Matakabra | Em busca de novas formas para o Deathcore!

 

O quarteto pernambucano Matakabra é mais um nome que mantem o alto nível do metal nordestino na atualidade, mostrando criatividade já no nome que consegue soar violento, original e referencial, e na sonoridade que esbarra violentamente no Deathcore, com pluralidade musical dentro do extremismo metálico e personalidade forte.

Na entrevista à seguir a banda nos explica mais sobre a construção de sua identidade musical, suas influências, processo de composição, e conceito das letras em português, além de nos explicar de onde surgiu o nome da banda e se possuem algum posicionamento político.

Esta entrevista foi originalmente publicada em fevereiro de 2018, na antiga versão do site e decidi que era ela deveria ser compartilhada novamente. Com vocês, Matakabra…

Matakabra entrevista

1) Primeiramente, obrigado pela entrevista, e pela atenção conosco do Gaveta de Bagunças. Por favor, apresente a banda Matakabra para nossos leitores.

Em primeiro lugar, somos nós que agradecemos esse espaço. Acompanhamos o Gaveta de Bagunças e é um prazer enorme poder conversar um pouco com vocês.

Para quem ainda não conhece a banda, a Matakabra surgiu oficialmente em 2015, com a proposta de fazer um som extremo que conseguisse agregar às influências individuais de cada membro, criando algo novo e pesado ao mesmo tempo. Sobre a estrada que já percorremos, ainda para completar três anos de banda e apenas com dois EPs lançados, já dividimos o palco com Ratos de Porão, Torture Squad, Nervochaos e Project46, além da realização de uma turnê pelo Nordeste produzida por nós. O que sempre nos moveu foi a motivação em fazer as nossas músicas reverberarem no metal nacional. Acredito que esse ideal bastante prepotente se tornou um imperativo para a banda e no modo como assumimos nossas produções. É o tal do faça-você-mesmo sempre ecoando na nossa cabeça.

 2) A banda se caracteriza por uma mescla das abordagens clássicas do Metal Extremo com artifícios modernos. Como vocês descreveriam mais detalhadamente a sonoridade da banda?

A Matakabra teve o Deathcore como ponto de partida. É o que gostamos, e com pouco tempo fomos incluindo os elementos clássicos do metal que cada integrante particularmente já curtia. Hoje fazemos um som que é até difícil rotular e isso é bom, mostra que estamos propondo algo diferente de se ouvir no metal atual. Costumamos dizer que Matakabra é metal bruto, existem praticamente todas as vertentes do metal pesado nas nossas composições.

3) Na visão de vocês como compositores, o rótulo Deathcore se aplica com eficiência à música do Matakabra?

Podemos dizer que com certeza, pois muitos riffs matadores já vem dessa influência atual do deathcore. Mas diríamos também que não é eficiente. Hoje amadurecemos mais as composições, procuramos nunca fazer uma música muito parecida com a outra como acontece com muitas bandas do deathcore raiz. O fato de agregar elementos e levadas de outros estilos já desloca bastante da espinha dorsal que seria o deathcore. Mas de fato, dizer que somos uma banda de death-black-djent-groove-prog-core não faz nenhum sentido. (risos)

4) Entrando mais no processo de composição, como a banda trabalha suas músicas? Como elas nascem? É perceptível que, mesmo com muita fluidez e criatividade, vocês se preocupam com a estrutura das composições. Onde termina a inspiração e começa o trabalho braçal do compositor no caso de vocês?

Quando percebemos que a Matakabra já tinha sua própria característica, as composições ficaram mais fáceis. Acontece que cada integrante é muito criativo e conseguimos compor com o mesmo feeling. Muitas vezes as ideias vêm de um simples riff ou até mesmo de um solfejo, e muitas das inspirações vêm de tudo que já escutamos no metal dos anos 90 pra cá, como new metal, groove metal, death metal e até mesmo do black metal. O que facilita também é que sempre nos gravamos em casa, que é onde começa esse trabalho braçal da nossa pré-produção. Fazemos sempre várias “prés” das músicas para ter uma visão mais ampla de sua estrutura e conseguir melhorar alguns trechos passando sempre um pente fino no que foi feito, tentando avaliar, ouvir e sentir a música como compositores e fãs ao mesmo tempo.

5) A música “Mordaça” é uma das melhores que ouvi em 2017. Comente um pouco sobre esta faixa.

“Mordaça” foi uma das musicas mais difíceis de finalizar, ela tem muitas pegadas diferentes e precisávamos fundir cada trecho sem perder a essência da musica. Ela teve várias versões e isso fez com que nos esforçássemos até perceber que criamos algo realmente diferente de tudo. Tem vocais de rap com Djent e tem o black metal, o que faria qualquer um achar ser algo impossível de se fazer soar bem em um primeiro momento, mas deu muito certo. Ela também faz parte do “EP “Marginal, com sua temática falando do racismo e a pobreza atualmente.

6) Ainda neste sentido musical, vocês acham que já encontraram a identidade sonora da banda?

Sem duvida, foi no “Prole” que nos identificamos. Sempre quisermos fazer um som pesado e com uma proposta diferenciada. O instrumental, os vocais e as letras em português foram feitas de forma nítida e agressiva, sem deixar pender para a performance ou execução nos shows. Quem assiste o Matakabra sente isso de primeira.

7) Quais seriam as principais influências do Matakabra? Existe algum nome que possui forte influência no som da banda, mas que nunca foi citado em resenhas ou entrevistas?

Não é por menos que nos situamos do Deathcore. Bandas como Whitechapel, Suicide Silence e Carnifex foram grandes influências para a Matakabra. Mas as bandas do fim dos anos 90 também fizeram a nossa cabeça, o Slipknot principalmente. A influência de Dimmu Borgir e Belphegor também é muito presente, tanto quanto de bandas como o Meshuggah ou Project46. Infelizmente o metal para nós sempre foi importado. Somos de uma geração que se identificou muito com o new metal, mas que sofreu com a carência de bandas e valorização desse cenário aqui. Falando de um som mais moderno, o Project46 é a única banda que tinha a modernidade que sempre víamos lá fora.

8) Não só o instrumental, mas também a mensagem entregue pelo Matakabra é contundente, de forte apelo social. A banda (ou os integrantes isoladamente) possui algum posicionamento político?

A banda não possui posicionamento político declarado e nem pretende. Rafael é único que se posiciona politicamente e o Theo, outro exemplo, pode-se dizer que seria o menos interessado na temática, mas segundo caso não significa que não exista interesse ou indignação com o que tem ocorrido no pais.

Uma das coisas boas da nossa relação enquanto banda é isso, sempre existe a possibilidade e capacidade de diálogo, dentro da experiência pessoal de cada um e de como somos afetados com o que acontece de material em nossas vidas como reflexo principalmente das decisões tomadas pelos nossos representantes eletivos ou concursados no Estado ao longo da história.

Rodrigo escreve as letras, muitas vezes com participação do Fernando e do Rafael, dentro dos conceitos e discussões que temos no grupo e assim a banda se consolida também em um discurso e intenção. A vida pessoal de cada um e da banda principalmente, está longe de qualquer militância.

Hoje em dia com toda a polarização política e a ausência de diálogo como consequência, acho que pessoas interessadas em ouvir nossa mensagem podem perder o interesse na banda simplesmente por achar que existe um rótulo. Acreditamos que não é possível fugir da ideologia, mesmo que você não se dê conta que possui uma ou que negue.

Por isso situamos a banda em discussões que achamos necessárias. Pois, ou você procura acabar com a estrutura e consequências da segregação racial no Brasil ou você fortalece a estrutura. Não existe um meio termo ou um lado mais ou menos certo, é uma questão ética. Por isso mesmo questões como essa não deveriam ser defendidas apenas pelo lado B por desinteresse do A.

9) Além do fato de ser mais imediata a absorção da mensagem, existiu algum outro influenciador para a escolha de compor em português?

São poucas bandas de metal que compõem em português, mas uma das bandas que se destacou nos últimos 6 anos aqui no Brasil foi o Project46. Eles mostraram que dá pra fazer um metal pesado em português com suas peculiaridades, gírias e sotaques.

10) Vocês acham que mesmo cantando em português conseguiriam cavar um espaço no mercado internacional?

Essa é a pergunta que vale um milhão. Se não cantássemos em português dificilmente teríamos a atual repercussão. Mas é um fato que a língua globalizada é o inglês. Possuímos poucos exemplos, mas sabemos que existe abertura principalmente aqui na América Latina e em outros que possuem o português como língua nativa. Mas até o momento não é do interesse da banda mudar a proposta.

11) Existe uma clara evolução conceitual e musical nos EPs “Prole” e “Marginal”. Existe uma projeção para a sequência do conceito? Já não estaria na hora de prolongar o discurso conceitual e levar o estilo impactante do Matakabra para um full lenght?

Existe sim, pois desde o “Prole” nos interessamos em trazer nas músicas uma forte crítica social, para além de um grito de indignação. E com certeza o full lenght sempre foi nosso objetivo desde as primeiras demos. Procuramos evoluir a cada trabalho lançado e a ideia de situa-los em conceitos é uma forma de fechar nossa mensagem. Estamos ainda no ciclo do Marginal e logo mais vamos cair de cabeça no álbum e já podemos afirmar que será impactante e pesado, pois já estamos preparados para isso.

12) Nossa última pergunta é um clichê, mas justificável, afinal “Matakabra” é um nome interessante, pois traz aglutinadas referências à violência do som, à origem territorial e possui uma fonética precisa. Qual a origem deste nome?

A origem do nome não é nem um pouco rebuscada quanto essa análise. (risos). Em uma brincadeira no grupo do whatsapp da banda, o Blico mandou um áudio gritando que parecia de fato algo agonizando. Isso é bem a cara dele. Uma das respostas ao áudio foi “parece mais que estão matando uma cabra”. Daí, pra condensar isso em um nome só não demorou muito tempo.

13) Obrigado pela entrevista, e fique à vontade para fazer suas considerações finais.

Quem curtiu o que foi dito aqui pela banda pode nos procurar por Matakabra no Facebook, instagram e nas plataformas de streaming, não tem erro. Estamos sempre presentes nessas redes sociais e lá vocês têm acesso as nossas novidades e um contato mais próximo com a banda. Ainda possuímos mais alguns materiais para serem lançados esse ano. Principalmente para quem não conhece a banda, é a melhor forma de começar a nos ouvir.

E mais uma vez agradecemos a vocês pelo espaço cedido, diretamente a você também Marcelo, pelas palavras nas resenhas feitas do “Marginal” e do “Prole”. Agradecemos também ao Cristiano Borges que tem feito um ótimo trabalho com a Cangaço Rock Comunicações nos assessorando. E além do público que sempre tem nos acompanhado, mandamos um agradecimento especial que ficou até agora para ler essa entrevista até o final. Nos vemos por aí!

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