Belphegor renova seu death black metal no álbum "The Devils"

“The Devils” é o décimo segundo álbum de estúdio da lendária banda de death metal austríaca Belphegor, um dos trabalhos mais impressionantes de sua longeva carreira.

Abaixo você lê nossa resenha de “The Devils”, do Belphegor, disco lançado no Brasil pela parceria entre os selos Shinigami Records e Nuclear Blast.

O Belphegor conseguiu em “The Devils” recriar o clima deletério, sombrio e maléfico do black metal e capturar a essência tétrica do estilo em cada movimento. Junto com as letras que versam sobre o que há de mais obscuro no universo e as melodias pesadas e macabras eles criaram um conjunto de nove faixas infernais que mantém intacta a honra da banda como uma das mais bestiais de sua geração.

Aliás, a mistura de inglês, latim e alemão causa um efeito impressionante dentro da imagética musical criada pelo Belphegor em “The Devils” que mistura muito bem o death metal e o black metal. Nesse sentido os vocais que parecem saídos dos círculos mais profundos do inferno descrito por Dante ganham ainda mais impacto ocultista.

Entretanto, são as guitarras que chamam mais a atenção nas composições de “The Devils”. Elas unem o peso e a melodia através de timbragens ásperas que mantém a identidade musical do Belphegor intacta, ao mesmo tempo que apontam para a modernidade do metal extremo, buscando periodicamente elementos de deathcore, principalmente em alguns breakdowns inesperados.

Isso causa uma sensação de renovação, evolução e maturidade na música do Belphegor, que ainda continua brutal e sustentada por linhas de bateira que equilibram bem os explosivos e catárticos blast-beats com os ritmos mais cadenciados, numa dinâmica altamente técnica e de ascendência tribal.

Tudo bem, não dá pra negar que “The Devils” é um disco menos agressivo se comparado ao anterior, o rolo-compressor intitulado “Totenritual” (2017), afinal eles agora buscaram uma dinâmica mais variada para as músicas, resultando num repertório multifacetado no que diz respeito aos aspectos de composição.

Aqui em “The Devils” cada uma das nove faixas segue caminhos distintos e algumas vezes inesperados, gerando um trabalho mais elaborado, intercalando inserções acústicas e progressões melódicas que até lembram um pouco o Dissection em certos movimentos, chegando até mesmo a dar um verniz daquele satanismo gótico inerente ao gênero.

Toda esta pluralidade musical de “The Devils” está bem representado em composições de destaque como “Totentanz – Dance Macabre”, “Virtus Asinaria – Prayer” e “Ritus Incendium Diabolus”. Estas três músicas mostram como o Belphegor buscou expandir as possibilidades de sua musicalidade dentro das formas mais negras e sombrias do metal extremo, com versatilidade e criatividade.

Já ” Damnation – Höllensturz” é um caso à parte, com coros, elementos sinfônicos e experimentalismos que criam uma espécie de sinfonia infernal requintada e maléfica, descolada da agressividade gratuita. Este é o tipo de composição que prova que o Belphegor é capaz de fazer da mistura entre death e black metal pura arte quando sai de sua zona de conforto e testa seus limites.

Mesmo assim, não posso dizer que o Belphegor mudou drasticamente sua musicalidade em “The Devils”. Isso porque os riffs poderosos e cortantes, e a bateria contundente do death metal permanecem como parcela maior dos arranjos. Tanto que a aura maléfica do black metal já esta presente desde o início do trabalho com a faixa-título e “Glorifizierung des Teufels”.

Tecnicamente, “The Devils” é excelente, bem produzido por Jens Bogren e ainda melhor elaborados e executado pela dupla Helmuth e Serpenth, que conseguiu criar uma atmosfera de terror que te infunde medo e reverência desde seu primeiro segundo de execução.