O Que é Punk Rock? As Principais Vertentes e os Discos Clássicos

 

punk rock explodiu na segunda metade dos anos 1970, principalmente nos Estados Unidos e Grã-Bretanha, quando bandas como Ramones, Sex Pistols e The Clash se revoltaram artisticamente ao rock comercial e sentimental, ou megalomaníaco, do período. Embora o punk rock tenha experimentado certo sucesso em seus primeiros dias, principalmente no Reino Unido, o estilo sempre foi associado a movimentos artísticos do underground.

No geral, hoje em dia, o punk é um gênero musical conhecido por sua agressividade, crueza e simplicidade. As raízes do punk podem ser encontradas no Proto-Punk e no Garage Rock da década de 1960, mas surgiu bem definido apenas uma década depois com a explosão da primeiras bandas de punk rock em Nova York e Londres.

Desde então, o gênero se expandiu em muitas direções ou se fundiu a outros estilos, incluindo aí Eletrônico, Metal ou Ska. Além disso, a cena punk também teve grande influência em gêneros e movimentos como Post-Punk e a New Wave, além do próprio grunge pelas vias mais alternativas.

A vasta gama de gêneros, movimentos e culturas punk provam que é um gênero importante canal artístico da segunda metade do século XX e que ainda tem relevância hoje. Neste artigo queremos falar sobre alguns dos seus principais subgêneros e indicar cinco discos essenciais para entender cada um deles, criando uma espécie de discoteca básica do punk rock.

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Proto-Punk

proto-punk é um termo amplo que engloba todas as bandas que foram influentes na eclosão do punk rock. Eram bandas de atitude provocativa, uso de ruído ou timbragens mais rústica, energia selvagem e indomável, e simplicidade despojada. A linha que separa o proto-punk do punk rock é muito tênue em alguns casos, principalmente nas bandas novaiorquinas que frequentavam o CBGB antes de 1977. Dentre vários discos excelentes (de nomes como Patti Smith, The Monks, Death, etc…), listamos cinco discos que consideramos essenciais do proto-punk:

  1. The Stooges – “Fun House” (1970)
  2. MC5 – “Kick Out the Jams” (1969)
  3. The Dictators – “Go Girl Crazy!” (1975)
  4. The Sonics – “Here Are The Sonics” (1965)
  5. Velvet Underground – “Velvet & Nico” (1968)

Punk Rock Clássico

punk rock clássico veio basicamente da cena norte-americana e da cena britânica que se levantaram entre 1976 e 1978. As bandas se caracterizavam por ritmos acelerados, riffs primitivos e distorcidos, músicas simples, uso frequente de power chords e vocais gritados. Muitos grupos apresentavam variações dessas características, mas a maioria dos pioneiros as manteve, com identidade musical, visual e estética chocante, além da atitude totalmente anti-establishment. Dentre o discos clássicos do punk rock em suas primeiras formas podemos listar:

  1. Ramones – “Rocket To Russia” (1977)
  2. Sex Pistols – “Nevermind The Bollocks… Here’s the Sex Pistols” (1977)
  3. The Clash – “London Calling” (1979)
  4. The Damned – “Damned Damned Damned” (1977)
  5. Buzzcocks – “Singles Going Steady” (1978)

Hardcore Punk

O hardcore punk surgiu no final da década de 1970, muitas vezes apresentando uso extensivo de gritos agressivos, um estilo de produção despojado e músicas muito curtas, numa elevação da brutalidade impressa no punk rock original. Embora em seus primórdios o gênero fosse principalmente um fenômeno enraizado no circuito de música underground norte-americano, o termo também foi aplicado aos trabalhos de bandas não americanas dessa época, principalmente das cenas britânicas e japonesa.

O hardcore punk acabaria se dividindo em outros subgêneros e formas derivadas de maneira semelhante ao punk rock, criando vários novos estilos, como o Crossover Thrash, Crust Punk, Grindcore, Metalcore, New York Hardcore, Post-Hardcore, Hardcore Melódico e Beatdown Hardcore.

