Raven – Resenha de “Metal City” (2020, Shinigami)

 

“Metal City” apresenta o retorno do Raven, trio liderado pelos irmãos John e Mark Gallagher, após cinco anos de seu último de estúdio, “ExtermiNation” (2015).

power trio lendário para o heavy metal teve seus altos e baixos na discografia mas conseguiu, com aquele disco de 2015, restabelecer um padrão de qualidade, que se não equipara ao apresentado na época da NWOBHM, também não mancha seu legado.

Numa primeira audição, “Metal City” chama a atenção pela liberdade criativa e pela energia que emana de suas dez faixas.

Muito disso se deve à entrada do baterista Mike Heller, que deu nova vida à sonoridade marcante do Raven. Ele substituiu Joe Hasselvander, que sofreu ataque cardíaco e teve que encerrar a carreira como músico.

Raven - Metal City (2020, Shinigami Records) capa
Raven – “Metal City” (2020, Shinigami Records)

De várias maneiras “Metal City” é surpreendente e instigante.

À começar pelo tradicionalismo que abre espaço para novas possibilidades musicais, tirando qualquer aspecto datado das composições.

Claro que os modos oitentistas do heavy metal continuam sendo praticados pelo trio, mas existe uma energia renovadora no espírito do Raven, refletido nas músicas.

O fato é que o Raven está numa crescente de qualidade desde “One for All” (2000), disco que pôs fim ao tormento apresentando em sua fase noventista e voltado à sonoridade que faziam na década anterior.

Muito dessa retomada se deu pelo volta do produtor Michael Wagener, com quem trabalharam em “Stay Hard” (1985).

Isso é um elemento importante, pois de certa maneira, tentaram o mesmo artifício ao chamar novamente Wagener para capitanear o trabalho em estúdio de “Metal City”.

Talvez esse seja o diferencial existente à favor deste novo trabalho em comparação ao antecessor, pois ambos possuem o espírito do Raven, mas em “Metal City” conseguimos também perceber uma evolução.

Outro aspecto que surpreende é a agressividade de algumas músicas.

Claro que os refrãos certeiros estão aqui, bem como as boas melodias de guitarra guiando o heavy metal clássico do power trio e a intensidade intrínseca à sua sonoridade, mas, de fato, eles pesaram um pouco mais a mão na agressividade.

O que só deixa o resultado final ainda mais cativante.

Isso fica claro em pedradas como “Top of the Mountain” (com ritmo vertiginoso e um refrão certeiro!), “Battlescared” (não só por invocar o lema “One For All, All for One” essa se torna uma das melhores do disco), “Motorheadin'” (advinha a quem estão se referindo? Outro destaque do trabalho!)  e “Break” (com direito a guitarras dobradas em certo momento) que soam o velho Raven, só que anabolizado.

Já a energia que emana de faixas como “The Power” (a abertura explosiva!), “Human Race” (com uma linha de bateria brutal e boas guitarras), “Cybertron”, e “Not So Easy”  fazem jus ao rótulo autoproclamado de Athletic Rock, uma dissidência do speed/heavy metal exclusividade do Raven.

Porém, os grandes destaques por aqui vão para a faixa-título e “When Worlds Collide”.

A primeira pela melodia cativante nas linhas vocais e nas guitarras, além de certo groove envolvente e um refrão que gruda na sua cabeça desde a primeira audição.

Já a segunda pela cadência trabalhada, pela melodia sinuosa que remete ao Black Sabbath, e por outro refrão impecável, além do clima épico/sombrio criado por dissonâncias e timbragens graves.

Eu confesso que esperava uma continuidade do que eles entregaram em “ExtermiNation” (2015), toda aquele velha honestidade e energia, mas a continuidade da proposta como feita aqui me surpreendeu pela alta octanagem empregada.

Os riffs e solos de guitarras estão vibrantes e o baixo encorpado toma pra si o protagonismo diversas vezes, sendo que existem vários diálogos iracundo entre ambos, enquanto a bateria sólida e técnica sustenta o ritmo frenético das composições.

Porém, o Raven carrega a maturidade advinda da experiência e sabe manejar sua fórmula controlando bem o atrito entre peso e melodia, sem perder em adrenalina e determinação.

A capa é um destaque à parte, resgatando a imagética dos quadrinhos e o bom humor que o Raven carrega desde o início de careira em Newcastle .

Aliás, o título do disco é uma referência à cidade natal da banda, que também revelou nomes como Venom, Atomkraft, Satan e Skyclad.

Se você gostou de “Walk Through Fire” (2010) e “ExtermiNation” (2015), pode ir atrás deste “Metal City”, pois ele é uma mistura dos dois só que muito melhor produzido.

Em suma, o Raven conseguiu criar um bom álbum, que não é perfeito, mas ainda deixa uma grande parte do trabalho de bandas mais jovens para trás.

FAIXAS:

1. The Power
2. Top of the Mountain
3. Human Race
4. Metal City
5. Battlescarred
6. Cybertron
7. Motorheadin?
8. Not So Easy
9. Break
10. When Worlds Collide

FORMAÇÃO:

John Gallagher (vocal e baixo)
Mark Gallagher (guitarra)
Mike Heller (bateria)

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