O Queensryche é uma banda tão influente quanto lendária dentro da história da heavy metal. Em seus primeiros quatro disco se mostraram vanguardistas o suficiente para levar o heavy metal para um novo patamar de exploração progressiva, como um Genesis ou um Marillion mais pesado.
Do heavy metal tipicamente oitentista e norte-americano, o Queensryche mudou o jogo quando lançou uma das mais importantes operas-rock da história que o elevou comercialmente, mesmo que a música da banda se mostrasse complexa, intelectual e técnica.
Em suma, o Queensryche entregou a forma mais madura e substancial do heavy metal da época, ajudando nomes como Fates Warning, Crimson Glory e Dream Theater a consolidar o metal progressivo em formas diferentes e mostrar ao detratores do heavy metal que o estilo não era como eles diziam, um grupo de “simplórios e débeis em suas supostas rebeldias ‘sem causa’”.
Apesar do embrião do Queensryche estar fecundo desde 1978, a banda só foi nascer, de fato, em 1981, até mesmo depois de já ter gravado sua primeiro demo-tape como The Mob e ali ter o vocalista Geoff Tate nem mesmo como membro ofical.
À época, o The Mob não tinha um vocalista fico e Tate foi convidado a cantar nas quatro músicas que foram registradas naquela fite: “Queen of the Reich”, “Nightrider”, “Blinded” e “The Lady Wore Black”.
Os empresários convenceram o vocalista a sair na foto promocional em troca de uma compensação financeira também pelo uso de sua voz na demo tape. Fita essa que foi prensada posteriormente como o hoje histórico EP“Queensryche”, quando a banda já tinha adotado o nome pelo qual ficaria conhecida.
Originalmente, Tate iria permanecer apenas por um período temporário, aguns shows e a gravação da demo tape, mas com o sucesso da fite, posteriormente, do EP e a possibilidade de gravar um disco fez com que o vocalista largasse o Myth, banda onde atuava, e integrar o Queensryche. Logo veio o contrato com a EMI, o relançamento do EP e uam turnê com Quiet Riot, Twisted Sister e Dio.
1. “The Warning” (1984)
Podemos dividir a discografia do Queensryche em fases bem específicas. A primeira delas incluem seus dois primeiros discos, onde ainda se encaixavam na cena norte-americana do heavy metal, ao lado de bandas como Armored Saint e Vicious Rumours.
Gravado em Londres, “The Warning”, primeiro disco, foi alavancado pela música “Take a Hold of the Flame”, uma das composições mais emblemáticas desta primeira fase do Queensryche, assim como “N M 156”.
Composta por Chris DeGarmo, que ainda lhe deu um solo de guitarra sensacional, “Take a Hold of the Flame” era a prova de que a banda era o nome mais promissor do heavy metal norte-americano antes de ousar em discos mais progressivos.
Em “The Warning” ainda temos que enaltecer a performance de Geoff Tate, que se mostrava diferenciado desde a abertura com a faixa-título. Aliás, mesmo que soasse um tanto ingênuo em diversos momentos, e hoje alguns movimentos até soem datados, o som do Queensryche já esboçava a qualidade diferenciada do futuro, como na ótima “No Sanctuary” e na progressiva “Before the Storm”.
Claro que muito aqui remete ao metal inglês principalmente nas guitarras que bebem na fonte do Iron Maiden com veemência (“En Force”, “Child of Fire e “Deliverance” que o digam!), assim como os vocais de Tate, equilibrando com personalidade própria influências de Bruce Dickinson com Peter Gabriel.
Porém, os detalhes que sugestionavam uma personalidade forte estavam presentes e até por isso (e por faixas como “Roads to Madness”) “The Warning” é, hoje, encarado como um clássico do heavy metal oitentista dos Estados Unidos. Essa foi uma das razões que me ajudaram a escolher esse disco e não seu sucessor para entrar na nossa lista e representar a fase menos progressiva da banda.
E para entender como era a performance da banda antes de toda a complexidade progressiva que começaria a ser desenhada em “Rage for Order”, vale uma conferida no vídeo “Live in Tokyo” registrado durante e turnê deste primeiro dico.
