Paradise Lost – “Gothic” | Você Devia Ouvir Isto

 

Dia Indicado para ouvir: Sexta-Feira.

Hora do dia indicada para ouvir: Dez da Manhã.

Definição em um poucas palavras: Guitarra, Pesado, Sombrio, Gótico.

Estilo do Artista: Gothic Metal.

Paradise Lost Gothic
Paradise Lost: “Gothic” (1991 – 2018, relançamento Hellion Records)

Comentário Geral: Prezados amantes das vertentes mais pesadas do Heavy Metal, aqui nasceu o Gothic Metal.

Na verdade, creio que um disco que ajudou a batizar um afluente do heavy metal não pode se apenas adjetivado como clássico. Um disco assim transcende esse predicado pela sombra de influência que projeta no gênero, independente de ser, ou não, o melhor disco da banda que o lançou.

Exatamente nesse molde se encaixa “Gothic”, o segundo disco da banda inglesa Paradise Lost.

É fato que o Paradise Lost ainda era uma banda que buscava sua identidade, e no processo estabelecia as bases do que conheceríamos como gothic metal, um subgênero a ser lapidado e explorado à exaustão na década de 1990 e na seguinte.

Não seria necessário dizer mais nada para justificar o porque você devia ouvir este clássico, mas a vontade de citar músicas fabulosas como “Eternal”, “Silent” e “Painless” é incontrolável.

Melancolia, dramaticidade, melodia em constante atrito com peso sinuoso oriundo das baixas frequências do death metal, eram ingredientes da alquimia que a banda trabalhava, sendo “Gothic” um claro ponto de transição na sua evolução musical que os levaria à pedra filosofal que geraria “Icon” (1993) e “Draconian Times” (1995).

Foi “Gothic”  que deu mais foco ao Paradise Lost comercialmente falando, capaz de colocar a banda na dianteira do trio de ferro do doom/death metal inglês, completado pelo Anathema e pelo My Dying Bride.

A veia experimental é pulsante neste álbum, exalando coragem de ousar em aspectos sinfônicos e orquestrais que começaram a ser esboçados junto a aclimatação dos teclados, ao mesmo tempo que os vocais guturais herdados do death metal já vinham acompanhados do lirismo dos vocais femininos.

O mais interessante é perceber que os solos não estão estruturados em partes específicas das músicas, aqui eles aparecem como complemento dos vocais de Nick Holmes.

Isso tudo gera um clima obscuro, gélido, lúgubre e classudo, que dialoga com o requinte mórbido que víamos na literatura gótica clássica, como uma herança das referências óbvias de Bauhaus e Sisters of Mercy.

Claro que vemos nascer um estilo calcado no doom metal de bandas como o Candlemass, ou seja, aquele som arrastado, de apelo dramático, porém com o peso do death metal modulado pela melancolia melódica das guitarras, costurado ao o experimentalismo do gothic rock/pos-punk/death rock,  de forma inteligente.

Não há dúvidas que estes caras andaram ouvindo muito Fields of the Nephilim e Christian Death ao mesmo tempo que Celtic Frost, Entombed e Obituary. Qualquer resquício de dúvida disso é dirimido por “The Painless”.

A produção, tão criticada, é parte desta identidade, ajudando a conjurar a imagética mórbida, dentro da estética arrastada, seca e depressiva.

Se o heavy metal fosse uma disciplina científica, “Gothic” seria um dos pontos críticos do gênero, onde subgêneros se bifurcam e novas formas nascem.

A faixa-título praticamente definiu o que veríamos como gothic metal nas próximas duas décadas. Já “Dead Emotion” insere climas de trilha sonora de filme de terror clássico emoldurando guitarras carregadas de tensão, enquanto Rapture” já traz algo do amálgama gothic/black metal, e “Angel of Tears” (esta uma faixa instrumental fantástica onde Greg Mackintosh desfila riffs e mais riffs de imensa qualidade e feeling) tem até tangencias com a música progressiva.

À partir deste disco, o embrião do que viria ser chamado como gothic metal se mostra um atrativo pelo amplo horizonte de possibilidades dentro do heavy metal. Não é exagero dizer que aqui o Paradise Lost praticamente esboçou os modelos principais para os desdobramentos metálicos da música gótica.

O final do disco com Desolate é de arrepiar. Um dos desfechos mais promissores do rock/metal. Promessa que se confirma nos discos seguintes.

Hoje em dia é difícil compreender isso, mas contextualizando esse disco em seu tempo histórico, vemos como ele é diferenciado, estranho entre seus pares, e difícil até de ser classificado naquele momento.

Só posso imaginar seu impacto na cena, pois nada aqui é convencional, cada detalhe é criativo e tem vibe experimental, principalmente em algumas trocas de tempo e variação nos arranjos.

Não tenha em mente a maneira aviltada com que o gothic metal foi praticado por algumas bandas no fim dos anos 1990, aqui é a gênese de tudo e por isso VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO!

Ano: 1991

Top 3: “Gothic”, “Dead Emotion” e “Falling Forever”.

Formação: Nick Holmes (Vocal), Matthew Archer (Bateria), Stephen Edmondson (Baixo), Aaron Aedy (Guitarra), Gregor Mackintosh (Guitarra solo).

Disco Pai: Celtic Frost  “Into the Pandemonium”  (1987).

Disco Irmão: My Dying Bride  “Turn Loose The Swans” (1993).

Disco Filho: Theater Of Tragedy – “Aegis” (1998)

Curiosidades: No início da carreira, o Paradise Lost, ao ser questionado sobre qual o seu estilo dentro do heavy metal (pois não se encaixavam nem como Death Metal ou como Thrash Metal), respondeu que era o Gothic Metal, e assim ficou. 

Pra quem gosta de: Melodias arrastadas, escuridão, “Drácula” de Bram Stocker (o livro) e vinho tinto.

https://youtu.be/mTSXu_ksvyM

https://youtu.be/D9BBO-qjT5c

Outros Artigos que Podem Ser do Seu Interesse:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *