Sempre que se anuncia um novo lançamento do Iron Maiden, o frisson causado exalta paixões e irracionalidades que influenciam diretamente na avaliação do conteúdo musical apresentado no trabalho.
“The Book Of Souls” pode ser considerado um dos cinco mais importantes lançamentos do mundo do rock, quiçá, do mercado fonográfico em geral, neste ano de 2015.
Sendo assim, passado o tsunami de empolgação pós-lançamento causado pela inflada “torcida” da banda, vamos conversar francamente sobre este importante álbum de 2015.
Um detalhe importante que acredito ter pesado nas avaliações que exaltam este como um novo clássico da banda é a infeliz doença de Bruce Dickinson. Parece incongruente, mas vamos a uma análise fria do desenrolar de acontecimentos.
Já vi alardearem que este novo álbum é o melhor desde “Brave New World”!
Em meus ouvidos, as canções estariam mais próximas do progressivo e criticado “A Matter of Life and Death”, que é até melhor que este “The Book of Souls”.
Entretanto, o coração dos fãs mais extremistas foi amaciado pelo susto do triste diagnóstico que acometeu o vocalista.
Uma notícia como esta plantou no imaginário dos fãs da banda uma maior possibilidade daquilo que vinha sendo ventilado desde o álbum anterior, “The Final Frontier”, de que aquele seria a última investida em estúdio da banda.
Após esta possibilidade tão tangível da perda do que se ama, todo o abuso progressivo, outrora criticado em “A Matter of Life and Death”, é exaltado em “Book of Souls”.
Aos que não enxergam esta execração do álbum de 2006, lembro-vos de que a banda tentou de todas as formas fugir daquele padrão em “The Final Frontier”, compondo peças mais diretas, algo completamente fora da proposta deste “Book of Souls”, que retomou a extrapolação das texturas progressivas.
Acredito que este último lançamento foi superestimado pelo alívio que os fãs sentiram a ver obliterado seu medo deste álbum não acontecer.
Claro que a realidade de soar deveras progressivo não é fator depreciativo para este novo álbum do Iron Maiden, visto que Steve Harris, líder da banda, já declarara que “também há muito de progressivo” dentro das influências nitidamente advindas do classic/hard rock na música do Maiden.
Mas então o que faz de “Book of Souls” um álbum ruim na minha avaliação?
A verdade é que, tirando toda a empolgação que circunda o lançamento, “The Book of Souls” sofre de uma auto indulgência atroz e de um ufanismo de causar rubores.
Quase todos os arranjos são previsíveis, as viradas já são manjadas e a sensação de “deja-vu” a cada nota de guitarra ou baixo é compulsória.
Parece que desconstruíram seus maiores clássicos e fizeram colagens para chegar às “novas” músicas.
Por exemplo, “Shaddow Of Valley” foi “Wasted Years” em outra encarnação futurista, enquanto o exaltado single de “Speed Of Light” remete a “Fear Is The Key” e “Run To The Hills” em meio a seu instrumental burocrático.
Não feche os olhos para a verdade irrefutável de que todas as investidas progressivas são receitadas requentadas dos dois álbuns anteriores.
Quando as canções não se assemelham a colagens de seus próprios clássicos desconstruídos, como acontece nas faixas “The River Runs Deep” ou “The Book Of Souls”, a banda erra ao esticar em demasia as canções que, segundo os membros da banda, fora algo natural dentro do processo de composição. Pois bem, natural, mas desnecessário.
Estas duas canções exemplificam de modo brilhante a falta de ousadia nestes arranjos longos e presunçosos, além das introduções exageradas.
Doravante, estas canções serão esquecidas certamente.
Pra não dizer que tudo foi perdido, “Empire Of The Clouds” é um oásis de ousadia musical cercado pelo deserto de mais do mesmo.
Uma canção diferente de tudo o que a banda já compôs, sendo quase uma rock-opera, sem perder a identidade da Donzela de Ferro.
O próprio chefão Steve Harris teria dito ao compositor da peça, Bruce Dickinson, que esta era uma obra-prima, sendo uma despedida em alto nível caso este fosse o último álbum da banda.
Além desta faixa, Bruce ainda compôs a dispensável “If Eternity Should Fail”, igualando o feito do álbum “Powerslave”, quando emplacou duas composições no tracklist do álbum.
Segundo Steve Harris, não houve planejamento para a longa duração das faixas e, muito menos, o formato duplo para o álbum, que, ao contrário do que se pode pensar, não é conceitual.
Penso neste novo álbum como apenas uma prova cabal de que muitos fãs de heavy metal cultuam apenas a mesmice dentro do estilo. Louvam o mais do mesmo!
Concordo quando dizem que o Iron Maiden não tem nada mais a provar.
Todavia, como já escrevi anteriormente, precisa ao menos tangenciar a genialidade para não simplesmente entrar em campo e achar que camisa ganha jogo.
Um novo álbum da banda ferve o mercado fonográfico, pois os fãs do estilo são fiéis, sendo um dos poucos nichos onde ainda se registram vendas de álbuns físicos.
Em poucos meses, “The Book Of Souls” já cruzou a marca de cem mil cópias vendidas, colocou o heavy metal em evidência, fazendo do estilo comentado até mesmo em horário nobre de domingo em canal de televisão aberta.
Um banda do porte do Iron Maiden em plena atividade é importante, mas não feche os ouvidos para as fracas composições. Não se feche para a constatação avassaladora de que poderia ser bem melhor!
Mas os tons que anunciaram os momentos mais recentes da banda tornaram superlativas estas fracas composições, cujo resultado cansativo e repetitivo é o mesmo que fez “Virtual XI” ser arrasado pelas críticas.
Se não fosse pela atuação indefectível de Bruce por todo o álbum, estas constatações não seria ignoradas pelos fãs da banda.
A competência dos membros do Iron Maiden é indiscutível, sendo este fator um dos que mais elevam as expectativas daqueles que esperam músicas empolgantes e, até certo ponto, corajosas o suficiente para fugir de seus limites auto-impostos.
Decepcionante é o mínimo que posso comentar sobre este “novo” (fiquei com a impressão de já ter ouvido-o uma década atrás) álbum do Iron Maiden, uma auto-indulgente demonstração de mais do mesmo.
Se pela sua cabeça está passando uma indagação natural de qual seria o álbum deste ano, no heavy metal, melhore do que “The Book Of Souls”, procure os álbuns do Armored Saint, Paradise Lost, Angelus Apatrida, Soldier, Dr. Living Dead e Enforcer.
LEIA MAIS:
- IRON MAIDEN | “The Trooper”, o Poeta e a Guerra da Crimeia
- IRON MAIDEN – “Virtual XI” (1998) | VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO
- Aleister Crowley e o Rock N’ Roll
- A ÚLTIMA GRANDE GERAÇÃO DE ÁLBUNS DE ROCK: Parte Final
- RESENHA | Paradise Lost – “The Plague Within” (2015)
- HEAVY METAL | Como o Rock virou Metal?
SEUGESTÕES DE LIVROS:
Outros Artigos que Podem Ser do Seu Interesse:
- Kindle Unlimited: 10 razões para usar os 30 dias grátis e assinar
- Os 6 melhores fones de ouvido sem fio com bateria de longa duração hoje em dia
- Edição de Vídeo como Renda Extra: Os 5 Notebooks Mais Recomendados
- As 3 Formas de Organizar sua Rotina que Impulsionarão sua Criatividade
- Camisetas Insider: A Camiseta Básica Perfeita para o Homem Moderno
Isso é uma verdade! E Olha que voltaram ao Guillaume Tell Studios, onde gravaram Brave New World, situado em Paris… Mas nem estas circunstâncias ajudaram! Obrigado pelo comentário… Abraços!
Outro fator que deixa o álbum menos interessante é a produção de Kevin Shirley, que ficou bem fraca!