Deep Purple – Resenha de “Whoosh!” (2020)

 

“Whoosh!” é o vigésimo primeiro álbum de estúdio do Deep Purple, uma banda histórica pelas mais de cinco décadas de bons serviços prestados ao rock.

Até por isso, o simples fato de uma banda como o Deep Purple, que poderia viver de seu passado glorioso, recheado de clássicos, estar lançando um novo disco deve ser comemorado.

Sucessor dos também ótimos “Now What?!” (2013) e “inFinite” (2017), “Whoosh!” fecha a trinca de álbuns recentes gravados ao lado do produtor Bob Ezrin (nome vinculado a outros ícones do rock como Alice Cooper, Pink Floyd e Kiss).

Deep Purple - Whoosh! (2020, Shinigami Records, earMUSIC)
Deep Purple – “Whoosh!” (2020, Shinigami Records, earMUSIC)

E não seria exagero dizer que Ezrin ajudou o Deep Purple a retomar seu espírito clássico, afinal, o trabalho em estúdio conferiu muita organicidade às composições.

Ao dar espaço para os instrumentos ressoarem, a produção conseguiu como resultado uma atmosfera eletrizante, lembrando algo dos tempos de “Machine Head” (1972) e “Who Do We Think We Are” (1973).

Aqui existe inclusive uma regravação de “And the Address”, composição de Ritchie Blackmore e Jon Lord, que nos levará ainda mais longe, pois ela é também faixa de abertura de seu primeiro disco, “Shades Of Deep Purple” (1968)

Isso me deixou com uma pulga atrás da orelha: seria o Deep Purple nos dizendo que seu ciclo fechou e este seria seu último disco de estúdio?

Afinal, “And the Address” é a última faixa do tracklist oficial de “Whoosh!”, o que completaria um círculo com a primeira faixa de “Shades of Deep Purple” (1968).

Se isso é uma mensagem ou uma especulação, só o tempo nos dirá!

Em comparação aos dois discos anteriores, “Whoosh!” mostra uma banda mais livre, profunda e focada (como na climática e progressiva “Step By Step”), com músicas que soam frutos de um processo de composição centrado em energia e dinâmica, colocando detalhes que só serão percebidos com mais de uma audição atenta.

Isso porque os elementos musicais comuns ao Deep Purple são explorados com mais versatilidade  e experiência, à começar pelas letras que também estão profundas, tratando de problemas reais de uma forma reflexiva.

A performance coesa dos músicos dá um sentido de trabalho em equipe para o álbum que, mesmo tendo nos teclados de Don Airey seu guia, todos brilham com igual destaque.

Ainda assim convido-os a prestar atenção no trabalho do sempre impecável Steve Morse (seu solo é o diferencial em faixas menos inspiradas como “We’re All The Same In The Dark”) e à energia jazzística ainda impressa por Ian Paice.

Partindo para as composições especificamente,“Nothing At All” traz um duelo de guitarra e teclado à moda fusion (ainda mais declarado na rápida “Remission Possible”) que faz dela uma das melhores músicas dos últimos vinte anos da banda, enquanto “Drop the Weapon”, por sua vez, se destaca numa direção oposta, pelas harmonias vocais e pelos corais.

Já “What the What” (que abre a segunda parte do disco) invoca os espíritos ancestrais do rock citando cânones como “Long Tal Sally”, de Little Richard, e “Throw My Bones” ensaia um groove nas guitarras que me lembrou do Dixie Dregs, antiga banda de Steve Morse.

Essa faixa, que abre o trabalho, já antecipa aquilo que falamos sobre a liberdade criativa que o Deep Purple experimentou nesse disco, lançando mão de diversos elementos numa mesma e cativante composição, apesar da falta de um desfecho apropriado (fade out é um recurso ultrapassado), como tão bem fizeram em “The Long Way Round”, onde trazem aquela tensão ritmada novamente para sua música.

Seguindo o repertório, “No Need to Shout” é um hard rock sinuoso, com bom refrão, ritmo provocante e guitarras inflamadas, numa música típica da banda, assim como “The Power of the Moon” vai numa redireção diferente, numa vibe meio Blue Oyster Cult, e “Man Alive” é um belíssimo tema progressivo com spoken word e passagens viajantes.

A versão nacional de “Whoosh!”, à cargo da Shinigami Records, ainda conta com a-bônus “Dancing In My Sleep”, uma faixa excelente, diga-se.

Em suma, creio que “Whoosh!” possa ser um disco que chame de volta alguns ouvintes que tinham abandonado a banda nos últimos anos.

FAIXAS:

1. Throw My Bones
2. Drop the Weapon
3. We’re All the Same in the Dark
4. Nothing at All
5. No Need to Shout
6. Step by Step
7. What the What
8. The Long Way Round
9. The Power of the Moon
10. Remission Possible
11. Man Alive
12. And the Address
13. Dancing in My Sleep

FORMAÇÃO

Ian Paice »» Bateria, Percussão
Roger Glover »» Baixo, Vocal
Ian Gillan »» Vocal
Steve Morse »» Guitarra, Vocal
Don Airey »» Teclados

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