Three Man Army – “A Third of a Lifetime” (1971) | Você Devia Ouvir Isto

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“A Third of a Lifetime”, clássico primeiro disco da banda THREE MAN ARMY, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO, cuja proposta você confere nesse link.

Three Man Army - A Third of a Lifetime (1971, Hellion Records) Resenha

Definição em um poucas palavras: Retrô, guitarra, pérola escondida.

Estilo do Artista: Hard Rock Setentista

Comentário Geral:  Quando “A Third of a Lifetime”, primeiro álbum do power trio Three Man Army, foi lançado em 1971, a dupla que formava o núcleo principal já não era nenhuma estreante no mundo da música.

Isso porque os irmãos Adrian Gurvitz (guitarra, vocais, teclados) e Paul Gurvitz (baixo e vocal), já haviam mostrado seu talento no Gun, uma das bandas mais pesadas do final da década de 1960 na Inglaterra.

O Gun acabou se tornando um nome de destaque no hard/psych rock que mesmo sem angariar fama mundial, tinha uma reputação no circuito de bandas inglesas, principalmente pelos dois excelentes discos que lançaram entre 1967 e 1970 e o single de “Race With The Devil”, que teve certo sucesso comercial. Tanto que seu riff foi tocado por Jimi Hendrix no festival da Ilha de Wight, em 1970 e mais tarde foi regravada pelo Judas Priest.

O Three Man Army foi formado ainda no ano de 1970, em Ilford, uma cidade próxima a Londres, na Inglaterra, logo após a dissolução do Gun, sendo que o primeiro disco, “Third of a Lifetime”, sairia pelo selo Pegasus, em 1971.

Na verdade, este disco era uma trabalho solo dos irmãos Gurvitz, projetado para ser apenas algo em estúdio, como contou Paul Gurvitz em entrevista ao site It’s Psychedelic Baby:

“Three Man Army foi uma extensão do Gun, mas com muitos bateristas diferentes, como Buddy Miles, Mike Kelly e Carmin Appice. Éramos apenas uma banda de estúdio na época, pois Adrian e eu tocávamos em bandas diferentes, mas pretendíamos colocar o Three Man Army em turnê mais tarde.”

Ele ainda afirma que o Three Man Army de fato nasceu quando Tony Newman se juntou à dupla de irmãos, tempos depois do lançamento de “A Third of a Lifetime”.

Musicalmente, o Three Man Army se distinguia do Gun principalmente por despir o hard rock da maioria de seus trajes psicodélicos, praticando o gênero na sua essência, sem descambar para o prog rock e se mantendo sustentado nas raízes do rock fincadas no solo do blues.

Para orientar aqueles que ainda não ouviram o poderio de “A Third of a Lifetime”, musicalmente o Three Man Army praticava um som crú e pesado, mas tecnicamente elegante e melodicamente bem desenhado, lembrando ícones como Led Zeppelin, Cream, Grand Funk Railroad e Bachman Turner Overdrive, além de um toque blues rock à lá Johnny Winter.

Todas as composições “A Third of a Lifetime” de são guiadas pela guitarra de Adrian Gurvitz, que em 1971 era um dos grandes nomes do instrumento na Inglaterra, algo demonstrado na matadora sequência de abertura com “Butter Queen” (atenção ao riff que antecipa o padrão do hard rock oitentista), “Daze” (outra faixa forte) e “Another Way” (ainda com resquícios da psicodelia dos tempos de Gun).

Estes seriam os grandes destaques do disco ao lado da “bipolar” “See What I Took”, da dramática power ballad “Togheter” e de “Three Man Army” (um classic rock cheio de melodia e bons ganchos nas linhas de guitarra), que compensam toda a falta de originalidade com vontade, força e muito feeling nos excelentes solos de guitarra, que são a “alma da festa”.

“Butter Queen”, aliás, se destaca de imediato no repertório, não apenas pelo trabalho brilhante dos irmãos Gurvitz, mas também pela bateria insana do genial Buddy Miles (abrindo o disco explosivamente e até fazendo um solo no meio da música), que um ano antes marcou a história do rock ao gravar “Band of Gypsys” (1970) ao lado de Jimi Hendrix.

Obviamente que neste repertório “Butter Queen” parece destoar e acaba sendo o grande momento do disco, mais pelo conteúdo do que pela forma. Tanto que a diferença de intensidade para próxima faixa, “Daze”, é vertiginoso.

Claro que Miles já mostrava grande talento em sua carreira solo e em outros trabalhos, e aqui, em “A Third of a Lifetime”, ele ainda empresta seu talento tocando hammond na faixa “Midnight”. 

Aliás, Adrian Gurvitz conheceu Miles por intermédio de Jimi Hendrix, conforme ele mesmo contou ao site Hit Channel:

“Ele (NE: Jimi Hendrix) costumava ir ao clube Speakeasy. Encontrei Jimi pela primeira vez lá. Mais tarde, quando conheci Buddy em Londres, ele tocou em um de meus discos (NE: justamente ‘A Third of a Lifetime’). Eu já conhecia Hendrix e costumávamos ir sempre no Speakeasy. Toquei com Jimi cerca de três vezes. Naquela época, você tocava no clube e então alguém como Jimi entrava no palco e tocava. Não me lembro quem eram os outros músicos. Eu só me lembro de mim e dele.”

