Föxx Salema – Resenha de “Rebel Hearts” (2019)

 

Vinda de Bragança Paulista a cantora e musicista Föxx Salema apresenta seu primeiro trabalho, “Rebel Hearts”.

Föxx é uma artista independente, autodidata e pioneira como pessoa transgênera no cenário heavy metal nacional, e leva toda essa bagagem para sua obra, principalmente nas letras contundentes e diretas, que usam elementos autobiográficos para discutir temas sociais e políticos.

Estou ciente dos ataques virtuais que a musicista vem sofrendo, assim como seu posicionamento político, mas adianto que, mesmo consciente da importância e impacto destes elementos na música, meu foco será direcionado apenas para a música e para arte, com todas as sua implicações.

Föxx Salema - Rebel Hearts (2019, Independente) Resenha

E musicalmente temos, nestas oito composições, uma abordagem versátil e multifacetada dentro do hard rock/heavy metal, inspirado pela escola norte-americana oitentista em suas formas mais cruas e também por alguns nomes do underground (também oitentista) da cena metálica britânica, o que já era antecipado pelos singles de “Mankind” e uma versão de “Constant Fight”, em 2013.

As músicas transitam pelas diversas maneiras de se explorar os classicismos do hard rock e do heavy metal, com guitarras vibrantes, variando bem melodia com crueza, o baixo pulsando em suporte às harmonias, os refrãos e as linhas vocais bem desenhadas.

Porém, a produção é um fator que aos meus ouvidos prejudicou o resultado final.

Por ser crua demais (nas timbragens, texturas e no registro dos vocais) ela deixou tudo com sabor heterogêneo (principalmente na bateria e nos teclados) e diletante (no sentido do “do-it-yourself”), o que deu um sentimento dúbio quanto ao potencial de composições como “Subconscious”, “Vengeance Will Come”, a quase punk “Makind” e a versão atualizada de “Constant Fight”.

A mim, ficou a dúvida se essa produção é parte do conceito de “saudade idealizada”, um sentimento de retomada impulsionado por lembranças de musicalidade, timbragens e execução técnica que remetem a um passado saudoso.

Ou seja, “Rebel Hearts” tem uma espécie de “nostalgia underground“, pois as músicas em si parecem seguir uma estética conceitual underground vintage, impressão reforçada por músicas como “Rebel Hearts”, “I”,“Emotional Rain”, que trazem guitarras típicas dos anos 1980, mas fraquejam na sonoridade da bateria.

Sabe a sonoridade dos discos dos primórdios do heavy metal nacional? Ou então aqueles primeiros discos de bandas como Motley Crue, Tygers of Pan Tang, Queensryche, Helloween e W.A.S.P.? Pois então, essa é sensação perene nestas oito composições.

E não estou dizendo isso como algo pejorativo, afinal, como eu disse anteriormente, entendo que essa escolha possa ser uma forma de se rebelar contra a estética pop. Mais ainda, não há como negar que essa crueza musical enlaça com mais força e poder a mensagem das músicas.

Todavia, como eu já disse antes, mesmo esse possível conceito reflete algo de confuso no trabalho. É fato que musicalmente Föxx Salema é uma artista que serve apenas ao Senhor da Liberdade, mas até na arte é preciso de um centro referencial que guie o trabalho, pois, caso contrário, cai-se na libertinagem, no caos!

Aos meus ouvidos a artista ainda não encontrou sua ordem em meio ao caos de possibilidades para sua música. Um pouco de lapidação nunca faz mal, mesmo quando queremos ser ásperos, incisivos, e contundentes, como é o caso aqui.

Conceitual, ou não, creio que o quesito “produção” deva ser melhor trabalhado nos próximos capítulos de sua obra, afinal, criatividade, energia, e personalidade (principalmente) transbordam destas composições.

Olhando pelo lado positivo, existe um vasto campo para evolução. Que venham os próximos álbuns!

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