Pela vasta derivação que o hardcore teve ao longo dos anos pretendo dedicar um artigo apenas para esmiuçar o hardcore. Por ora, vou listar cinco discos que considero essenciais para entender o hardcore puro:

  1. Dead Kennedys – “Fresh Fruit for Rotting Vegetables” (1980)
  2. Bad Brains – “Bad Brains” (1982)
  3. Circle Jerks – “Group Sex” (1980)
  4. Black Flag – “Damaged” (1981)
  5. Minor Threat – “Minor Threat” (1981)

Anarcho-Punk

O anarcho-punk surgiu, em parte, como uma reação ao avanço comercial do Punk Rock no final dos anos 1970, com alguns artistas adotando um som intencionalmente mais áspero e primitivo, combinado com temas líricos do anarquismo e questões relacionadas que deram ao gênero seu nome. O anarco-punk tem sido uma das principais influências musicais, estéticas e ideológicas para muitos subgêneros do punk, incluindo Crust Punk e D-Beat.

Dentre o discos clássicos do anarcho-punk podemos escolher:

  1. Crass – “Penis Envy” (1981)
  2. Subhumans – “The Day Country Died” (1983)
  3. Zounds – “The Curse of Zounds!” (1982)
  4. Conflict – “The Ungovernable Force” (1986)
  5. Crucifix – “Dehumanization” (1983)

Glam Punk

Glam punk refere-se a um estilo de Proto-Punk ou Punk Rock que mistura elementos musicais e visuais do glam rock, iniciada pelo genial Johnny Thunders, ou seja, tínhamos a postura combativa, destrutiva e iconoclasta do punk com a teatralidade e exuberância do glam rock. Abaixo, escolhemos cinco discos essenciais do glam punk:

  1. New York Dolls – “New York Dolls” (1973)
  2. Hanoi Rocks – “Bangkok Shocks Saigon Shakes Hanoi Rocks” (1981)
  3. Slaughter and the Dogs – “Do It Dog Style” (1978)
  4. Turbonegro – “Apocalypse Dudes” (1988)
  5. Heartbreakers – “L.A.M.F.” (1977)

Crust Punk

O Crust punk é uma das formas metálicas do Hardcore Punk que surgiu do movimento Anarcho-Punk em meados da década de 1980, muitas vezes evocando imagens apocalípticas, pintando cenas de destruição ambiental, decadência pós-industrial, paisagens devastadas pela guerra e um retorno a um modo de vida primitivo e baseado na natureza. Com o tempo, o som sombrio e a estética do início do Black Metal tiveram um impacto crescente no gênero. Abaixo, cinco discos que considero essenciais do crust punk:

  1. Amebix – “Arise” (1985)
  2. Anti-Cimex – “Scandinavian Jawbreaker” (1993)
  3. Ratos de Porão – “Crucificados Pelo Sistema” (1984)
  4. Nausea – “Extinction” (1990)
  5. Doom – “War Crimes: Inhuman Beings” (1988)

UK82

O termo UK82 foi originalmente usado para se referir ao Hardcore Punk do início dos anos 1980 e que formavam a segunda geração britânica do Punk Rock. Estas bandas praticavam o som do punk adicionado das batidas pesadas de bateria e do som de guitarra distorcido que as bandas NWOBHM tinham, criando assim o primeiro gênero que é um híbrido de Metal e Punk Rock, anos antes do desenvolvimento do Crossover/Thrash. Cinco discos essenciais do UK82:

  1. G.B.H – “City Baby Attacked by Rats” (1982);
  2. The Exploited – “Troops of Tomorrow” (1982);
  3. Anti-Nowhere League – “We Are… The League” (1982)
  4. Discharge – “Hear Nothing See Nothing Say Nothing” (1982)
  5. The Varukers – “Bloodsuckers” (1983)

Crossover/Thrash

Crossover Thrash é uma fusão de Thrash Metal e Hardcore Punk que começou na década de 1980. Em suma, era o thrash metal empregando elementos do hardcore punk muito mais abertamente, especialmente nos vocais gritados e uma produção mais crua. Este gênero não deve ser confundido com Thrashcore um fusão de thrash metal hardcore que se vale de blast beats e tempos extremamente rápidos e cuja duração das músicas é geralmente mais longa. Os cinco discos que considero essenciais do crossover/thrash são:

  1. S.O.D. – “Speak English or Die” (1985)
  2. D.R.I. – “Crossover” (1987)
  3. Ratos de Porão – “Brasil” (1989)
  4. Suicidal Tendencies – “Lights Camera Revolution” (1989)
  5. Cro-Mags – “Best Wishes” (1989)

Horror Punk

Horror Punk é uma forma do punk rock mais temática que musicalmente vai do Hardcore Punk a Pop Punk, inspirada pelos clássicos filmes de terror. A estética do horror punk é decididamente nostálgica e exagerada, remetendo à ficção científica de baixo orçamento e filmes B de terror dos anos 1950-60, muitas vezes incorporando elementos do Rock & Roll, Rockabilly e Doo-Wop dos anos 1950 e 1960. Com essa intersecção de gêneros e temas, as linhas entre horror punk, Deathrock e Psychobilly são muitas vezes tênues e muitas bandas tocam um híbrido destes gêneros.

  1. Misfits – “Walk Among Us” (1982)
  2. T.S.O.L. – “Dance With Me” (1981)
  3. Samhain – “November-Coming-Fire” (1986)
  4. Tales of Terror – “Tales of Terror” (1984)
  5. Wednesday 13 – “Transylvania 90210: Songs of Death, Dying, and the Dead” (2005)

Art Punk

Apesar do gênero não ter uma definição clara ou estilo singular, os grupos classificados como “art punk” combinam o punk rock com elementos “artísticos” do minimalismo, interação instrumental, elementos da música folclórica tradicional de várias culturas, experimentação com ritmos inspirados no Jazz ou no Funk, dissonância e experimentação sonoras numa abordagem experimental próxima ao que era feito no Art Rock e no Rock Progressivo das décadas de 1960 e 1970. Abaixo, listo cinco discos que considero essenciais para conhecer o art rock:

  1. Television – “Marquee Moon” (1977)
  2. Wire – “Pink Flag” (1977)
  3. Talking Heads – “Talking Heads: 77” (1977)
  4. Pere Ubu – “The Modern Dance” (1978)
  5. Richard Hell & The Voidoids – “Blank Generation” (1977)

Oi!

Oi! é um subgênero do Punk Rock que se desenvolveu no final dos anos 1970 no Reino Unido, como uma rejeição ao florescente gênero Art Punk. O nome é originário da música do Cockney Rejects “Oi Oi Oi”, e a compilação de onde foi tirada, “Oi! The Album” (1980). Musicalmente, o oi! é mais simplista, retornando às raízes originais do punk rock, enquanto adiciona melodias cativantes vindas de hinos de arena esportiva e dos pubs. Além disso, a ideologia do movimento está relacionado com a classe trabalhadora. Abaixo, cinco discos que merecem sua atenção:

  1. Cockney Rejects – “Greatest Hits Vol. 1” (1980)
  2. Cock Sparrer – “Shock Troops” (1983)
  3. Sham 69 – “That’s Life” (1978)
  4. The Test Tube Babies – “The Mating Sounds of South American Frogs” (1983)
  5. Angelic Upstarts – “2,000,000 Voices” (1981)

Pop Punk

O pop punk é um gênero que mistura o som alto, acelerado e crú do Punk Rock com as fórmulas cativantes da música pop. O pop punk existe desde o início do punk rock, permeando outros subgêneros e por isso muitas vezes é difícil de defini-lo. O pop punk começou a entrar no mainstream na década de 1990 ficando em destaque até o início dos anos 2000.

  1. Buzzcocks – “Singles Going Steady” (1979)
  2. The Undertones – “The Undertones” (1979)
  3. Toy Dollz – “Dig That Groove Baby” (1983)
  4. Green Day – “Dookie” (1994)
  5. Offspring – “Smash” “(1994)

Skate Punk

O Skate punk pode se referir a duas dissidências distintas do Punk Rock. Na atualidade o termo descreve um estilo que combina a velocidade do Melodic Hardcore com a estrutura envolvente do Pop Punk. Já nos anos 1980, as bandas originalmente rotuladas como skate punk eram aquelas que se dividiam entre o hardcore punk e o crossover thrash e que tinham muitos fãs skatistas. 

A geração dos anos 1990, que era mais próxima ao pop punk e ao hardcore melódico, colocou o gênero em destaque, mas ambas as faces do skate punk são frequentemente usadas ​​em trilhas sonoras de vídeos de skate. Abaixo listo cinco discos essenciais que englobam as duas faces distintas do skate punk:

  1. Descendents – “Milo Goes to College” (1982)
  2. Bad Religion – “Against the Grain” (1989)
  3. NOFX – “Punk in Drublic” (1994)
  4. Millencolin – “Pennybridge Pioneers” (2000)
  5. Pennywise – “About Time” (1995)

Riot Grrrl

O riot grrrl como uma cena foi além de ser apenas um estilo de música: gerou todo um estilo de vida, que incluiu ativismo político e uma cultura do it yourself. Sendo que vários artistas do riot grrrl adotaram o estilo musical, mas muitas vezes não eram considerados parte do movimento político mais amplo. Muitas vezes o riot grrrl era praticado por grupos femininos e liricamente focado no empoderamento feminino, abordando questões controversas, como violência doméstica, discriminação e estupro. Dentre os discos do riot grrrl destaco os cinco abaixo;

  1. Bikini Kill – “Pussy Whipped” (1993)
  2. Bratmobile – “Pottymouth” (1993)
  3. Sleater-Kinney – “Call the Doctor” (1996)
  4. Babes in Toyland – “Fontanelle” (1992)
  5. L7- “Smell the Magic” (1991)

Outras Dissidências do Punk Rock

Como dito anteriormente, desde o início do punk rock, o gênero se transformou em vários subgêneros e movimentos tão diversos quanto as fusões musicais, filosóficas e culturais permitiam. Além das principais dissidências do punk elencadas acima, tendo em vista que os desdobramentos do hardcore punk serão explorados em outro artigo, podemos ainda mencionar os subgêneros abaixo:

  • O experimentalismo baseado no punk/harcore do post-hardcore de bandas como At the Drive-In, Fugazi, Hüsker Dü e Minutemen.
  • o celtic punk (que infunde os sons da música folclórica celta no punk rock, como o Dropkick Murphys);
  • o cowpunk, ou country punk, uma fusão de country, rockabilly e folk (como o Meat Puppets fazia);
  • deathrock do Christian Death e do Samhain, que fundia o gothic rock com o punk; 
  • deutschpunk (conhecido por nós como punk alemão e de onde surgiu o Die Toten Hosen);
  • garage punk (que combina os fuzztones brutos das bandas originais de Garage Rock da década de 1960 com o ritmo e a atitude do Punk Rock);
  • o hardcore/punk escandinavo que comentamos neste artigo;
  • o hardcore melódico que surgiu nos EUA no início e meados da década de 1980, com ênfase em vocais melódicos e riffs técnicos de guitarra, em vez de agressão bruta;
  • a cena do hardcore nova-iorquino de bandas como Agnostic Front, Madball e Sick of It All;
  • punk blues que fundia a instrumentação e escalas do Blues Rock com a energia, crueza e ruído do Punk Rock (como fazia Nick Cave no início e, também, mas de outra forma, o Social Distortion);
  • o queercore que se distingue principalmente por seu conteúdo lírico que expressa os pontos de vista da comunidade LGBTQ+;
  • ska punk que combina o Ska com a velocidade e agressividade do Punk Rock. Como o Rancid fez no clássico “…And Out Come the Wolves” (1995) e o Sublime em seu auto-intitulado disco de 1996;
  • Psychobilly que funde o punk com o rockabilly e do qual posso destacar o clássico “Songs the Lord Taught Us” (1980), do genial The Cramps;
  • e o surf punk que incorpora elementos do Surf Rock, como as bandas Agent Orange e Man Or Astro-Man faziam com maestria.

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