Northtale – Resenha de “Welcome to Paradise” (2019)

 

O Northtale é uma banda formada por músicos vinculados a nomes como Trans-Siberian Orchestra, Doro Pesch, Circle II Circle, Twilight Force e Yngwie Malmsteen, o que já tira a surpresa de qual é o estilo praticado pelo quinteto.

Northtale - Welcome to Paradise
Northtale – “Welcome to Paradise” (2019 | Shinigami Records) NOTA:8,0

Sim, o Northtale é devoto do metal melódico, construindo sua personalidade à partir dos predicados canônicos do gênero, como nos mostra “Welcome to Paradise”, faixa-título e de abertura do seu primeiro disco.

Essa composição traz aquele speed metal cheio de virtuose e bons ganchos melódicos (com suas palhetadas que lembram o antigo Helloween), que vai agradar muito os saudosos das formas noventistas do power metal, além de ser uma espécie de promessa de que irão equilibrar, nas outras doze faixas, a técnica e o feeling sobre camadas de peso e velocidade, com dedicada atenção à dinâmica.

No centro criativo da banda estão o guitarrista brasileiro Bill Hudson, o vocalista Christian Erikson e o baterista Patrick Johansson, ambos suecos, que emergiram o Northtale da insatisfação de onde suas carreiras se encontravam e o desejo de criar à partir de suas personalidades. Até por isso algumas letras de “Welcome to Paradise” soam tão pessoais.

“Higher”, segunda faixa, manterá a proposta da abertura por um ritmo mais cadenciado e boa cama de teclados que até imprime um toque progressivo (que também aparecerá discretamente em “Siren’s Fall”) ao duelar com com a guitarra após um solo instigante. Nessa proposta com velocidade controlada ainda podemos destacar “Bring Down The Mountain” e “Playing With Fire” .

Basicamente o Northtale fundiu o Helloween dos anos 1980 com Gamma Ray, Hammerfall e (principalmente) Stratovarius da década seguinte e deram um banho de modernidade.

Mesmo com várias partes alicerçadas pelo heavy metal cássico de Judas Priest e Iron Maiden, a referência ao Stratovarius é nítida nas bases, nos solos e na sonoridade de cravo dos teclados, o que está longe de ser um demérito se pensarmos numa atualização da proposta que ouvimos em álbuns como “Episode” (1996), “Visions” (1997) e “Destiny” (1998).

Apesar de não trazerem nada de novo, algumas faixas causam boa impressão (além das já citadas, “The Rhythm of Life” e “Shape Your Reality” se destacam pelo tempero hard rock que lembra uma mistura de Edguy com o Eclipse), seja pela energia cativante ou pelas ganchos melódicos, e dividem espaço com outras mais genéricas, como “Follow Me”, “Time to Rise”, “Everyone’s a Star”.

Mesmo assim, em todo o álbum somos assombrados pelo fantasma do “já ouvi isso antes”!

Até por isso, um dos grandes méritos de “Welcome to Paradise” são as músicas com grandes refrãos. Este é um dos segredos do heavy metal. Outro são os riffs! E se você não for nenhum defensor fanático da originalidade, aqui encontrará vários excelentes, mesmo que as guitarras soem mais frescas nos solos, que em sua maioria são primorosos.

E justamente por essa oscilação entre o genérico e o empolgante destas composições temos aquela velha pergunta já desgastada nos últimos tempos: onde termina a releitura, a inspiração, e começa a cópia descarada?

Porque se você ouvir com atenção, esse é um bom disco, que empolga, mas não tem muita originalidade. A impressão que tive foi de ver os músicos reunidos destrinchando seus discos favoritos de power metal e reconstruindo novas músicas à partir de algumas dessas ideias.

A única coisa que tira o ouvinte da impressão de estar ouvindo um disco do Stratovarius, em diversos momentos, é a voz de Christian Eriksson.

E confesso que aos meus ouvidos ele será o fulcro da balança entre amor e ódio gerada por esse disco, pois suas linhas vocais brilham mais pelo seu timbre do que pelo desenho melódico (confira o que ele faz na balada “Way of the Light”).

Uma última observação sobre o vocalista: com seu timbre agudo e uma canção intitulada “Everyone’s a Star”, não dá pra não lembrar de Tony Harnell, do TNT (que tem uma composição homônima em seu disco “Tell No Lies” [1987])

Até por isso tudo, “Even When” gera um susto por sair da proposta geral do álbum, dando um clima de trilha sonora épico ao trabalho, sendo um caminho que a banda podia explorar mais nos próximos passos discográficos.

Aplausos para a produção (da própria banda), que mesmo com essa colagem de ideias antigas não soa retrô e muito menos monótono. “Welcome to Paradise” ainda foi mixado e masterizado por Jonas Kjellgren no Black Lounge Studios na Suécia.

Cabe também mencionar que a composição “If Angels Are Real” é dedicada à memória de Adam Sagan, companheiro de Bill Hudson no Circle II Circle.

Se você gosta de metal melódico e sente saudades dos bons tempos do Stratovarius, pode ir atrás de “Welcome to Paradise” sem medo!

FAIXAS:

1. Welcome To Paradise
2. Higher
3. Follow Me
4. The Rhythm of Life
5. Time To Rise
6. Way Of The Light (bonus)
7. Shape Your Reality
8. Everyone’s A Star
9. Siren’s Fall
10. Bring Down The Mountain
11. Playing With Fire
12. If Angels Are Real
13. Even When

FORMAÇÃO:

Christian Eriksson (Vocal)
Bill Hudson (Guitarra)
Mikael Planefeldt (Baixo)
Jimmy Pitts (Teclados)
Patrick Johansson (Bateria)

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