Yngwie Malmsteen | O Heavy Metal À Moda Neoclássica

 

Yngwie Malmsteen foi para muitos fãs de heavy metal a porta definitiva para o universo da música erudita. Ele levou o neoclássico de Ritchie Blackmore e Uli John Roth a um patamar inédito de virtuose dentro do rock/metal, sendo comparado a Paganini, o maior dos violinistas. Neste artigo queremos fazer um rápido passeio por sua carreira.

Indubitavelmente Malmsteen foi um dos nomes revolucionários da guitarra, conseguindo trazer algo de novo para o heavy metal com pouco mais de vinte anos de idade. Ou seja, não dá pra diminuir sua importância na história do heavy metal, muito menos deixar de cogitar que sua técnica possa ter sido tão copiada quanto a do saudoso Eddie Van Halen.

Yngwie Malmsteen - Biografia comentada

Os Tempos de Steeler e Alcatrazz

No Steeler, ao lado de Ron Keel, Malmsteen teve suas primeiras experiências em estúdio, apesar de não estar muito satisfeito. “Eu estava meio frustrado quando tocava no Steeler, pois eu não podia desenvolver minhas técnica”, declarou o guitarrista. Quando foi recrutado para o Alcatrazz por Graham Bonnet, um vocalista já renomado, Malmsteen achou que isso ia mudar mas não foi bem assim. “Quando fui tocar no Alcatrazz, escrevi todas as músicas, mas ainda não estava satisfeito porque não podia agir livremente”, ele disse anos mais tarde.

Todo o processo de formação e composição se deu muito rápido no Alcatrazz, e em 1983 as gravações de “No Parole From Rock N’ Roll”, primeiro álbum, já haviam sido realizadas, e o álbum era lançado pelo selo Grand Slam.  A fórmula seguia o padrão de Bonnet no Rainbow, as composições eram excelentes gerando críticas positivas por parte da mídia especializada. Porém, Malmsteen e seu estilo neoclássico já chamava a atenção e roubava a cena. Obviamente isso começou a gerar problemas com os choques de ego.

O disco trazia destaques como “Islands in the Sun”, “Jet to Jet”, “Hiroshima Mon Amour”“Too Young to Die” onde o atrito de egos de Bonnet e Malmsteen gerava momentos musicais brilhantes, pois um impulsionava o outro a se superar. Se Malmsteen entregava a técnica apurada, Bonnet oferecia a emoção em cada nota bem interpretada.

Com todos esses predicados esse disco rapidamente galgaria status de clássico do hard n’ heavy oitentista. Mas a insatisfação do guitarrista e o conflito de egos decretou sua saída da banda: “O Alcatrazz era uma banda e então eu tinha que discutir as decisões e minha maneira de tocar. Por isso parti para uma carreira solo”. Em seu primeiro álbum solo, Malmsteen registraria uma composição dos tempos de Alcatrazz intitulada “Evil Eye”, que inclusive tem um registro ao vivo daquela época no álbum ‘Live Sentence”.

Os Três Primeiros Discos Que Criaram o Mito

A maior prova de que Malmsteen queria, de fato, fazer algo diferente do que vinha em sua carreira reside no fato desse seu primeiro disco solo ser marcado por temas instrumentais. Principalmente “Black Star” “Little Savage” que apontavam uma abordagem diferente  para o instrumento, mas também “Far Beyond the Sun”, são provas desta afirmação.

Claro que a produção tímida e o direcionamento ainda não definido eram traços evidentes de um jovem músico buscando sua voz própria, e caindo em algumas armadilhas da inexperiência. “Eu era apenas um garoto tocando guitarra e tinha isso como grande diversão”, observa Malmsteen, que complementa dizendo que: “É lógico que eu sabia das minhas qualidades e que contava com uma banda espetacular.”

Na formação, o tecladista Jens Johansson (que mais tarde estaria na linha de frente do metal melódico no time do Stratovarius) e o vocalista Jeff Scott Soto são os destaques. Jeff inclusive consegue se destacar num disco com apenas duas faixas com linhas vocais, não por acaso momentos também brilhantes do disco: “Now Your Ships Are Burned” “As Above, So Below”. O simples fato de ambos conseguirem mostrar seu trabalho num álbum com tão pouco senso de banda é louvável. Lembre-se que o baixo, por exemplo, foi gravado pelo próprio Malmsteen.

Nos dias de hoje, muitos louvam o álbum seguinte, “Marching Out”, afinal, nele Malmsteen conseguiu aparar todas as arestas que incomodavam em seu primeiro disco. Existiam lendas que circulavam sobre sua prática de doze horas diárias no instrumento, até que seus dedos começassem a sangrar.

“Marching Out” (1985) trazia o clássico “I’ll See the Light Tonight”, além disso, na formação, somados a Johansson e Soto, Malmsteen tinha um baixista, o saudoso Marcel Jacob (que mais tarde formaria o Talisman com Soto), e o baterista Anders Johansson.