O segundo disco,“Rage for Order” (1986) já dava indícios de algo do que a banda de Seattle viria a se tornar no futuro próximo, sendo um disco que poderia também estar nesse lista. A ousadia, o esmero na produção e a criatividade que se tornaram a marca do Queensryche começavam a ser esboçadas aqui, em faixas como “I Dream in Infrar Red”, “London” e “I Will Remember”. Ao mesmo tempo “Walking in the Shadows” reforçava o fato de que este é um dos grandes momentos da banda em sua fase menos progressiva.
Apesar disso tudo, “Rage for Order” soava um tanto heterogêneo, como é de se esperar de todo disco de transição e “Gonna Get Close to You” (que até lembra algo do Prince nas melodias) é um exemplo de uma banda tateando e experimentando em busca de sua sonoridade. E a transformação final estava logo na próxima parada.
2. “Operation: Mindcrime” (1986)
Aqui começa a fase dourada o Queensryche e a sonoridade pela qual a banda ficaria conhecida. Lançado em 1988, “Operation: Mindcrime” foi o divisor de águas do Queensryche, alçando a banda a uma posição de destaque mo mercado fonográfico da época.
O salto de criatividade e excelência foi grande, com arranjos orquestrados à cargo de Michael Kame e o rompimento com qualquer limite de estilo ou abordagem. O DNA do Queensryche se mantinha, ao mesmo tempo que algumas partes de corpo musical sofria algumas transmutações, deixando seu heavy metal ainda mais classudo e melódico.
Outro ponto importante é o fato deste ser um dos melhores discos conceituais da história do rock, narrando uma trama conspiracionista que funciona como uma alegoria para temas políticos e sociais da época, ambos inspirados por estudos acadêmicos de Geoff Tate nas ciências sociais e comerciais.
Até por essa coesão musical inerente ao conceito é complicado eleger destaques, mas faixas como “Revolution Calling” e “I Don’t Believe in Love” são clássicos obrigatórios dentro do catálogo da banda.
Como dedicaremos inteiro para “Operation: Mindcrime”, vou parar por aqui, mas espere por nosso artigo especial, pois existe muito mais a ser dito sobre esse disco.
3. “Empire” (1990)
Com “Operation: Mindcrime” (1988) o Queensryche se tornou uma espécie de Genesis, ou Marillion, do heavy metal, criando um padrão alto de qualidade que seria difícil iguala, o que dirá superar. Mas eles conseguiram!
Ao menos no âmbito comercial isso é indiscutível, afinal, a balada “Silent Lucidity” ficou no Top 5 dos charts americanos e catapultou o sucesso de “Empire”, o álbum seguinte, que trazia guitarras mais pesadas e um sendo melódico ainda melhor apurado ao longo do disco.
“Empire” era um festival de sucesso: além da belíssima balada, temos a faixa-título, “Best I Can”, “Jet City Woman”, “Anybody Listening” e “Another Rainy Night”. Foi na turnê desse disco, intitulada “The Building Empires Tour”, que a banda passou pela primeira vez no Brasil se apresentando na segunda edição do Rock in Rio no mesmo dia de Sepultura, Megadeth, Judas Priest e Guns N’ Roses. O mais interessante nesse caso é que mesmo sendo a turnê de “Empire”, ela deu mais atenção às músicas de “OPeration Mindcrime”.
4. “Promised Land” (1990)
O fato é que a fase de ouro do Queensryche acaba em “Empire”, mas não dá pra desmerecer o que foi feito após esse disco, logo escolhemos “Promised Land” para representar a fase discográfica da banda até a saída do vocalista Geoff Tate.
Foram quatro anos entre os dois discos e se você parar pra pensar entre 1990 e 1994 o mercado fonográfico deu um giro de cento e oitenta graus. Nesse período, o Nirvana já tinha explodido e implodido com a morte de Kurt Cobain, por exemplo. O hard rock que em 1990 estava no auge da MTv já tinha virado chacota no “Beavis and Butt-Head”. Até os padrões do heavy metal estavam mudando com as chegadas do Pantera e do Sepultura.
Analisar esse disco sem ter isso em mente é quase injusto como uma banda que em uma década era sinônimo de metamorfose. Pedir para estagnarem e continuarem a fazer o mesmo de antes era ir contra a natureza.
Até por isso, acho justo trazer “Promised Land” para a lista, pois ele é um disco que pode ser melhor digerido agora, onde podemos vê-lo como uma tentativa de trazer a sonoridade de “Empire” para aquele momento do mundo da música, renovando a si mesmo.
