Biff Byford – Resenha de “School of Hard Knocks” (2020)

 

Biff Byford - School of Hard Knocks (2020, Hellion Recods, Silver Lining Music)
Biff Byford – “School of Hard Knocks” (2020, Hellion Recods, Silver Lining Music)

A expressão “school of hard knocks” poderia ser encarada como uma equivalente em inglês para a nossa “escola da vida”, pois também reforça a capacidade das experiências práticas advindas das dificuldades cotidianas para suplantar a educação formal.

E se o assunto é heavy metal, poucos poderiam usar tal expressão para confrontar o conhecimento acadêmico embasado por sua sabedoria advinda da experiência de vida, desde a infância no intenso norte da Inglaterra, como Peter Rodney Byford, mais conhecido como Biff Byford, o vocalista do Saxon.

Em fevereiro de 2020, Biff Byford nos deu uma demonstração disso com seu primeiro álbum solo em quase cinco décadas de carreira (seu primeiro trabalho em estúdio aconteceu em 1971, com a banda psicodélica Jumble Lane), intitulado “School Of Hard Knocks” e que foi lançado no Brasil via Hellion Records.

O vocalista já ganha pontos pelo time de músicos que convidou para trabalhar no disco: Fredrik Åkesson, do Opeth, nas guitarras, Christian Lundqvist, na bateria, e Gus Macricostas, no baixo.

Ainda temos convidados de peso como Phil Campbell (Motörhead/Phil Campbell & The Bastard Sons), Alex Holzwarth (Rhapsody of Fire and Turilli / Lione Rhapsody), Nick Barker (Voices), Dave Kemp (Wayward Sons) e Nibbs Carter (Saxon).

O trabalho em estúdio, dividido entre Jacky Lehmann (gravação), no Brighton Electric Studios, e Mats Valentin (mixagem) no Queen Street Studios, é brilhante também, deixando tudo por aqui o mais vibrante, honesto e orgânico possível.

Até pelo título já sabemos o que esperar destas onze faixas que compõem o trabalho: heavy metal e um tom pessoal nas letras, mesmo quando Biff busca partes da história de sua terra natal.

Musicalmente, existem referências que passam por todas as fases de suas carreira com o Saxon, desde o heavy metal típico da NWOBHM, até o hard rock da segunda metade dos anos 1980, além da fusão das duas abordagens que fez desta banda uma das mais representativas na atualidade no quesito metal tradicional.

“Welcome to the Show”, por exemplo, abre o disco com uma pegada hard n’ heavy que me lembrou do ótimo “Dogs of War” (1990), mas trazendo detalhes diferentes nos arranjos e até algo mais moderno, assim como ouviremos na cadenciada “Black and White”.

Na sequência, “School of Hard Knocks”, uma das melhores do disco, mantém esse apelo hard n’ heavy, mas agora remetendo a algo puramente britânico, como se o Saxon se fundisse ao Def Leppard em 1983, dando foco ao refrão e às guitarras.

Já “Pedal to the Metal” “Hearts of Steel” parecem composições feitas para seus clássicos discos da era áurea do Saxon, ali entre “Wheels of Steel” (1980) e “Crusader” (1984), com solos afiados, palhetadas abafadas que empolgam e refrãos certeiros.

Esse é o tipo de música que reforça a máxima de que o heavy metal precisa apenas de um bom refrão e um riff “ganchudo” pra ser empolgante! O restante são detalhes construídos em torno destes dois elementos.

Diz a sabedoria popular que  dentre as três coisas que todo homem deve fazer, uma delas é escrever um livro. Acho que não seria exagero, pelo apelo autobiográfico, tanto em musicalidade, quanto na abordagem das letras, atribuir a este disco o equivalente ao livro da vida de Biff Byford.

As versões de “Throw Down The Sword” (reforçando o impacto que o Wishbone Ash tinha na geração que iniciou a NWOBHM) e da canção folk “Scarborough Fair” (muito lembrada pela interpretação marcante da dupla Simon & Garfunkel) dão ainda mais respaldo ao caráter pessoal desta trabalho.

“Inquisitor” é um interlúdio interessante, por seguir a temática histórica de músicas como “Crusader” e “Conquistador”, além de trazer a dramaticidade épica como parte da trinca de músicas onde o peso puramente metálico das guitarras será permanente, completada por “The Pit And The Pendulum” e “Worlds Collide”.

Enquanto a primeira, uma composição inspirada no conto homônimo de Edgar Allan Poe, é carregada de sombras nos arranjos dramáticos e que beiram o progressivo, a segunda chega com determinação agressiva da seção rítmica e o peso grave das guitarras, te lembrando de momentos pesados de discos como “Metalhead” ou “Killing Ground”.

A variedade das composições é tão alta que temos até uma balada de tons acústicos (com direito a solo de saxofone), intitulada “Me and You”, que dá uma dimensão diferente da usual para a interpretação de Biff. É uma boa canção e o vocalista mostra desenvoltura e feeling no âmbito mais pop.

Enfim, um disco competente de um símbolo do metal britânico.

FAIXAS

1. Welcome To The Show
2. School Of Hard Knocks
3. Inquisitor
4. The Pit And The Pendulum
5. Worlds Collide
*6. Scarborough Fair
7. Pedal To The Metal
8. Hearts Of Steel
9. Throw Down The Sword
10. Me And You
11. Black And White

FORMAÇÃO

Biff Byford (vocal e baixo)

Fredrik Åkesson (guitarra)

Christian Lundqvist (bateria)

Gus Macricostas (baixo)

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