Elf – “Trying to Burn the Sun” (1975) | Você Devia Ouvir Isto

 

Confira a proposta desta seção aqui

Dia Indicado para ouvir: Quinta-Feira;

Hora do dia indicada para ouvir: oito da noite;

Definição em poucas palavras: Retrô, Classudo, Guitarra, Blues, América.

Estilo do Artista: Hard/Blues Rock

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Elf: “Trying to Burn the Sun” (1975, MGM Records, Purple; 2017, Hellion Records)

Comentário Geral: O Elf era a banda de abertura do Deep Purple, cujos dois primeiros álbuns,  “Elf” (1972) e “Carolina County Ball” (1974) , foram produzidos por Roger Glover (o primeiro também teve Ian Paice na produção), sendo que o segundo disco havia, inclusive, sido lançado pelo selo Purple Records. Muito além desta ligação com a clássica banda inglesa, os norte-americanos do ELF também se viram no olho do furacão que marcou a saída de Ritchie Blackmore do Deep Purple.

A história nos conta que, encantado com a voz de Ronnie James Dio, à época ainda no Elf, Blackmore convidou o vocalista para registrar um cover do Quatermass, para a  faixa “Black Sheep of the Family”, que seria lançada como single solo do guitarrista. A primeira parceria da dupla se deu em dezembro de 1974, dentro de uma das folgas da turnê do Deep Purple.

Porém, Blackmore percebeu que a composição inédita, “Sixteenth Century Greensleeves”, que iria para o Lado B do single, ficou excelente, motivando-o a evoluir de duas músicas para um álbum completo, gravado entre fevereiro e março de 1975.

Este álbum seria o primeiro do Rainbow, que Dio gravou ao mesmo tempo em que o Elf registrava “Trying to Burn the Sun”, terceiro álbum da sua (àquela época) banda principal.

Para economizar tempo e esforço, Blackmore convocou os integrantes do Elf, exceto o guitarrista Steve Edwards, claro, para registrar o que nasceria como “Ritchie Blackmore’s Rainbow”, em 1975, iniciando a história de uma das mais importantes bandas do Rock.

Confira a faixa “Black Swampy Water”… 

Talvez por isso, “Trying to Burn the Sun” soa um tanto morno, com cara de cumprimento de tabela. O disco trazia a adição do baterista Mark Nausef, além da supervisão do próprio Blackmore, que não tocou no álbum como alardeavam algumas lendas.

É fato que temos um som mais direto e relativamente mais pesado se comparado aos outros dois anteriores, como já podemos perceber na simplicidade de “Black Swampy Water”, de acentuado sabor soul/R&B no rock n’ roll guiado pela voz dramática e poderosa de Dio, indiscutivelmente o brilho máximo da formação.

Esta faixa traz um bom refrão e espirito setentista encarnado, dialogando com a década de sessenta, principalmente no que tange ao feeling e à grandiloquência melódica que entremeia a energia e a rusticidade advinda da herança do blues rock. Também mostram essas características faixas como “Liberty Road”, “Streetwalker”, e o boogie/jazz de “Shotgun Boogie”. 

Aliás, “Shotgun Boogie”, com seus improvisos e solos em ritmo vertiginoso evidencia algo de progressivo na sonoridade, também presente na belíssima “Wonderworld”. Por aí, fica claro como o instrumental está certeiro nestas composições. Mesmo que nada rebuscado, no geral, está tudo bem feito. A cozinha vem concisa e competente, como vemos em “Prentice Wood” (com forte aroma southern) com sua estrutura sincopada que guiam melodias vigorosas e climáticas.

Confira a faixa “Liberty Road”… 

Existe sim um sabor de fim de banda pairando nestas composições, uma marca de fim de ciclo, e até mesmo um certo cansaço nos desenvolvimentos se comparado à excelência criativa de “Carolina County Ball” (1974) ou a energia de “Elf” (1972). Mas ainda consegue ser muito acima da média em sua proposta.

Por outro lado, a certeza do fim da banda também dá margem para ousar em momentos mais acessíveis e voltadas ao R&B da época, bem representado em “When She Smiles”, uma balada climática de sabor teatral nos teclado dramáticos, solo bluesy, e ritmo soul  quase pop (mais eloquente em “Good Time Music”) à menos de suas passagens que geram voltas viajantes nos arranjos.

Por todo o trabalho existe um tom burlesco, com arranjos típicos dos musicais, principalmente nas linhas de piano.  E “Trying to Burn the Sun” é fatalmente um disco mais voltado ao piano do que às guitarras. O piano boogie é mais proeminente dentre as influências da música americana que constrói o rock do Elf deixando o resultado final, junto a produção de Roger Glover, mais amaciado e caloroso.

Este direcionamento para o piano é compreensível, se pensarmos que o guitarrista sabia que seria escanteado no futuro e antes mesmo do lançamento de “Trying to Burn the Sun” a banda já não existia mais, sendo que Mark Nauseef e Steve Edwards foram demitidos antes do restante da banda se juntar ao Rainbow.

Se “Trying to Burn the Sun” não possui a consistência de “Carolina County Ball” (1974), seu atrativo maior é ver Dio investindo em uma postura mais soul para seus vocais, afinal, o disco é muito calcado no soulful rock e no blues de bar, com algo de southern rock.

Confira a faixa “Shotgun Boogie”… 

Top 3: “Black Swampy Water”, “Liberty Road”, e “Shotgun Boogie”“.

Formação: Ronnie James Dio (vocais), Steve Edwards (guitarras),  Mickey Lee Soule (teclados),  Craig Gruber (baixo), Gary Driscoll (bateria) e Mark Nauseef (percussão).

Disco Pai: Deep Purple: “Who Do We Think We Are” (1972)

Disco Irmão: Ritchie Blackmore’s Rainbow: “Ritchie Blackmore’s Rainbow” (1975)

Disco Filho: Bible Black: “Ground Zero” (1985)

Curiosidades: “Trying to Burn the Sun” ficou engavetado por vários meses na Inglaterra, para não ter seu lançamento coincidindo com o primeiro disco do Rainbow. Além disso, existiam rumores sobre um disco ao vivo que nunca chegou a ser lançado oficialmente.

Pra quem gosta de: Bourbon, climas retrô, cabelos compridos aos 40, vocalistas que soltam o gogó, discos de vinil e cerveja escura.

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