Nick Drake | O Trovador Solitário do Folk Rock Setentista

 

“Eu não sinto nenhuma emoção sobre nada.  Eu não quero rir nem chorar.” Esta é uma frase dita por Nick Drake, um cantor, compositor e guitarrista inglês conhecido para vocais emotivos, letras sombrias e melodias ricas. O clichê é dizer que Nick Drake é triste, mas sua música vai além de ser apenas triste, é melancolicamente genial, tanto em sons quanto em letras. Hoje, este artigo, é dedicado a este gênio da música.

Nick Drake Folk

É uma verdade cruel nos mais variados campos da arte, ma a maioria dos gênios só ganham o reconhecido após sua morte. Exemplos? Para ficar somente restrito à música, temos Marc Bolan, genial compositor do T. Rex e o nosso personagem de hoje: Nick Drake. Poucas vezes na música se viu a capacidade de forjar a melancolia em acordes tão dissonantes, combinar beleza harmônica com temas bucólicos e agruras cotidianas.

Coloco Nick Drake no grupo de artistas dotados de uma música suave e poderosa, ladeado por nomes como Chet Baker e João Gilberto, músicos que combinam o pouco de voz afinadíssima com arranjos para um instrumento que dominam integralmente. Todavia, esta habilidade musical elevada serve à música, dando muito valor a combinações simples que tragam uma maior carga de emoção, apesar da técnica musical.

Nascido em 19 de junho de 1948, na antiga Birmânia, Nick Drake ficou conhecido como um ícone britânico da música folk, mesmo sua música indo além das fronteiras desta prateleira. Na juventude ele aprendeu clarinete e saxofone, e se apresentava com a banda da escola, onde aflorou com mais força seu amor pela música, posteriormente, reforçado na banda The Perfumed Gardeners, onde era o pianista principal e vez ou outra se arriscava no vocal.

O Perfumed Gardeners era uma banda que se dedicava a covers de ícones ingleses como The Yardbirds e Manfred Mann, sendo que Nick Drake foi logo expulso por suas preferências musicais, consideradas muito pop pelos outros integrantes.

O ano de 1965 foi um divisor de águas não só para a música pop (Andrew Grant Jackson afirma que esse foi o ano mais revolucionário da música), mas também para o jovem Nick Drake. Naquele ano ele comprou seu primeiro violão e começou seus experimentalismos que dariam a marca registrada à sua obra, principalmente na sua afinação toda particular.

Logo os estudos acadêmicos eram deixados de lado em favor da música. Mesmo assim, ainda ganhou uma bolsa de estudos em Literatura Inglesa na Universidade de Cambridge e, nesta época, começou a usar maconha, viajou com amigos para o Marrocos e teve sua primeira experiência com LSD. Dizem que nesta viagem lisérgica ele teria escrito a letra da belíssima canção “Clothes Of Sand”.

Seus tutores na universidade o descreviam como um aluno brilhante, porém sem vontade de desenvolver seu potencial. O que contrapõe seu estudo nas seis cordas do instrumento acústico, onde se tem relatos de uma aplicação com disciplina exacerbada. Outra característica marcante de Nick Drake era sua condição de notívago. Grande parte das suas composições foram concebidas na madrugada.

Do alto de sua estatura de 1.91m, Drake era considerado uma pessoa elegante, o que atraía o público feminino para suas apresentações. Era ainda uma pessoa calma e introvertida, sem muitos amigos e se dedicava mais a aprimorar sua técnica musical do que a relações pessoais. Este fato, aliado ao de nunca ter relacionamentos amorosos geraram suspeitas de uma suposta homossexualidade.

Nick Drake sempre foi um músico obsessivo na prática do violão, praticava até altas horas, experimentava afinações e compunha compulsoriamente. Liricamente, percebe-se influências de Willian Blake, Butler Yeates e Henry Vaughan, em versos que falam sobre a lua, o céu, as estrelas, o mar, a chuva em meio a influências outonais.

Os Três Discos Brilhantes de Nick Drake

Foram apenas três álbuns lançados oficialmente em seu poucos seis anos de carreira. Sua discografia tem início em 1969, com o álbum “Five Leaves Left”. Claramente inspirado pelo primeiro álbum de Leonard Cohen, Nick Drake criou em “Five Leaves Left” uma coleção de canções intimistas, introspectivas e complexas, que exaltavam sua técnica aprimorada ao violão, ficando explícita a influência da música clássica.

O mais incrível é que o álbum não se tornou datado após tantos anos, pelo contrário, ele forjou muito do que seria explorado musicalmente nas próximas décadas. Falar que a obra de Nick Drake é apenas triste seria desmerecer sua genialidade, mas a obra é reflexo de seu compositor, e Nick Drake era triste… genialmente triste, como ninguém mais o poderá ser.

