My Dying Bride – Resenha de “The Ghost of Orion” (2020)

 

My Dying Bride - "The Ghost of Orion" (2020, Shinigami Records, Nuclear Blast)
My Dying Bride – “The Ghost of Orion” (2020, Shinigami Records, Nuclear Blast)

O My Dying Bride é uma das bandas precursoras do death/doom metal, sempre citada ao lado de Anathema e Paradise Lost como o trio de ferro do doom inglês.

O mais interessante é que deste tripé de fundamentação do gênero, o My Dying Bride é o único ponto que se manteve mais tempo fiel ao seu estilo ao longo de todas essas décadas, obviamente encarando altos e baixos.

Um único escorregão nesse tradicionalismo veio em “34.788%… Complete” (1998), com suas passagens eletrônicas, mas logo “The Light At The End of the World” (2000) recolocaria as coisas de volta no lugar.

Desta forma, como estamos tratando de um precursor fiel às suas raízes do doom/death metal, vou me abster de predicados como “arrastados”, “melancólicos”, “sorumbáticos” e “lentos”.

Considere-os condições necessárias para um disco do My Dying Bride, o que não seria diferente com esse “The Ghost of Orion”, seu décimo quarto álbum de estúdio que chega cinco anos após “Fell the Misery” e acaba de ser lançado no Brasil via Shinigami Records.

O primeiro destaque vai para a capa (uma das melhores, senão a melhor, a estampar um disco da banda) à cargo do artista Eliran Kantor, conhecido pelos trabalhos primorosos para Fleshgod Apocalypse e Ex Deo.

Musicalmente, entregam exatamente o que se espera da banda, se bem que agora com mais requinte e lirismo doom metal e menos agressividade e sujeira death metal.

Mesmo assim, podemos ouvir vocais guturais em meio a toda aquela sonoridade pesada e sombria que remete ao passado em ótimas faixas como “Your Broken Shore”, “The Long Black Land” (aliás, essa música é sensacional!) e “The Old Earth” (com uma letra de poesia apocalíptica).

Essa trinca de faixas remeterá à sonoridade que imaginamos quando pensamos no My Dying Bride.

Letras dotadas de certo romantismo gótico são entoadas por vocais ora limpos (nesse quesito Stainthorpe abriu novas possibilidades em suas interpretações), ora guturais, são encaixadas em melodias sombrias, com as palavras bem marcadas pelo ritmo do doom metal clássico.

O uso do violino, seu diferencial desde sempre, aumenta essa carga de romantismo sombrio e dá ainda mais volume a todo o esfumaçado gótico tão característico da sonoridade do My Dying Bride (como em “Tired of Tears” e com mais profundidade em “Your Woven Shore”).

A impressão é que eles descobriram a verdade de que simplicidade e linearidade trazem elegância, e parece terem enxugado um pouco sua massa sonora sem perder o impacto tão depressivo quanto requintado.

Isso fica evidente na minimalista “Solace”. Um dos grandes destaques do disco, essa composição traz uma guitarra desenhada por timbragem profunda, reverberando enquanto emoldura o trabalho vocal belíssimo de Lindy-Fay Hella, do WARDRUNA, dando uma conotação pagã à dramaticidade do My Dying Bride.

Esse é o tipo de composição arriscada, pois despe-a do arranjo de suas múltiplas possibilidades instrumentais, afinal são cinco minutos apenas de guitarra e voz.

Porém, quando feito com sentimento e conceito, como é o caso aqui, abre fronteiras e horizontes a serem explorados no futuro, além de mostrar a coragem como compositor do guitarrista Andrew Craighan, que se isolou e cuidou do processo de composição do novo álbum sozinho.

Estruturalmente, não seria exagero dizer que este disco tem um divisão musical à partir de “The Solace”, se tornando experimental em certa medida.

O que abre uma discussão interessante acerca de “The Ghost of Orion”. Afinal, mesmo com essa característica conceitualmente ousada, sofisticada e inteligente, talvez ele seja o trabalho mais acessível da banda, à começar pela produção límpida e polida.

Longe de tecnicismos e outros artifícios complicados, investiram numa inteligente sobreposição de simplicidades sempre variando entre a ambientação contemplativa (como na climática faixa-título) e o peso depressivo.

Nesse sentido, outra grande faixa deste “The Ghost of Orion” é “The Outlive the Gods”, que faz da tristeza desoladora arte moderna, assim como “Tired of Tears” (com suas brilhantes harmonias de guitarra), uma faixa com versos muito pessoais de  Aaron Stainthorpe.

“Tired of Tears”, já um clássico recente da banda, ganha ainda mais destaque quando a percebemos como uma espécie de descarga emocional de Stainthorpe.

No ínterim entre os dois últimos discos da banda, ele teve sua filha diagnosticada com câncer. Felizmente ela hoje está bem, mas ele encapsulou nessa música todo o desespero e angústia do processo.

Bem menos grave, mas ainda assim impactante para a banda, em 2018 o guitarrista Calvin Robertshaw enviou uma mensagem avisando da sua saída sem nenhuma explicação adicional.

O mesmo caminho seguiu o baterista Shaun Taylor-Steels às vésperas de entrarem em estúdio para gravar “The Ghost of Orion”. Para seu lugar veio Jeff Singer, baterista que gravou o ótimo “In Requiem”, do Paradise Lost.

Por isso tudo, é impressionante como mesmo após três décadas o My Dying Bride continua mostrando força para lutar contra as adversidades e criatividade para ainda soar musicalmente relevante e renovado!

FAIXAS

1. Your Broken Shore
2. To Outlive The Gods
3. Tired Of Tears
4. The Solace
5. The Long Black Land
6. The Ghost Of Orion
7. The Old Earth
8. Your Woven Shore

FORMAÇÃO

Aaron Stainthorpe (vocal)
Andrew Craighan (guitarra)
Lena Abé (baixo)
Shaun Macgowan (teclados, violino)
Jeff Singer (bateria)

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