Uhrutau – ” Memory” (2022) | Resenha

 

“Memory” é o primeiro álbum da banda paulista de prog metal Uhrutau, estruturado sobre assinaturas rítmicas instigantes e arranjos por vezes experimentais.

"Memory" é o primeiro álbum da banda paulista de prog metal Uhrutau, estruturado sobre assinaturas rítmicas e geometria estrutural instigantes, por vezes experimentais.

A banda Uhrutau foi formada no final de 2017 pelas mãos de dois estudantes do curso de música da UNICAMP que queriam se expressar musicalmente através dos conceitos estíticos do metal progressivo e do metal melódico e logo foi consolidado como um power trio.

Pouco menos de dois anos depois, alguns shows pelo circuitos das cidades vizinhas, o Uhrutau entrou em estúdio para gravar “Memory”, sem primeiro disco, em abril de 2019, no estúdio Family Mob ( em São Paulo – SP), e nos estúdios Vitrola Digital e no do Victor Vawo, ambos em Campinas.

Porém, a pandemia chegou e todos os protocolos acabaram por fazer a banda, completada por Dhieego Andrade (bateria), Pedro Ghoneim (baixo) e Maurício Bortoloto (guitarra e vocal), a adiar o lançamento do trabalho para abril de 2022.

“Memory” chega a nossas mãos com oito faixas ambiciosas, técnicas e com feeling. A verve progressiva é moderna e vem numa costura de referências diretas do prog metal do Dream Theater e do Evergrey, do prog rock do King Crimson e do Gentle Giant, ao power metal melódico do Angra e do Stratovarius, além de tangências pontuais com estilos que vão do black metal ao indie rock, passando passando pela jazz, M.P.B., sendo construído sobre assinaturas rítmicas e geometria estrutural instigantes, por vezes experimentais.

Tudo isso emoldurando letras escritas num conceito amplo de livre pensamento, que poderia ser confundido com exercício terapêutico do ponto vista psicanalítico e até mesmo como um exorcismo emocional, como bem disse Bortolo na entrevista que nos concedeu.

O Uhrutau tem algo a dizer, isso é fato. Aliás, isso é algo que transparece desde a escolha do nome da banda, que faz referência a um pássaro do folclore brasileiro, de hábitos misteriosos e noturnos, oriundo da Amazônia, cujas lendas, o colocam como um ser amaldiçoado e um sinônimo para o mau agouro. Poucas vezes vi um nome de uma banda combinar tanto com a sua personalidade musical.

Falando do repertório, o primeiro grande destaque do disco chega logo na segunda faixa, “Carnival”, simplesmente por ser um festival de atrito de opostos que gera uma atmosfera densa, além de resumir muito bem todo o trabalho pelos elementos diversificados que foram usados para construí-la. Mas a melhor faixa do trabalho chega no final, em “Wicked”, um manifesto inconformista com linha de baixo sensacional e refrão brilhante.

Ambas as composições mencionadas, mostram como os três músicos dominam tecnicamente seus instrumentos, mas também possuem coragem de experimentar e ousar, além de naturalidade para desenvolver os cacoetes intrincados do progressivo. Nesse sentido, a seção rítmica se destaca durante toda a performance, pois mostra segurança e precisão para que tudo funcione muito bem. Isso é algo que fica claro desde a faixa de abertura, que também nome ao disco.

Outro momento que chama a atenção é a faixa “She”, pela participação do genial Fábio Caldeira, vocalista do do Maestrick, uma das melhores bandas do metal nacional. Fábio trouxe uma dinâmica e um requinte diferenciado para esta faixa, que é aquela com arranjos mais “iluminados” e “felizes” do disco.

Após a dissonante “Stray Dogs” o disco encerra nos deixando a sensação de que ouvimos um conjunto de composições diferenciado, com muita personalidade na execução e profundidade nas referências. Com isso, “Memory” se torna um primeiro passo interessante de uma banda que esbanja potencial para ser explorado no futuro.

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