Steely Dan – “Aja” (1977) | Você Devia Ouvir Isto

 

“Aja”, clássico sexto disco da banda norte-americana de  jazz-rock STEELY DAN, lançado em 23 de setembro de 1977, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTOcuja proposta você confere nesse link.

steely dan - Aja (1977)

Definição em um poucas palavras: Classudo ao quadrado, Jazzístico, Adulto

Estilo do Artista: Jazz Rock, Fusion, AOR.

Comentário Geral:  “Qual o melhor disco de todos os tempos pra você”? Resposta clássica de quase todo amante de música a esta questão: “A cada semana muda! Podem ser cinco?” Minha resposta é quase como um exemplo da terceira lei de Newton. Uma reação imediata e sem pestanejar: “Aja”, do Steely Dan.

Sim! Pra mim esse é disco que mais gosto em todos os mais de três mil que estão fisicamente em minha coleção, e os incontáveis em mp3 e streaming à disposição no mundo moderno. Mas antes de falarmos dele, deixe-me começar refletindo sobre o Steely Dan e sua inserção na música pop. Na minha visão de evolução musical, existem dois tipos principais (mas não únicos) de amálgamas entre o jazz e o rock.

O primeiro foi iniciado por Miles Davis, no final dos anos 60, com o álbum “Bitches Brew”, onde músicos de jazz buscaram explorar e experimentar as texturas elétricas do rock, trazendo como primeiros filhos Herbie Hancock, Weather Report, Mahavishnu Orchestra e Return To Forever. Os arautos do fusion.

Por outro lado, outros nomes que buscaram o caminho contrário. Como membros da cena rock n’ roll, acrescentaram elementos jazzísticos a seu som, quase que simultaneamente ao formato recheado de detalhes técnicos criado por Miles Davis. Desta safra podemos citar baluartes como Frank Zappa, Traffic, Grateful Dead e o Soft Machine, como pioneiros do jazz rock.

Ambas as abordagens são uma espécie de irmãs siamesas da música. Entretanto, o Steely Dan percorreu ainda um terceiro caminho, o sábio “caminho do meio”, se aproximando mais dos descendentes de Miles Davis, mas se inspirando num pop adulto (carregado de elementos do blues, jazz e soul) de nomes como Chicago e Blood Sweat And Tears (dos primeiros anos).

O (à época de “Aja”) duo formado por Donald Fagen e Walter Becker, mentores do grupo que se valiam de convidados e músicos de estúdio em suas gravações, vinha aprimorando sua sonoridade ao longo dos seus cinco álbuns precedentes, até que a fórmula quase perfeita de pop/jazz altamente sofisticado foi atingida em “Aja”, álbum de 1977.

Em “Aja” temos a junção perfeita de solistas e músicos de estúdio para conjurar a forma mais sofisticada da alquimia musical do Steely Dan. E mesmo que cada composição tenha sua individualidade, seu caminho musical variado e sua “formação” diferente, o disco é muito coeso e com identidade muito bem definida pelo núcleo formado por Donald Fagen e Walter Becker.

À esta altura, o  grupo era quase uma festa de estilos e integrantes, sendo referenciada pela revista Rolling Stone como “os maiores anti-hérois musicais da década de setenta”. Porém, mesmo tomando um caminho inverso do sentido comercial, criaram um som pop fascinante, com fluidez, um naipe de metais inesquecível e passagens jazzístcas que jamais foram repetidas com tal brilhantismo em um disco de rock. Misturaram soul music, jazz, AOR e muito bom gosto com precisão cirúrgica.

A abertura com “Black Cow” apresenta a mistura que se ouvirá por todo o disco: soul music, metais sincopados, e belíssimos solos de guitarra, que elevam a classe e a destreza das canções.

Sem dúvidas, o ápice desta obra está  na faixa título. Se ainda não definiram uma forma de poesia musical, pode enumerar “Aja” dentre as candidatas. Esta composição é uma ousada experiência musical, amalgamando várias composições que a banda trabalhava na época, e por seus arranjos de guitarras sensíveis e inteligentes nos leva a um sonho hipnótico, delicado, quebrado somente pelo duelo de bateria (à cargo do genial Steve Gadd) com o sax tenor (de ninguém menos que Wayne Shorter, membro do Weather Report) que permeiam esta pérola da música moderna.

Por esta faixa que vemos o Steely Dan usa camadas sobrepostas de instrumentação, fazendo com que cada movimento calculado soe natural, quase parecendo improvisado. E este é só o início do álbum. Ainda temos a magistral e suave “Deacon Blues” (o grande hit), a quase disco music “Peg”, que alterna ritmos dançantes, refrão alegre e harmonias gloriosas, e o boogie “Josie” (um R&B brilhante, que soa simples).

Ao findar a audição tem-se a impressão de ter ouvido um dos grandes álbuns da história da música, mas a certeza de apreciar um dos pilares do bom gosto musical dos anos 1970. “Aja” não é pop, nem jazz, e muito menos rock! Mas isso tudo ao mesmo tempo. Impossível não virar o disco e começar o lado A novamente. VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO! Obviamente…

Ano: 1977

Top 3: “Aja”, “Deacon Blues” e “Black Cow”

Formação: Donald Fagen (sintetizador, teclados, vocais), Walter Becker ( baixo e guitarra) e mais de três dezenas de músicos de estúdio e convidados para as sessões de gravação.

Disco Pai: Blood Sweet And Tears: “Blood Sweet And Tears”  (1969)

Disco Irmão: Weather Report: “Heavy Weather” (1977)

Disco Filho: Donald Fagen: “The Nightfly” (1982)

Curiosidades:  O álbum vendeu cinco milhões de cópias, sendo o maior sucesso comercial da banda. O título do álbum é uma clara alusão à Ásia e foi inspirado pela esposa coreana de um amigo de escola de Fagen e na capa temos a modelo japonesa Sayoko Yamaguchi. Das inúmeras sessões de gravação desta obra restou uma enorme quantidade de canções. Muitas delas foram usadas por Donald Fagen em seu álbum solo de 1982, o estupendo The Nightfly.

Pra quem gosta de: Oriente, músicos de estúdio, requinte, toca-discos, audiofilia e vinho tinto.

Leia Mais

Ofertas de Discos do Steely Dan

Outros Artigos que Podem Ser do Seu Interesse:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *