“Shock Tactics”, clássico terceiro disco da banda SAMSON, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO, cuja proposta você confere nesse link.
Definição em um poucas palavras: Fim de uma era, metal inglês, guitarra, pesado, Bruce Dickinson.
Estilo do Artista: NWOBHM
Comentário Geral: O Samson que grava “Shock Tactics” era bem diferente daquele que gravou o antecessor, “Head On”.
Não que os integrantes tenham mudado, pois o quarteto Bruce Bruce (vocais), Paul Samson (guitarra e vocais), Chris Aylmer (baixo) e Thunderstick (bateria) ainda estava por aqui.
Porém, aquela banda renovada pela entrada do vocalista e do baixista, famintos por rumar para o estúdio e gravar “Head On”, entrava no Battery Studios, em Londres, para gravar o álbum seguinte com sérios problemas.
Além de não conseguirem o sonhado contrato com a EMI (que ficou com o Iron Maiden), existia um atrito entre Paul Samson e Bruce Bruce pesando no ar e que fora gerado na turnê de “Head On”.
Não obstante, começavam a surgir os atritos quando as preferências musicais entre o baterista Thunderstick e o retante da banda.
Mesmo com esses problemas, o quarteto que registrou “Head On” ainda entraria em estúdio e sairia de lá com seu terceiro álbum, “Shock Tactics” (1981), e o último de Bruce Dickinson no Samson.
Apesar de menos de cinco anos de existência, o Samson de 1981 era uma banda em franca ascensão no cenário da NWOBHM.
Eles estavam num segundo escalão do movimento, mas já despontando junto com o Angel Witch para disputar um lugar na primeira prateleira com o Iron Maiden, o Def Leppard, o Saxon e o Venom.
Só para situar o leitor, por New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM) se entende como o movimento de recuperação do heavy metal britânico, liderado pelos herdeiros de bandas como Black Sabbath, Led Zeppelin, Wishbone Ash, Thin Lizzy e Judas Priest, em resposta à explosão do punk rock à partir de 1977.
O fato é que, em 1981, bandas como Samson, Iron Maiden, Def Leppard, Saxon e Angel Witch viviam uma velada competição para saber quem seria o grande nome do metal inglês e, de certa forma, o Samson e o Saxon saíam na frente em 1980, pois lançavam um disco atrás do outro.
O próprio Paul Samson tinha consciência disso e declarou anos mais tarde que naquele momento “eles tinha a crença de que faltava apenas um single de sucesso para alcançarem o Iron Maiden e o Def Leppard”.
Mas Bruce Dickinson tinha uma visão diferente dessa época no Samson:
“No início eram basicamente Samson, Saxon, Iron Maiden e Def Leppard. Esses eram os quatro. Perdemos terreno rapidamente. Acho que porque tivemos muitos problemas de negócios. O Maiden rapidamente avançou com uma imagem forte. Éramos um bagunça completa.”
O jogo só viraria de vez com a ida de Bruce Dickinson para o Iron Maiden, a mais promissora das quatro, e que se tornaria a maior banda de heavy metal de sua geração.
Daquele período, o Angel Witch (que tinha o maior número de apostas de sucesso) e o Samson ficariam pelo caminho (a segunda ainda lançaria mais alguns álbuns), o Def Leppard se renderia ao mercado americano (e seria a mais bem sucedida comercialmente) e o Saxon se manteria firme com uma discografia irrepreensível.
Isso posto, vamos voltar a “Shock Tactics”, terceiro disco de estúdio da banda fundada por Paul Samson, em 1977, na cidade de Londres.
Assim como o disco anterior, “Head On”, temos novamente músicas fortes, com peso heavy metal e referências ao classic/hard rock da década de 1970, como em “Riding With The Angels” (originalmente de Russ Ballard), “Nice Girl” (um blues rock com a marca da NWOBHM), “Bright Lights”, “Grimme Crime” e “Blood Lust”.
“Riding With The Angels”, aliás, remete ao que o Judas Priest fazia na mesma época, enquanto “Blood Lust” olha para o passado do Black Sabbath e de certa maneira antecipa o stoner metal em quase uma década, inclusive com algumas experimentação psicodélicas.
