Sweet Tooth | Resenha do Genial Épico de Jeff Lemire

 

Sweet Tooth é uma série de revistas em quadrinhos que foi publicada pela editora americana DC Comics através de sua linha editorial Vertigo entre 2009 e 2013, com 40 edições.

O selo Vertigo, um braço da DC Comics, tem presenteado os admiradores das HQ’s com verdadeiras obras de qualidade inestimável.

Com enredos voltados ao público adulto, este selo nos apresenta conteúdos mais profundos adornados com sexo, drogas, violência, magia negra e nenhuma censura nos diálogos.

Desde meados da década de 1980 as páginas do selo vêm nos apresentando verdadeiros clássicos da nona arte que fogem aos padrões do super-heróis tradicionais.

Alguns exemplos máximos são Watchmen, Sandman, Monstro do Pântano, Hellblazer, V de Vingança, Preacher, Lucifer e, mais recentemente, Sweet Tooth, que certamente será um dos marcos recentes na história dos quadrinhos adultos.

Em “Sweet Tooth”, um épico da nona arte criado e produzido pelo escritor e ilustrador Jeff Lemire, tem como cenário um futuro pós-apocalíptico e se dez anos após um evento conhecido como “O Flagelo” devastar o Planeta Terra.

Todas as crianças nascidas após o evento são de uma nova espécie, híbrida entre humanos e animais, inclusive o protagonista, “Gus”, um garoto com traços de cervo.

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Sweet Tooth: Um Genial Épico Pós-Apocalíptico

Uma aventura emocionante e com camadas de mensagens e interpretações, isso é a essência desta obra de Jeff Lemire, quadrinista que já nos ofereceu obras como “Soldador Subaquático”, “Nada A Perder” “O Ninguém”.

Uma década antes do início da trama que se desenrolará em “Sweet Tooth”, o flagelo atacou como fogo em uma floresta e matou bilhões de pessoas.

O tão profetizado apocalipse havia enfim chegado!

As crianças que nasceram após esse evento eram um híbrido entre humanos e animais.

Nosso protagonista, Gus, é uma dessas crianças ameaçadas, um garoto com uma alma pura, uma queda por doces e a feição de um cervo.

E nesse novo mundo, de realidade pós-apocalíptica, crianças como ele valem dinheiro.

Ele vivia tranquilo com seu pai em uma cabana nas profundezas de uma floresta isolado do resto mundo até que foi encontrado por terríveis caçadores.

Mas um estranho brutamontes o protegeu e salvou dos malvados, prometendo levar Gus até a Reserva, um santuário para crianças híbridas como Gus. Esse estranho é Jepperd, um homem tão misterioso quanto violento.

Esse é o começo de uma longa jornada através do devastado território de um país assolado pela peste, e nem Gus nem Jepperd fazem a mais remota ideia de como essa viagem pode transformá-los.

Concebida pela mente criativa de Jeff Lemire, responsável pelo roteiro e pela arte da obra, é destacável desde o primeiro número a forma como a arte gráfica se mostra eloquente dentro da narrativa desta parábola pós-apocalíptica.

As palavras se tornam apenas ferramentas complementares para criar o esqueleto do enredo que tem na emoção pura o motor de arranque da trama.

Toda a dinâmica encontrada no desenvolvimento da saga é obtida pelas ilustrações altamente sugestivas e emocionais, carregadas de cores vibrantes e belíssimos traços, sem atritando opostos, seja de força, ética ou filosofia.

Segundo o próprio Lemire explica: “a escrita e a arte gráfica não estão separadas para mim, tudo acontece junto e de uma maneiro orgânica.”

Baseado num mundo pós-apocalíptico, onde uma praga está desolando a humanidade e aqueles que restam tentam sobreviver, assistindo o nascimento de crianças híbridas meio humanas, meio animais, a história de “Sweet Tooth” traz influências de trabalhos assinados por nomes como Harlan Ellison e Garth Ennis.

O enredo, num primeiro momento, pode parecer minimalista, mas a diversidade de sutilezas discutidas com o desenrolar dos quadrinhos evidenciam uma densa carga de assuntos importantes entremeados à aventura do híbrido Gus e seu companheiro de viagem, Jepperd.

Desde relações humanas, passando por questões éticas em momentos de crise e valores familiares, até ecologia e o impacto dos abusos humanos sobre a natureza, tudo esta sutilmente alocado em cada uma destas páginas, ajudando a construir uma magnífica obra épica.

Na linha de frente, funcionando como uma disfarce para estas sutis discussões importantes, temos uma aventura de um garoto híbrido que viaja pela América do Norte destruída e pós-apocalíptica ao lado do brutamontes Jepperd, um caçador com o rosto marcado pelas agruras dos tempos críticos, em busca das respostas sobre sua origem  e a origem da praga que dizimou grande parte da humanidade.

Nas palavras de John Geddes no USA Today, em algum momento de 2009, “Sweet Tooth é como Mad Max com galhadas”!

Usando as próprias palavras do criador, Jeff Lemire, fica claro após o virar da última página que “a história é toda sobre uma jornada, tanto internamente, enquanto os personagens de desenvolvem, quanto fisicamente”.

Esta é uma verdade irrefutável quando nos damos conta de que “Sweet Tooth” é inteiramente sobre Gus e Jepperd.

O primeiro representando uma nova forma da natureza que desabrocha, enquanto o segundo representa o declínio de uma raça que já teve sua oportunidade neste mundo, mas falhou miseravelmente.

Gus tem esta viagem como um aprendizado para o futuro pioneiro que o aguarda, já Jepperd nos mostra como um ser humano marcado pelos momentos rudes de uma civilização que desmorona pode amar de novo, até mesmo o que não compreende, tendo seu momento de redenção como um digno representante de uma raça que não seguirá adiante.

Neste sentido, o clima bíblico foi genialmente utilizado desde o início da jornada, começando nos primeiros ensinamentos do “pai” de Gus, chegando no ápice do teor bíblico no desfecho.

E que desfecho!

Se você não derramar ao menos uma lágrima nas últimas páginas confira seu coração, pois ele deve ter sido trocado por uma pedra.

Lemire admitira que sempre soubera a forma como iria terminar seu conto heroico épico, e que nunca considerara a hipótese de matar Gus durante a jornada (Aos estressadinhos: isso não se encaixa como spoiler, pois basta uma olhadela na capa do sexto encadernado para perceber que Gus não morre durante o caminho.)

No Brasil, Sweet Tooth, a obra máxima de Jeff Lemire (que já assinou títulos como Homem Animal e Liga da Justiça Dark, via DC Comics) que tive o privilégio de passar os olhos, foi publica em seis encadernados pela editora Panini, entre 2012 e 2014, compreendendo as quarenta edições publicadas originalmente entre  2009 e 2013,

A série foi indicada em 2010 ao prêmio Eisner de “Melhor Nova Série”. Por consequência, Lemire teve seu nome indicado ao mesmo prêmio, em 2012, na categoria “Melhor Escritor” enquanto produzia Sweet Tooth.

Definitivamente, se és um admirador da nona arte, não pode deixar passar esta série despercebida, pois aqui as convenções não imperam e tudo pode acontecer, inclusive Lemire nos enganar em suas declarações!

Um genial clássico recente dos quadrinhos!

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