Dune Hill – Resenha de “Song of Seikilos” (2019)

 

A banda pernambucana Dune Hill apresenta evolução já na capa de “Song of Seikilos” (2019), seu segundo álbum de estúdio que chega cinco anos após “White Sand”.

Desde já, vamos deixar registrado que este trabalho vai muito além de conter um dos últimos registros em estúdio de André Matos, na faixa “The Mirror”, gravada um ano antes de seu falecimento.

Além de André Matos, também participam do disco o guitarrista e vocalista Antonio Araújo (Korzus e One Arm Way), a vocalista Deborah Alencar, e os o guitarristas Nenel Lucena (Bride) e Felipe Wolfenson.

O Dune Hill é um nome forte já dentro do hard n’ heavy nordestino, tendo se apresentado em festivais como Abril Pro Rock e FIG, além de colecionar aberturas de shows para Angra, André Matos, Dr. Sin e Sonata Arctica.

Dune Hill - Song of Seikilos (2019, Independente)
Dune Hill – “Song of Seikilos” (2019, Independente)

Voltando a “Song of Seikilos”, a arte da capa concebida por Rodrigo Bastos Didier (que já ilustrou a capa de “Secret Garden” para a banda Angra) dialoga com o corajoso conceito do disco, que narra a história do casal Bella e Alex, duas mulheres que buscam viver o amor apesar das adversidades.

Sem sombra de dúvidas, apesar da rica musicalidade do Dune Hill, o grande trunfo de “Song of Seikilos” reside nas letas de Leonardo Trevas, que tratam de uma história de amor que resiste ao tempo.

Por vias míticas, fantásticas e alegóricas, ele é capaz de tratar de temas atuais e controversos como preconceito, homofobia, consumo de drogas, e reencarnação, com muita destreza.

Assim como a temática, a música que a embala também é livre, insinuante e ousada, num espectro variado de estilos que passeia por hard rock, blues, heavy metal rock progressivo com muita personalidade e foco.

Isso já pode ser sentido na faixa de abertura, que também empresta o nome ao disco e traz belas vocalizações emolduradas por instrumentos acústicos desenhando motivos folk.

Essa música tem uma curiosidade interessante, pois é uma releitura do epitáfio de Sícilo ou Seikilos, famoso por ser o mais antigo exemplo encontrado de uma composição completa, incluindo notação musical e letra, no mundo ocidental.

Essa abertura promete uma ousadia estílica que reaparecerá mais à frente no ótimo blues “Absalom’s Blues” e na belíssima “Ending Dawn” (centrada num brilhante trabalho vocal). Mas chegaremos lá.

Mas a segunda faixa, “Dune Hill”, já se apresentará mostrando que o heavy metal é a tônica por aqui, com ritmo forte bem marcado e guitarras incendiárias. Daquelas músicas que empolgam e valem o trabalho.

Além das guitarras, os vocais de Leonardo Trevas (a criatividade dele para criar linhas imprevisíveis, equilibrando técnica e feeling impressiona) e o baixo de Pedro Maia (que será uma eficiente carta na manga em diversos momentos) também chamarão a atenção nessa música.

O repertório continua um desfile de bons riffs, linhas vocais determinadas, arranjos versáteis, melodias consistentes e envolventes, além de solos vibrantes ao longo de destaques como “Set You Free” (onde adrenalina e técnica caminha juntas), “Addiction” (atenção às linhas vocais), “Eldorado” (com seus timbres mais sujos e noventistas) e “Queen’s Roads” (que resume aquilo de melhor o Dune Hill sabe fazer: heavy metal com requinte e emoção).

É interessante observar que o Dune Hill se fixa no ponto médio entre o heavy metal e o hard rock de uma forma muito própria, atritando o conteúdo clássico com o moderno por influências óbvias, mas de forma inteligente e sem querer “reinventar a roda”.

Evidências disso podem ser encontradas em faixas como “God Delivering” (e suas rápidas tangências progressivas), “South” (um hardão de primeira introduzido pela já citada “Absalom’s Blues”), e “The Last Night” (que me pareceu uma fusão bem própria de Iron Maiden com Queensryche).

Inegavelmente “The Mirror” é o grande destaque não só pela participação de André Matos, mas pelo groove pesado e pelas ótimas melodias sobre as quais é construída, me lembrando muito o Queensryche da fase “Rage For Order”.

Porém, grande destaque nem sempre é sinônimo de melhor composição.

E esse título em “Song of Seikilos” vai para “Hypnos and Thanathos (Overdose)”, com diferenciados timbres de guitarra, ritmo bem estruturado por linhas de bateria precisas, além de arranjos belíssimos, com um feeling progressivo que me remeteu ao Pain of Salvation, até desembocar num power metal épico e cheio de tensão.

Aqui cabe menção ao excelente trabalho em estúdio (a produção musical do disco é por conta de Antonio Araújo, a gravação e mixagem por Nenel Lucena e masterização de Leo D – Mundo Livre S/A) que conseguiu deixar toda a proposta coesa, orgânica e trabalhada aos detalhes.

Com esse disco, Leonardo Trevas se apresenta como um talento puro do nosso heavy metal. Seja como vocalista ou compositor ele é um dos discípulos dos grandes mestres que devemos acompanhar de perto.

Pode anotar a Dune Hill na sua lista de promessas do metal nacional para a nova década que se abre.

FAIXAS:

01. Song of Seikilos (part. Deborah Alencar)
02. Dune Hill
03. Set You Free (part. Nenel Lucena)
04. Addiction
05. God Delivering
06. Absalom’s Blues (part. Felipe Wolfenson)
07. South
08. The Mirror (part. André Matos)
09. El Dorado
10. The Last Night (part. Antonio Araújo)
11. Hypnos/Thanatos
12. Ending Dawn
13. Queen’s Roads

FORMAÇÃO:

Vocais: Leonardo Trevas
Baixo: Pedro Maia
Guitarras: Felipe “TDB” Calado e André Lego
Bateria: Otto Notaro

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