Musicalmente, o Samson soava agora como um encontro mais disciplinado e menos impetuoso de discípulos de Jimmy Page, Ian Gillan, Pete Way e Keith Moon, numa costura de referências que funcionava muito bem.
De fato, os arranjos estavam mais focados e as músicas melhor trabalhadas.
Além disso, Bruce Dickinson soa mais confiante e definido em suas linhas, com sua estrela brilhando muito mais que a de seus companheiros ao já impor o timbre e a alta capacidade interpretativa que seriam suas marcas no restante da década.
Isso fica evidente em faixas com como “Earth Mother”, “Go To Hell” (onde o vocalista carrega sozinho uma música simples), “Once Bitten”, na bônus “Losing My Grip” e, principalmente, em “Communion” (uma melhores músicas da banda).
A produção de Tony Platt (que havia produzido o hit “Women in Uniform”, do Iron Maiden) ajudou o Samson a conseguir uma sonoridade melhor e mais profissional, se comparado ao disco anterior.
“Shock Tactics” despiu um pouco do aspecto setentista das timbragens que eram tão marcantes no disco anterior, mas a proposta musical permanecia a mesma, apenas com a sonoridade atualizada pela produção.
A turnê de “Shock Tactics” deixou suas marcas no time de músicos. A relação com Bruce Dickinson já era bem abalada e o próximo a se desentender foi o baterista Thunderstick, mas, ao contrário do vocalista, sua saída do Samson foi imediata.
O baterista queria que o Samson investisse mais na teatralidade, buscando influências no legado de Alice Cooper, e o restante do músicos queria seguir em direção mais reta rumo às suas raízes hard rock.
Para substituí-lo recrutaram o baterista Mel Gaynor e fizeram duas apresentações históricas no Reading Festival de 1981, motivando as gravadoras A&M e RCA (que já havia lançado “Shock Tactics”) a fazerem grandes ofertas para o Samson.
Porém, a platéia tinha também a presença de Ron Smallwood e Steve Harris, que estavam tendo problemas com Paul Di’Anno e procuravam um novo vocalista para o Iron Maiden.
Aquele show seria o último de Bruce Dickinson no Samson, que logo já receberia o convite do Iron Maiden e começaria a ensaiar com a banda.
A saída de Bruce Dickinson pegou o Samson e a gravadora de surpresa. Na verdade, o vocalista achava que Paul Samson estava aliviado com sua saída: “Paul não ficou surpreso quando eu saí e foi um alívio para ele, porque ele queria estar mais no controle.”
Obviamente, o guitarrista e agora líder efetivo do Samson não contava que as ofertas para a banda fossem retiradas e o Samson começasse a experimentar seus maiores problemas, financeiros e musicais.
Da passagem de Bruce Dickinson pelo Samson ainda teríamos um disco ao vivo registrado no Reading Festival de 1981, lançado em 1991, e intitulado “Live At Reading Festival ’81”, que junto a “Shock Tactics” acabou de ser relançado no Brasil pela Hellion Records em formato slipcase, com direito a faixas bônus (com destaque a “Pyramid to the Stars”) e pôster da capa junto aos outros dois primeiros discos do Samson.
Aproveite e confira esse capítulo importante da história do metal inglês!
Ano: 1981
Top 3: “Riding With The Angels”, “Communion” e “Blood Lust”.
Formação: Bruce Bruce (vocais), Paul Samson (guitarra e vocais), Chris Aylmer (baixo) e Thunderstick (bateria).
Disco Pai: ELF – “Trying To Burn The Sun” (1975)
Disco Irmão: Iron Maiden – “Killers” (1981)
Disco Filho: Bruce Dickinson – “Tattooed Millionaire” (1990)
Curiosidades: O substituto de Bruce Dickinson no Samson foi Nicky Moore, um veterano que havia passado por bandas como Hackensack e Tiger, e gravaria os discos “Before The Storm” (1982) e “Don’t Get Mad, Get Even” (1984).
Além disso, a história ainda conta que o Iron Maiden estrava gravando seu disco “Killers” no mesmo estúdio e na mesma época que o Samson trabalhava em “Shock Tactics”.
Pra quem gosta de: Jeans & Couro, colete com patches, músicos mascarados e cerveja gelada.
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