Voltando a “A Third of a Lifetime”, o restante do disco tem a bateria de Mike Kellie, advindo do Spooky Tooth e que se destaca mais fortemente nos três temas instrumentais do trabalho que chegam em sequência: a cadenciada e imersiva “A Third of a Lifetime”; a muscular “Nice One”, com cara de jam session e belíssimo timbre de guitarra; e a bluesy “Midnight”.

Os relançamentos em CD ainda traziam como bônus as ótimas “Travelin'” e “What’s your name” (que na edição japonesa veio em duas versões).

Infelizmente, o Three Man Army não teve uma grande repercussão no competitivo mercado inglês daquele início de década de 1970, e após os excelentes segundo (dê uma conferida na pedrada intitulada “Mahesha”) e o terceiro álbuns, lançados em 1973 e 1974, respectivamente, já com o baterista Tony Newman, o fracasso comercial cobrou seu preço e a banda acabou ainda em 1974.

Paul Gurvitz conta dessa época ao site It’s Psychodelic Baby:

“O segundo álbum ‘Three Man Army’ e ‘Three Man Army Two’ foram ambos com Tony Newman. Gravamos várias vezes no estúdio do The Who e viajamos pelos EUA com Doobie Brothers e Beach Boys. Fizemos um pouco de TV e há um álbum de material inédito chamado Three Man Army Three.”

Esta resposta nos dá a exata dimensão de que eles encaravam o início do Three Man Army à partir do segundo disco (o segundo disco é auto-intitulado e o terceiro é numerado com 2).

Quando perguntado se o Three Man Army deveria ter tido mais destaque frente às bandas daquele período, Adrian Gurvitz respondeu ao site Total Music que:

“O Cream era uma banda melhor, em todos os aspectos. Eu ainda estava tentando crescer como músico, o Cream era incrível e Eric naquela época era o melhor guitarrista que existia, com exceção de Jimi Hendrix, que era de outro planeta.”

Entretanto ao voltar dos Estados Unidos, o Three Man Army perdeu o baterista para a banda de David Bowie. “Three Man Army tinha um álbum pronto para gravar, mas nenhum baterista”, contou Paul Gurvitz.

Os irmãos Gurvitz rapidamente se juntaram ao lendário baterista Ginger Baker para formar o Baker Gurvitz Army, um supergrupo orientado para o prog rock em voga na época, que lançou três álbuns excelentes.

Ao mesmo tempo, os irmãos também se juntaram ao baterista do The Moody Blues para lançar dois álbuns como The Graeme Edge Band, mas longe da excelência do Three Man Army ou do Baker Gurvitz Army.

Por isso tudo, o Three Man Army é uma banda que merece ser redescoberta e a melhor forma de começar é por este impressionante “A Third of a Lifetime”.

Ano: 1971

Top 3: “Butter Queen”, “A Third of a Lifetime” e “Together”.

Formação: Adrian Gurvitz (guitarra, voz, teclado), Paul Gurvitz (baixo, voz), Mike Kellie (bateria), Buddy Miles (bateria e órgão)

Disco Pai: Gun – “Gun” (1969)

Disco Irmão: The Buddy Miles Band – “Chapter VII” (1973)

Disco Filho: Baker Gurvitz Army – “Elysian Encounter” (1975)

Curiosidades: Este disco durante muitos anos se tornou uma pérola escondida do hard rock setentista, sendo uma raridade buscada por colecionadores. Em 1990 ele seria relançado em CD pelo selo Repertoire e, em 2021, “A Third of a Lifetime” foi enfim lançado em CD no Brasil numa luxuosa edição em slipcase, mini-pôster e três faixas bônus à cargo do selo Hellion Records.

Pra quem gosta de: Guitar heroes, arqueologia musical, discos perdidos da era de ouro do rock e cerveja.

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2 comentários em “Three Man Army – “A Third of a Lifetime” (1971) | Você Devia Ouvir Isto”

  1. Marcelo Lopes Vieira

    Olá Walter!

    Primeiramente obrigado pelo comentário! Concordo plenamente com você quanto ao trabalho da Hellion Records. O trabalho de resgate que eles fazem é sensacional! Eles já vinham fazendo isso com bandas de Heavy Metal europeias dos anos 1980 e agora estenderam para o Heavy/Hard Rock setentista. Inclusive com títulos anunciados muito interessantes. Assim como você também torço por outros discos do Three Man Army e até mesmo do Baker-Gurvitz Army.

    Abraços!

  2. walter carvalho

    Comprei esse cd em edição incrível lançado pela excelente Hellion Records, que aliás, merece aqui, se destacar a atitude louvável dessa gravadora, que, em plena era dos Streamings, vem editando e lançando no mercado brasileiro, discos históricos, e que em alguns casos, nunca tiveram tiragens nacionais, como é o caso do disco acima resenhado.
    Agora, torço para que no caso da Three Man Army, o lançamento, não se resuma apenas nesse début da banda, já que os discos seguintes da bada, são ainda melhores ( na minha opinião, claro ). Aguardemos senhores !

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