Para justificar essa observação, uso “Damaged” e “My Global Mind” como provas, assim como “Out of My Mind”, “Someone Else” e “Lady Jane” trocava o requinte de antes pela densidade emocional inerente ao rock do meio da década de 1990. Porém, a complexidade da música do Queensryche não está totalmente despida aqui em “Promised Land”.
Esse postura musical mais simples seria executada em “Hear in the New Frontier”, para mim, de fato, o início do inferno astral do Queensryche, sendo o único disco ruim da banda a contar com Chris DeGarmo, que sairia após a turnê, dando espaço a Kelly Gray.
A verdade é que este disco propunha uma mudança drástica na sonoridade, marcando fortemente a influência do grunge, principalmente na crueza de produção e composições. Isso aliado à falta de inspiração que era consequência dos problemas internos da banda resultou num repertório fraco, onde as melhores músicas eram as apagadas “Sign of the Times” e “You”.
O fracasso comercial de “Hear in the New Frontier” foi crucial para o cancelamento do contrato com a EMI, e à partir daqui, até a entrada de Todd La Torre, em 2012, pouco, ou quase nada se aproveita na discografia d Queensryche.
5. “Condition Human” (2015)
Em 1998 o Queensryche via a primeira ruptura em sua formação clássica com a saída de um de seus principais compositores: Chris DeGarmo. Até por isso, “Q2K”, disco que chegava dois anos após “Hear in the New Frontier”, começava uma nova fase para o Queensryche, onde retornavam as diferentes abordagens e arranjos para as músicas.
Porém, até a chegada do vocalista Todd La Torre, a qualidade dos discos do Queensryche cai vertiginosamente e os problemas extra-musicais começam a se tornar corriqueiros. Tudo bem, “Tribe” (2003) até trouxe uma fagulha de esperança com o retorno de DeGarmo, mas nada que se confirmasse.
Desde os problemas com drogas de Kelly Gray (substituto de DeGarmo), as constantes mudanças na formação, até as brigas públicas do vocalista com o restante da banda em 2012, ano em Geoff Tate saiu e iniciou um período de brigas judiciais, criando inclusive sua própria versão do Queensryche, podemos dizer dizer que a banda de Seattle vivia seu pior período.
Inclusive, quando Geoff Tat lançou o vexatório “Frequency Unknown” (2013) sob o nome Queensryche ainda estava aberta a disputa judicial pelo nome da banda. Após um acordo, Tate mudou o nome de sua banda para Operation: Mindcrime, com a qual lançou três discos, sendo que “The New Reality” (2017) é o pior trabalho de toda a carreira do vocalista, incluindo aí seus medianos discos solo.
À favor de Geoff Tate está o redentor Sweet Oblivion, um projeto lançado pela gravadora italiana Frontiers, que é, sem dúvidas, a melhor coisa que o vocalista apresentou nos últimos vinte anos.
Voltando ao Queensryche, o substituto de Tate era Todd La Torre, que já substituía o falecido vocalista da banda Crimson Glory, conhecido como Midnight. O primeiro disco da nova fase foi o auto-intitulado de 2013, já trazendo o clima clássico da banda de volta, mas agora conseguindo imprimir novamente a excelência e inspiração nas composições.
Os arranjos típicos da banda estavam novamente brilhantes dentro do hard n’ heavy técnico, sério, dotado de ecos do passado, mas sem soar datado. Algo que foi ainda melhorado em “Condition Human”, álbum de 2017 e escolhido para a nossa lista, onde o entrosamento entre Todd e a banda era total, sendo que muitas vezes ele chama para si a responsabilidade.
Aliado aos elementos da época dourada do Queensryche, “Condition Human” nos oferece refrãos sensacionais e belíssimas linhas de voz que empolgam o ouvinte, dentro de composições maduras e classudas.
Todd La Torre é sem dúvidas o destaque, se mostrando extremamente versátil e mais engajado na sonoridade da banda que combina peso e melodia de uma forma sem par no rock atual, com destaque para músicas como “Guardian“, “Hellfire“, “Selfish Lives“, “Eye 9“, “Just Us” e “The Aftermath“.
Com Todd La Torre ainda lançaram, em 2019, “The Verdict”, um disco onde o vocalista substitui também o baterista Scott Rockenfield, que estava afastado da banda desde 2017. Na verdade, o vocalista tinha composto várias linhas de bateria já para o disco “Condition Human”. Em turnê, o substituto do baterista foi Casey Grillo, ex-Kamelot.
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