“Aeon Zero” é o quarto álbum de estúdio da one-man-band The Ogre, devotada ao death metal e fundada em 2010 na capital paulista.
Abaixo você lê nossa resenha completa deste disco lançado de forma independente.
A banda The Ogre é um projeto do multi-instrumentista Diogo Marins que começou em meados de 2010, enquanto ele aprendia os meandros do trabalho em estúdio. Após algum período como uma banda de estúdio, Diogo sentiu a necessidade de levar o The Ogre para os palcos, reunindo-se como um trio. Nesse ínterim, a banda paulista lançou os discos “Idol Icon Black” (2015), “Dead in the Water” (2018) e “Entity” (2019). Em 2021, “Aeon Zero” ganhou vida e vem sendo credenciado pela crítica especializada como o melhor trabalho apresentado pelo The Ogre.
Confesso que até “Aeon Zero” chegar às minhas mãos para uma audição não tive contato com a música do The Ogre e tomei um susto (no bom sentido) com a diversidade de sua musicalidade. De fato, eu não estava preparado para o que eu ouviria aqui. Não por subestimar o trabalho de Diogo, mas por esperar uma forma ortodoxa de metal extremo. E ortodoxia é o que menos existe por aqui.
Claro que o metal extremo é linha mestra das oito composições deste trabalho, mas Diogo explora de forma bem interessante todo o espectro musical metálico, oferecendo uma costura bem feita de thrash metal, black metal, prog metal/rock, metal tradicional, hard rock e até alguma coisa mais pop/synthwave (na falta de uma melhor palavra que dê o real contraste dos elementos de sua musicalidade). Junte-se a isso um conjunto de letras que narram contos macabros, as misteriosas lendas urbanas, um pouco de esoterismo e ocultismo, e até alguns versos muito pessoais, tudo isso para evidenciar a parcela desoladora e sombria que a mente humana detém, seja de forma alegórica ou explícita.
Neste caminho musical diversificado fica até difícil apontar destaques isolados, pois cada composição tem seus momentos de brilhantismo junto a outros menos inspirados, mas faixas como “We Ride with Demons”, “Datadeity”, “Neon Sun” e “The Mountain of the Cannibal God” serão aquelas que melhor te mostrarão a maturidade atingida pela proposta ousada entregue pelo The Ogre. Enquanto a primeira é uma abertura pesada, rápida e cortante, “Datadeity” será a grande peça de “Aeon Zero”, pela interseção de texturas sintetizadas e orgânicas de death metal mesclado ao synthwave sobre uma estrutura progressiva. Já “Neon Sun” é um caso à parte, pois tem um acento hipnótico no casamento entre baixo e vocais num ambiente dissonante. Por fim, “The Mountain of the Cannibal God” trará uma atmosfera assustadora, opressora e reverente como experimentamos lendo algumas obras de H. P. Lovecraft.
As demais composições seguem num alto padrão de qualidade, mas estas quatro foram as que mais me chamaram a atenção pela inteligência musical demonstrada ao inserir as experimentações de forma muito natural na sua musicalidade pesada. Claro que o excelente trabalho em estúdio potencializou as qualidades apresentadas pelo The Ogre,sendo decisivo no resultado final.
Por fim, deixo aqui registrado que é possível ouvir a discografia do The Ogre no Bandcamp, pelo link https://theogre.bandcamp.com/. Além disso, a banda já lançou um novo EP em 2022, intitulado “Repulsive Illusion” que mostra versões diferentes de “We Ride with Demons” e um registro ao vivo para “3 Nights of Hell”, faixa de abertura de “Idol Icon Black”, seu primeiro álbum.
Nos últimos anos tenho ouvido discos de bandas nacionais dedicadas ao metal extremo que possuem um apelo progressivo e artístico diferenciado, ousado e muitas vezes melhor do que várias bandas internacionais badaladas. “Aeon Zero”, do The Ogre, é um destes, sendo uma ótima iniciação para quem não conhece a música da banda.
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