Quando pensamos em nomes importantes da humanidade tendemos a transformá-los em seres quase mitológicos, semideuses, ignorando suas agruras e dolorosas experiências de vida, nos concentrando em seus sucessos e contribuições para o desenvolvimento de nossa sociedade.
Com Albert Einstein não seria diferente!
Creio que com cientistas essa máxima é ainda mais certeira, pois como já disse certa vez o grande escritor de ficção científica Arthur C. Clarke: “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia”.
A física de Einstein é tão intangível para o ser humano comum que seu status de “semideus” não seria contestado. Ok! Alguns pretensos pensadores recentes tentaram desmerecer e diminuir sua importância, mas só conseguiu expor um total desconhecimento tanto da física como disciplina científica, quanto da história da ciência.
Pense em Albert Einstein.
Você se lembra de sua teoria científica revolucionária (sabe de cor a fórmula e=mc², mesmo que nem imagine do que se tratam essas letras), que é moderna mesmo depois de um século de sua publicação. Se lembra de seu prêmio Nobel, de sua ida aos Estados Unidos e da consagração de um cientista que inspirava as pessoas além da ciência (seu livro “Porquê a Guerra?: Reflexões Sobre o Destino no Mundo”, ao lado de Freud é memorável).
Acredito que você não associe sua ida aos Estados Unidos como uma fuga da perseguição nazista, e que ele chegou no Novo Mundo quase falido, pois todos os seus bens foram confiscados na Alemanha de Hitler onde, como judeu, seu destino era a morte certa.
Alguns esquecem e muitos desconhecem que Albert Einstein abandonou a primeira esposa e os dois filhos pouco antes da Primeira Guerra Mundial ser declarada (por causa de uma prima em segundo grau, que fora sua amante, antes de se tornar sua segunda esposa). Uma esposa com deficiência no quadril e um dos filhos padeceria mais tarde de esquizofrenia. Seu nome? Eduard Einstein!
E é justamente sobre esse Einstein, Eduard, filho caçula de Albert com sua primeira esposa, Mileva Maric, que o escritor Laurent Seksik – biógrafo de Albert Einstein – escreve as aproximadas duzentas e cinquenta páginas de “O Caso Eduard Einstein”, livro recém-lançado por aqui pela editora Bertrand Brasil.
“O Caso Eduard Einstein” é sobre uma parte do legado particular deixado escondido às sombras do mito Einstein, como o próprio Seksik escreve: “uma criança linda, inteligente e tragicamente louca”.
Eduard Einstein aos vinte anos é internado numa clínica psiquiátrica em Zurique, “o lugar das almas perdidas”, após ser diagnosticado com esquizofrenia, um problema contra o qual lutará até sua morte em 1965. Uma trágica ironia na vida de um admirador de Freud. Eduard queria ser psiquiatra!
Culto, Eduard lera os principais filósofos e clássicos de Shakespeare, além da obra completa de Freud, e frequentou o primeiro ano de medicina na cidade de Zurique.
Quando fugiu para os Estados Unidos, Albert Einstein, já um físico de renome internacional, deixou Eduard para trás junto a Mileva, a mãe dedicada, que esteve ao lado do filho em todos os momentos difíceis. Após a morte da ex-esposa, Albert tentou levar o filho para os Estados Unidos, mas as condições psicológicas de Eduard não permitiram.
Em todo o período após seu exílio, Albert Einstein visitaria o filho apenas uma vez, evento registrado pela foto que estampa a capa do livro.
Seksik foi muito feliz em diversas escolhas que fez.
A primeira foi apresentar a história em diversos pontos de vista, de acordo com cada personagem e personalidade.
A segunda, sem dúvidas, foi usar a romanceação de forma que tire não tirasse a precisão biográfica, bem alinhavada por cartas e documentos da época. A história se faz presente, mas como pano de fundo e condutor invisível das ações. O foco aqui mora nos sentimentos e nos conflitos.
O autor mergulha em pensamentos, conflitos sociais e pessoais de uma forma que muitas vezes os limites rígidos de uma biografia não comportam. Nesse ponto, em certa medida, Seksik me lembrou seu compatriota Emmanuel Carrère (ficam aqui como dicas as biografias que ele escreveu de Philip K. Dick e do controverso Eduard Limonov).
Por essa análise é importante observar a sensibilidade de Seksik para deixar verossímeis os pensamentos truncados de Eduard, a melancolia de Mileva, a complacência de Albert (alguém que “não acredita em psicanálise, só confia em ciências exatas”) e a falsa indiferença de Hans-Albert. É possível entender a forma desordenada do pensamento de Eduard, e o pesado conflito interno que vivia seu pai, aparentemente aceito como parte do destino.
Ainda somos apresentados a detalhes capazes de nos mostrar como o universo não perdoa nem mesmo aqueles que abençoou como gênios da raça. Até eles estão à mercê dos problemas mais comuns e humanos, como a solidão, a culpa, o abandono e a impotência frente a enigmas que transcendem a lógica. Todo mundo tem seus esqueletos no armário e alguns deles possuem até mesmo nome!
Detalhes que também livram-nos de agruras ainda maiores. Por exemplo, já pensou como Eduard, filho de um judeu, esquizofrênico, se livrou da mão de ferro dos nazistas? Acredite que foi não foi a neutralidade suíça que garantiu isso. Mas sim algo que reverberará pela relação de seus pais.
Outro acerto foi dar uma alta força gravitacional a Eduard. Sentimos sua presença mesmo quando ele não está em cena. Pela primeira vez num livro, talvez, Albert não é o Einstein em foco. E mesmo que Eduard seja o centro gravitacional de tudo, os corpos, mentes e emoções que o orbitam dividem a mesma atenção com que participaram de sua vida. Talvez por isso, a parcela dada a seu irmão, Hans-Albert, seja menor que a de um coadjuvante.
Com frases diretas, parágrafos enxutos, mistura de estilos (em alguns momentos os diálogos são anunciados com travessão, noutros mesclados ao parágrafo como reações a emoções e pensamentos), e capítulos curtos, Seksik dinamiza sua escrita e, por consequência, nossa leitura, usando ora de humor sútil e ironia refinada, ora de sensibilidade para nos afogar em páginas cada mais cativantes e intensas.
Resultado? Um livro que se torna um experiência humana, como uma história trágica contada por um amigo.
Por fim, uma observação. Se você acha que todo o discurso que ouvimos por aqui nos últimos anos não é preocupante, aconselho uma lida ao menos no segundo capítulo deste livro, para que você entenda como era a Alemanha pré-nazista. É alarmante o encaixe que pode ser feito.
Não perca a chance de ter esse livro em mãos, mas pelos motivos certos, pois o próprio Eduard nos faz a incômoda pergunta no início do livro: “veio apenas me escutar falar mal de meu pai?”
Nascido em 1962, em Nice, Laurent Seksik é médico, autor de seis romances — entre eles “Os últimos dias de Stefan Zweig”, traduzido em quinze idiomas e sucesso de vendas em todo o mundo — e biógrafo de Albert Einstein.
“O caso Eduard Einstein”, seu primeiro livro pela Bertrand Brasil, foi indicado ao Goncourt e ao Grande Prêmio de Literatura da Academia Francesa. Também foi finalista dos prêmios Goncourt des Lycéens e Femina.
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