Deep Memories – Resenha de “Rebuilding the Future” (2018)

 

O Deep Memories, fruto da mente de Douglas Martins, emerge como um fenômeno no cenário nacional de metal, desafiando convenções e construindo um som único que incorpora melancolia e agressividade. “Rebuilding the Future,” seu álbum de estreia, mergulha em temas sombrios e introspectivos, explorando memórias e a vida após a morte. A música, uma mistura de death metal, doom metal e elementos góticos, cria um universo sonoro cativante e fascinante.

Deep Memories - Rebuilding the Future
Deep Memories: “Rebuilding the Future” (2018, Heavy Metal Rock/Misanthropic Records) NOTA:10

No coração do metal brasileiro, surge uma nova entidade sonora: Deep Memories. Em contraste com seu passado no Desdominus, o músico Douglas Martins desbrava um caminho solitário e inovador com seu álbum de estreia, “Rebuilding the Future.” Mergulhando nas profundezas do death metal, doom metal e gótico, Deep Memories tece um conto envolvente de melancolia e agressividade, explorando temas que tocam a alma. Este artigo irá desvendar o universo sonoro único criado por Douglas Martins e a importância da banda para a cena do metal brasileiro.

Deep Memories – Resenha de “Rebuilding the Future” (2018)

A banda Desdominus se destacou dentro da cena metálica nacional por praticar um som extremo sem se abster da musicalidade e da harmonia, numa alquimia sonora embasada entre brutalidade e melodia, diluída por momentos cadenciados ou mais acelerados, numa versão acachapante. Digo isso, pois o músico Douglas Martins, fez parte dessa história, ajudando a construir o álbum “Without Domain” (2003) – que resenhamos aqui.  Ele deixou o Desdominus em 2005, começando uma jornada solitária que culminaria nesse “Rebuilding the Future” (2018), disco de estréia do Deep Memories.

Formada em 2016, a Deep Memories é uma one-man-band que mira no atrito entre melancolia e agressividade para compor sua músicas que fundem progressivo, death metal, doom metal e gothic metal. Ou seja, não espere algo como o feito pelo Desdominus. Existe uma prosa refinada, por vezes de construção engenhosa, explorando climas e sentimentos com profundidade, sem deixar de ser pesado, técnico e agressivo, principalmente nos vocais, que por vezes resvalam na estética moderna do black metal. Aliás, muito das sombras gélidas das formas depressivas do black metal se fazem presentes em “Rebuilding the Future”.

As tintas góticas dão um clima envolvente e requintado às naturezas melódicas e lentas, com letras bem ajambradas, reflexivas e pessoais, explorando conceitos da vida após a morte. O conceito das letras lida com memórias marcantes, que se tornam aprendizados em nossa existência, seja intelectual, social ou espiritual, bem como o potencial inexplorado de nosso subconsciente, dialogando com o ouvinte, com seus fantasmas, criando uma ligação forte.

“When the Time for My Last Breath Comes” abre o álbum com peso climático que lembra o antigo Anathema, seguida por “Suffocating Grayish Darkness”, com acentuado sabor gótico, vocais limpos e ambientação dos teclados, indo do espectro do antigo Theatre of Tragedy ao Wood of Ypres. “There is No End” segue com um pouco mais de experimentação, ao mesmo tempo que explora melodias de forma intensa, como o Dimmu Borgir já fez em sua fase noventista.

Neste início de álbum é perceptível como o Deep Memories cria seu próprio universo pela forma de expressão e pelas referências que escolhe, além de uma destreza técnica que soa sempre bela, nunca exibicionista, numa grande exploração das possibilidades dos timbres  de guitarra característicos do gênero. “Rebuilding the Future” é um álbum mais cadenciado do que arrastado, gravado, produzido e mixado por Douglas Martins, e impressiona pela limpidez orgânica do resultado final.

“Between Two Dimensions” é um exemplo disso, com sua belíssima introdução na guitarra que me soou como se Mark Knopler estivesse compondo para o Iron Maiden. Claro que essa faixa evolui para um death/doom metal sujo e arrastado, mas de forma instigante, principalmente nas linhas de baixo e pelas remissões ao Paradise Lost, assim como “Looking at the Black Mirror” que além dessas também tem remissões ao Katatonia. Aliás, não dá pra não pensar em Paradise Lost, Katatonia, Anathema e My Dying Bride (ouça as guitarras em ciclos hipnóticos e vozes sobrepostas de “The Bitter Taste Of Illusion”, uma das melhores do trabalho) enquanto o álbum se desenvolve.

Porém, que fique claro que Douglas conseguiu imprimir uma identidade na sonoridade do Deep Memories, que está bem caracterizada nos riffs de impacto, solos bem construídos, inteligentemente encaixados e pertinentes às composições. Ou seja, Douglas foi eficiente ao criar uma dinâmica interessante para “Rebuilding the Future” enquanto passeia pelas diferentes formas do doom metal, ora obscuro, ora reflexivo, sempre sobrepondo camadas e texturas de peso e sensibilidade musical.

Isso tudo cria uma riqueza musical reverente e fascinante ao lidar mais com a essência do gênero do que com suas circunstâncias. Isso é evidenciado no clima arcano e ancestral de “Explicit Way to Relieve Pain”, com peso ctônico e cadencia megalítica, além da ambientação épica. Em termos experimentais, “Erased Directed Mindsets” sem dúvidas é a faixa de maior impacto. Essa faixa me soou como um produto de um estranho irmão da banda Cocteu Twins, construído por texturas etéreas numa escala cinzenta de cores musicais introspectivas.

Por isso tudo, Deep Memories é o grande novo nome a explorar o death/doom metal no Brasil, preenchendo um lugar vacante no metal nacional, com qualidade superior a muito congênere internacional.

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