‘The Midnight Gospel’: Uma Viagem Filosófica e Visual

 

por Marcio Machado.

The Midnight Gospel poster
“The Midnight Gospel” (2020, Netflix)

Não é de hoje que temos no ramo das animações histórias que não são simplesmente entretenimento da molecada, aquelas histórias bonitas que a Disney enchia as telas (lembrando que nada contra tenho, tendo vários filmes de lá como favoritos), mas diferentemente, traziam uma temática complexa e com muitos dilemas pertencentes a vida adulta e cotidiana.

Podemos citar alguns casos como “Planeta Fantástico” (1973), de René Laloux, inspirado em “Planeta dos Macacos” (1968), que assim como no filme com Charlton Heston, nos conta a história de uma sociedade bastante diferente, povoada num planeta onde seres e ambientes totalmente ilustrados de forma bastante psicodélica, aborda temas como convivência com o diferente.

Ou também podemos citar o clássico “Akira” (1988), de Katsuhiro Ôtomo, baseado em seu mangá homônimo lançado em 1982, de onde uma onda de violência, gangues e a tecnologia entravam como o centro das discussões por ali.

Ainda podendo citar como último caso, “O Gato Fritz”(1972), de Ralph Bakshi, que abriu as portas para esse temática dentro de um desenho, trazendo o gato que dá título à obra numa inconsequente série de atos, como bebedeiras, consumo de drogas ilícitas e orgias, personagem criado pelo genial Robert Crumb.

Aos poucos, essa visão mais madura também foi tomando conta das séries de animação da TV, enquanto tínhamos a fantasia de “Caverna do Dragão” ou a fofice dos “Ursinhos Carinhosos”, aos poucos os rumos foram sendo mudados com o cotidiano da família de classe média em “Os Simpsons”, as loucuras de uma infância surtada em “South Park” ou a adolescência tosca e retardada de “Beavis and Butt-Head”.

E já nos anos 2000, uma enxurrada de desenhos foram ganhando notoriedade por suas histórias malucas e traços não convencionais, muitos parecendo uma viagem de LSD, como “Hora de Aventura”, “Clarêncio”, “Steve Universe”.

Em outros casos, vimos temáticas bastante sérias ao enfrentar e questionar a vida de frente, mas de uma forma ainda que cativante, como “Rick and Morty” e até um representante brasileiro que transborda simpatia e carisma, “Irmão do Jorel”.

Mas até o momento, a que mais havia me prendido e feito um retrato severo cruel de realidade era “Bojack Horseman”, que por muitas vezes me fez pensar na crueza da vida e de como realmente esse mundo é um colchão de água prestes à furar e nos afogar em meio ao nosso sono.

Digo até o momento, pois numa noite me deparei com uma layout da Netflix com um desenho contendo esses mesmos traços, mas sem se saber do que se tratava seu conteúdo me arrisquei a ver e ali continha algo que talvez fosse necessário que todos pudessem dar uma espiada, neste momento eu conhecia “The Midnight Gospel”.

Confira o trailer oficial da Netflix.

A série surgiu da parceria de Pendleton Ward, criador do citado “Hora de Aventura”, e escrito pelo comediante e podcaster Duncan Trussell.

A animação traz um mergulho no que realmente é a vida e o viver, que a dor está aí a todo momento, mas a escolha de como lidar com ela é somente nossa, no maior lema budista possível e isso cai diretamente em meio ao momento em que nós passamos, em uma crise de emergência sanitária com a pandemia que assola o mundo.

O que vai ser de nós depois que isso tudo passar?

Obviamente, a série não responde e nem pretende isso em momento algum, mas o olhar direto para dentro do ser é chocante tamanha a força dos diálogos, que inclusive, são feitos com entrevistas que realmente Duncan realizou com oito pessoas diferentes, dentre ex presidiários, agente funerário, instrutores de meditação e uma em especial mas que não irei citar para aqueles que ainda não viram ou leram algo sobre a série não se perderem e poderem mergulhar totalmente na ideia.

Com somente oito episódios de vinte minutos cada, o pequeno ser nomeado Duncan, percorre o universo encontrando diversos seres das mais variadas formas e nos mais loucos mundos, trazendo exatamente o traço de psicodelia visto em Planeta Fantástico, em razão de achar pessoas que queiram ser entrevistadas para o seu podcast.

Nessas conversas, os minutos passam fazendo uma reflexão de como é cada ato do viver, das escolhas, do como agir, do que são os conflitos do mundo e suas discussões, Jesus Cristo, a morte e o nascimento.

Assim sendo, a loucura do outdoor se mostra muito além de um simples desenho neurótico como por exemplo o próprio “Rick and Morty”, ele o ultrapassa e vai muito além, trazendo uma profundidade que por muitas vezes nos joga no abismo da nossa própria realidade que antes desse empurrão não teríamos atentando para o fato de que todos nós caminhamos para um o mesmo fim, a morte, que permeia todos os episódios de alguma forma sem que nós nos damos conta, ou simplesmente não nos permitamos fazer isso, assim como fazemos em nosso dia a dia, empurrando esse pensamento o mais fundo de nosso ser e o abafando com coisas triviais e outros assuntos, porém, assim como a animação, em determinado ponto não podemos mais fugir disso e temos de nos deparar numa conversa com a dona morte, assim como os dois últimos episódios trazem de forma bem forte.

A indústria da arte, ou a indústria cultural é um retrato de quem a cria e de um contexto social daquele momento.

Hoje passamos por um momento delicado que as relações e o nosso cotidiano foram severamente atingidos e tivemos que nos adaptar a ver o mundo sob outra ótica e principalmente de sermos capazes de conviver consigo mesmo de uma forma drástica, tirando esse tempo para um reflexo de tudo que compunha o nosso ser.

É inevitável que nesse momento de isolamento as reflexões e questionamentos surjam em alguma parte do dia e a série retrata isso, de uma forma lúdica, mas ainda que irá atingir à muitos principal e exatamente por estarmos vivendo esse tempo que entra para a história e será responsável por uma mudança de escala global em seu final.

Sobre um viajante e sendo uma viagem, “The Midnight Gospel” vai mexer com você e conforme a sua própria escolha, pode ser muito ou pouco, mas que você não será o mesmo após o oitavo episódio, isso é quase certo.

Antônio Abujamra, sempre ao final de seu programa “Provocações”, que trazia vários convidados, desde moradores de rua à atores famosos e acadêmicos do Brasil, sempre os questionava o entrevistado com a pergunta, “o que é a vida?”, ao qual nenhum deles ao ser confrontado por três vezes tinha uma resposta definitiva do que era realmente esse tempo.

A série também não nos responde isso, mas vai fazer você enxergar pelo menos um dos temas de uma forma diferente, então ao terminar todos os episódios, se olhe no espelho e se pergunte, “o que é a vida?”

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