E até o músico sabia disso, tanto que seu próximo álbum foi totalmente diferente, experimental e um clima jazzístico se faz presente em todo o próximo álbum, de 1970, intitulado “Bryter Layter”.

Cada disco de Nick Drake tem sua particularidade: “Five Leaves Left” traz certa inocência do início de carreia, adicionando certa reflexão enquanto “Pink Moon”, álbum de 1972, é mais depressivo. A este “Bryter Layter” cabe a ousadia de explorar suas fronteiras como compositor e estar no meio do caminho entre sua essência e o que ele pensava ser o que o mercado fonográfico esperava dele.

Nesta fase, Drake estava apenas desapontado com a dificuldade em se chegar ao sucesso. Porém, este desapontamento se tornaria desgosto, culminando em uma obra que pode ser considerada uma ode à melancolia e se tornou sua obra máxima, o já citado “Pink Moon”.

Após o fracasso de “Bryter Layter”, as composições foram brutalmente despidas de qualquer enfeite orquestral e fortemente carregado de tom emocional. Fechado em seu apartamento em Londres, Nick cunhou diversas faixas que vieram a ser divulgadas em caixas lançadas postumamente, escolhendo onze para compor o próximo material, donde pode-se destacar “Parasite” (tanto por letra quanto música), “Things Behind the Sun”, “Place to Be” “Pink Moon”.

Todas as canções estão mais tristes, mais intimistas, mais duras e perturbadoras. Gravado à meia-noite, em duas sessões no estúdio Sound Techniques, com apenas Nick Drake e seu produtor, John Wood, esse disco encapsula em meia hora de música todo o sentimento de um gênio ainda incompreendido.

Quando Peter Buck, do R.E.M. questionou o produtor quanto ao clima intimista conseguido no álbum, John Wood respondeu que todo o clima veio de Nick Drake. Ele apenas se sentou, tocou e cantou com todo o sentimento de um compositor desapontado, sem enfeites de guitarra e sua pura voz trêmula de emoção.

Diz a lenda que após finalizar as gravações, Nick teria ido ao prédio da gravadora e deixado as fitas em cima da mesa da secretária e saiu sem falar com ninguém. As gravações teriam ficado lá por todo o fim de semana, até serem encontradas no meio da semana seguinte. Nick Drake teria feito isso pelo fato da gravadora Island Records não querer um terceiro disco seu.  À época ele tinha apenas 24 anos quando, restando a nós a pergunta do que teria sido capaz este músico ímpar se sua vida não tivesse acabado em 1974, com apenas 26 anos?

A Morte de Nick Drake

Em julho de 1974, Nick Drake procurou seu produtor com a intenção de gravar o que seria sua quarto álbum de estúdio. Porém sua técnica ao violão havia se deteriora por causa da depressão que tivera. Pense no que ouvimos em seus discos e o que ele deve ter sentido quando percebeu estar parado num estágio em que não conseguia tocar e cantar ao mesmo tempo!

A morte de Nick é uma incógnita. Alguns dizem que ele teria se suicidado e o inquérito oficial afirma que ele morreu por uma intoxicação aguda auto-administrada enquanto sofria de uma depressão (um eufemismo técnico para suicídio). O genial Nick Drake foi encontrado morto por sua mãe em sua cama quando ela notou que o filho já havia dormido mais que o normal para aquele dia.

O Reconhecimento Após a Morte

O tão almejado reconhecimento veio somente nos anos 80, quando músicos como Peter Buck, do R.E.M., e Robert Smit,h do The Cure, se diziam inspirados por Nick Drake. O nosso travador passou de artista esquecido para gênio incompreendido, herói mítico dos condenados românticos. A partir daí começaram a ser comuns os documentários envolvendo a biografia do cantor. Um destes foi narrado pelo ator Brad Pitt, um assumido fã do cantor.

Com essa repercussão, Nick Drake foi regravado por nomes de peso como Norah Jones e Elton John, não sendo diferente no Brasil, quando Renato Russo gravou “Clothes Of Sand”, em seu primeiro disco solo. Muitas canções inéditas foram lançadas em caixas promocionais como “Family Tree” e “Time Of No Reply”. E numa destas caixas está uma das melhores canções de Nick Drake: a brilhante “Been Smoking Too Long”.

Nick Drake é um músico que deve ser ouvido de forma urgente por quem nunca ouviu falar dele, descrito por Renato Russo como um anjo, conseguia uma sensibilidade musical sem par na música contemporânea.

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