quanto bom gosto e ousadia numa faixa confessional cuja letra reflete bem a transformação e o renascimento mencionado acima, com participações especiais de Flaira Ferro, dançarina e cantora pernambucana, e Luiz Salgado.

Isso tudo, sem perder uma grama de peso, ou desbotar sua identidade musical. Aliás, trazem ainda mais influências da música brasileira, principalmente nas passagens groovadas, onde claramente reescrevem ritmos brasileiros pelas tintas encorpadas do metal punk.

Novamente com a produção de Gustavo Vasquez, a organicidade dá o tom de “Servus”, conferindo muita honestidade ao resultado final, sendo perceptível a preocupação com pormenores de cada composição, ajudando a potencializar a sonoridade junto aos detalhes corajosos e pertinentes.

A viagem musical promovida em “Servus” faz dele um disco de emoção pura, de quem sabe que a transformação do metal bruto em arte só se faz após aquecimento, marteladas, resfriamento, ajuste, polimento e afiação. Um processo que parece dominado pela banda quase como filosofia alquímica!

Como todo bom iniciado, o Uganga é apegado a velhas tradições, e o cover costumeiramente presente em seus discos desta vez veio para “Lobotomia”, da entidade do punk nacional homônima. Outra tradição mantida são as participações de nomes diversificados, que no caso de “Servus” só enriqueceu ainda mais o resultado final.

“Servus” é um espetacular disco de heavy metal, ora punk, ora thrash, sempre moderno, e forjado por uma banda com identidade forte. Principalmente, este é um disco pra quem gosta de prestar atenção aos detalhes.

Após a gravação do álbum houve uma mudança na formação da banda, com o Maurício “Murcego” Pergentino dando lugar a Lucas “Carcaça”.

Cabe ainda registro de que o álbum foi financiado por dois relevantes prêmios: o Wacken Foundation, organização alemã sem fins lucrativos idealizada em 2008 pelos produtores do Wacken Open Air e que apoia projetos de hard rock e heavy metal de todas as partes do mundo, tendo nomes como o de Alice Cooper entre os doadores; e também pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PMIC) de Uberlândia, Triângulo Mineiro.

E se existiam dúvidas de que o Uganga é um nome diferenciado, não só no cenário nacional, mas sem paralelo no mundo em termos de identidade musical, “Servus” as dizimará!

Um disco pra marcar o ano de 2019!

TRACKLIST

1. Anno Domini
2. Servus
3. Medo
4. O Abismo
5. Dawn
6. Hienas
7. 7 Dedos (Seu Fim)
8. Couro Cru
9. Imerso
10. Lobotomia
11. Fim de Festa
12. E.L.A.
13. Depois de Hoje…

FORMAÇÃO

Manu “Joker” (vocal)
Christian Franco (guitarra)
Thiago Soraggi (guitarra)
Maurício “Murcego” Pergentino (guitarra)
Raphael “Ras” Franco (baixo e vocal)
Marco Henriques (bateria e vocal)

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