Santa Gang | O Genuíno Rock N’ Roll Feito no Brasil

 

A Santa Gang precisou apenas de um compacto com três músicas para entrar na história do rock nacional, tamanha era a competência com que faziam suas músicas. Foi uma banda que criou sua reputação nos palcos do Brasil entre 1979 e 1986, enquanto lutava contra as adversidades do underground e buscava seu lugar ao sol. Mas antes de falar da Santa Gang, convém encaixa-la rapidamente no contexto histórico do rock nacional da época.

No meio de toda a mistura com as múltiplas faces da música brasileira que existia no rock nacional entre 1968 e 1982, o som de guitarra, baixo, voz e bateria puro e simples se tornou equivalente ao rock pesado apresentado na Europa e nos Estados Unidos por nomes como Black Sabbath, Deep Purple, Led Zeppelin, AC/DC e Grand Funk Railroad.

Santa Gang

 

Sendo assim, o rock básico e visceral das bandas nacionais era o que havia de mais pesado naqueles dias, e dentre os principais nomes estavam O Peso, Casa das Máquinas, Made In Brazil, Bicho da Seda e Patrulha do Espaço.

Todavia, existiu uma banda icônica, mas que lançou apenas um single oficial: a Santa Gang, que fazia um rock n’ roll sincero e de extrema qualidade.

A Santa Gang do Rock Nacional

A história da Santa Gang começa com Lucio Zapparoli, vocalista e líder da banda, trabalhando na equipe técnica do Made in Brazil e aprendendo tudo o que podia sobre o rock n’ roll. Em 1978 ele resolve fundar sua própria banda.

Começa a compor e a buscar músicos para compor a formação que seria rotativa durante toda a existência da Santa Gang entre 1979 e 1986. Nesse período gravaram apenas um histórico compacto (ou single) com três faixas, que era o que o dinheiro permitia naquele momento para pagar o tempo em estúdio.

A banda até tinha outras composições prontas, mas não havia investimento financeiro para ajudar a bancar a gravação de um álbum completo e quase tudo saía do bolso do próprio Lucio Zapparoli.

O material foi produzido pelo próprio Lucio Zapparoli, tendo o apoio do baterista Rolando Castello Júnior, da Patrulha do Espaço na parte técnica. Ou seja, era o do-it-yourself do rock independente levado ao seu máximo num processo de produção que durou oito meses.

O Compacto da Santa Gang de 1981

O compacto lançado pela Santa Gang em 1981 trazia as músicas “Rock’n’roll pra valer”, “Chiclete de Hortelã” e “Dourados Anos 50”. A formação que gravou o single é tida como a formação clássica completada por Raul e Dedé nas guitarras, Walter no baixo e Silvio Sizudo na bateria.

Uma pesquisa rápida pelo YouTube e você conseguirá conferir todo o material que abre com a pegada maliciosa e bluesy de “Chiclete de Hortelã”, uma faixa que mostrava toda a influência que a Santa Gang tinha nos Rolling Stones e cuja letra é um destaque à parte. Este talvez seja o mais clássico da Santa Gang, como o próprio Lucio Zapparoli assumiu em entrevista ao canal Vitrola Verde, em 2019.

Inclusive, fica nítido que os guitarristas haviam estudado muito bem as técnicas e trejeitos de Keith Richards, Mick Ronson, Eric Clapton e Mick Taylor, algo marcante nas linhas da ótima “Dourados Anos 50”, com uma explosão no final de dar gosto ao Led Zeppelin.

Obviamente, a qualidade de gravação não é das melhores, mas a organicidade, a honestidade e a vontade de tocar o puro rock n’ roll compensa qualquer perda técnica de produção, como ouvimos na lascivo e cortante “Rock’n’roll pra valer”. 

A verdade é que ouvindo agora, mesmo com toda a excelência roqueira, a Santa Gang já estava datada para a sonoridade que as gravadoras procuravam no início da década de 1980. Eles ofereciam o rock primitivo dos Rolling Stones a um mercado que queria o colorido açucarado da new wave ou as sombras góticas do pos-punk.

Um Titã Na Santa Gang

E é justamente na bateria que reside uma curiosidade interessante: quem aparece nas fotos da época não é Silvio, que saiu da Santa Gang pouco depois da gravação, mas sim Charles Gavin, que pouco tempo depois estaria nos Titãs.

Charles veio para a Santa Gang após ter iniciado a carreira de baterista no Zero Hora e passar pela banda de garagem chamada Zona Franca, onde tocava também o Dedé da Santa Gang. Quando Silvio Sizudo saiu da Santa Gang após gravar o compacto, Dedé convidou Charles Gavin para entrar na gangue.

Outro nome conhecido passou pela bateria da Santa Gang: o crítico Regis Tadeu.

O Ocaso da Santa Gang

Longe das facilidades digitais da atualidade, Lucio Zapparoli experimentava diariamente a dificuldade de fazer rock no Brasil sem o incentivo de uma gravadora, o que só deixava ainda mais difícil manter uma formação estabilizada.

Com uma alta rotatividade na formação era difícil criar um entrosamento, mas os shows chamavam a atenção, pois o equipamento de efeitos e luz da banda eram da empresa de locação do próprio Lucio Zapparoli.

Em 2019, Lucio Zapparoli reativou a Santa Gang com novos músicos para abrir um show da banda Power Blues (e que pode ser conferido aqui) e até o momento este foi o último sopro de vida da Santa Gang, uma das pérolas perdidas do rock brasileiro!

Infelizmente, Lucio faleceu em 2021 e com ele se foi a alma da Santa Gang!

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