Mesmo assim, o ápice viria em “Trilogy” (1986), seu terceiro disco solo, o melhor da sua carreira. Algumas mudanças na formação foram feitas. Soto e Marcel Jacob já não estavam mais no time. Malmsteen retomou o baixo nas gravações e trouxe Mark Boals para completar a formação ao lado dos irmãos Johansson. Faixas como “Liar”, “Fire”, “Magic Mirror” e, principalmente, “You Don’t Remember, I’ll Never Forget” mostravam um guitarrista em plena forma como compositor.

Com seus três primeiros discos, o guitarrista sueco trouxe os compositores eruditos para mais perto dos fãs de heavy metal, mas ele nunca mais conseguiria ser acessível com tamanha qualidade em sua carreira como foi de “Rising Force” a “Trilogy”.

Uma carreira Irregular

Logo após “Trilogy”, Malmsteen sofreu um acidente de carro que causou problemas numa de suas mãos. Após esse período de incerteza vieram álbuns menos expressivos como “Odyssey” (1988), “Eclipse” (1990) e “Fire & Ice” (1992), criticados com veemência pelo próprio criador em entrevista à revista Roadie Crew: “Eu queria que ‘Odyssey’, ‘Eclipse’ e ‘Fire & Ice’ desaparecessem da minha carreira, não fizessem parte da minha história. Eu perdi totalmente minha direção, foram álbuns muito comerciais e por isso não gosto destes trabalhos.”

“Odyssey” (o último disco de estúdio de Malmsteen a ter os irmãos Johansson na formação) trazia uma festa de refrãos grudentos com a voz de Joe Lynn Turner, numa proposta continuada no disco seguinte, “Eclipse” (com destaque ao single “Making Love”). Na sequência, “Fire & Ice” até atendia o apelo dos fãs para uma volta de Malmsteen à forma neoclássica, mas ele ainda não abandonou certas melodias fáceis e o toque comercial que ajudou-o a angariar certo sucesso no Japão, Europa e Estados Unidos.

Até por isso, Malmsteen entrava na década de 1990 musicalmente perdido e sem foco, um esboço da genialidade do passado. Algo que só iria se resolver em “The Seventh Sign” (1994). “Com o álbum ‘Seventh Sign’ eu voltei para minha linha e esse é um álbum excelente, já com nos vocais”, afirmou Malmsteen no fim da década de 1990. Já com Michael Vescera nos vocais, Malmsteen recobrava ali o equilíbrio entre melodia, peso e técnica de suas raízes.

Infelizmente, a promessa de retomada feita em “The Seventh Sign” (1994) foi quebrada com o mediano “Magnus Opus” (1995). A coisa desandou de uma forma tão séria que o próximo álbum de Malmsteen seria um disco de covers, intitulado “Inspiration” (1996). Sempre tendo a crer que discos de covers são demonstrações de fases sem criatividade de um artista.

Tudo mudaria novamente com o pesadíssimo e excelente “Facing the Animal” (1997). Apesar de ser um disco escanteado por muitos fãs do baterista Cozy Powell, principalmente aqueles que não tem paciência para o neoclassicismo auto-indulgente de Yngwie Malmsteen, é indiscutível a influência da forma de tocar do baterista na música do guitarrista e a qualidade dos vocais determinados e mais agressivos de Mats Léven. Na turnê de “Facing the Animal” Malmsteen veio ao Brasil para gravar um disco ao vivo que ele próprio classifica como “bem melhor que o que gravei na Rússia, o ‘Live At Lenningrado'”. 

Mesmo assim, o ápice de Malmsteen na década de 1990 aconteceu em “Concerto Suite for Electric Guitar and Orchestra in E flat minor Op.1”, lançado em 1998, onde o guitarrista registrou sua técnica em movimentos eruditos ao lado de uma orquestra. Após esse trabalho mais voltado ao erudito é fato que pouco se destaca na carreira do guitarrista sueco.

Um destes destaques, sem dúvidas, foi “Alchemy” (1999), que trouxe novamente o nome Rising Force estampado na capa, o que cria logo uma identificação com o passado, confirmada pela maior agressividade das composições. Vale conferir nesse disco a faixa “Leonardo”, dedicada ao gênio Leonardo Da Vinci e com um clima bem criado por cantos gregorianos em meio ao peso bem alimentado.

Com o passar dos anos Malmsteen acabou virando uma caricatura de si mesmo, onde a persona egocêntrica e afetada suplantou boa parte de sua genialidade como músico, outrora capaz de revolucionar a guitarra, conseguindo trazer algo de novo para o heavy metal com pouco mais de vinte anos de idade.

Se antes ele foi vanguarda, hoje ele tem soado um tanto datado em seus discos mais recentes, principalmente pela escolha própria de ser o vocalista em seus discos desde “Spellbound” (2012). Não por acaso, a qualidade dos discos caiu vertiginosamente a partir de então, pois ele está muito longe de ser um vocalista minimamente competente, o que compromete toda composição que ele conjure.

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