Confira a proposta desta seção aqui…
Dia Indicado para ouvir: Quinta-feira.
Hora do dia indicada para ouvir: Dez da noite.
Definição em um poucas palavras: Festeiro, Grudento, Guitarra, Pra Encher a Cara, Urbano.
Estilo do Artista: Rockabilly.
Comentário Geral: Retiro aquele pequeno sólido acrílico da estante onde este item de parcas dimensões métricas, cercado por outros iguais, esconde em seu interior uma pepita musical.
Sim, sou um ouvinte à moda antiga, que adora o preâmbulo do ritual de uma bela degustação musical e sempre que pode dispensa as facilidades modernas do streaming.
Quando estamos falado do primeiro disco do Stray Cats essa busca pela organicidade e “materialismo” da forma com que o ouviremos se torna obrigatória.
Fones no lugar. Play!
As primeiras batidas marcadas começam, acordes de surf music enchem os headphones e a mistura de Dick Dale and His Del Tones com Eddie Cochran, adornada com solos virtuosos executados por um guitarrista que bebeu muito na fonte de Chucky Berry e Bo Didley se fazem presentes. “Runaway Boys” era a canção que iniciava o Stray Cats no mercado fonográfico britânico, abrindo seu aclamado álbum de estréia.
Ao contrário do que possam inferir, o Stray Cats foi fundado do outro lado do Atlântico, em terras norte-americanas, num cenário que não estava interessado na sonoridade rockabilly, considerada datada por lá.
Similarmente ao ocorrido com o blues e o jazz, estilos genuinamente americanos, mas renegados por suas futuras gerações, o rockabilly também foi reciclado pelos europeus, abrindo um nicho de jovens que recriavam os costumes e a indumentária dos românticos anos 1950.
+ conheça o JAZZ através de uma história discográfica neste texto especial.
Este revival do rock primitivo na Inglaterra vinha embalado pelos primeiros anos do punk rock, onde a simplicidade e crueza do rock eram retomados por uma geração cansada do virtuosismo e da megalomania do rock progressivo.
O mais interessante é a ironia personificada no guitarrista/vocalista Brian Setzer, um exímio guitarrista, muito além do que o estilo exigia, com formação jazzística e que vociferava ecos de Chucky Berry com suas seis cordas.
A explicação é simples, Setzer era membro de um grupo de art rock quando residia nos E.U.A. e o Stray Cats é a consequência de um projeto paralelo, batizado de Tom Cats, que começou a despertar um prazer no guitarrista, maior que do que experimentava no Blodless Pharaos, até então sua banda principal.
Enquanto o Blodless Pharaos não se apresentavam no underground nova-iorquino, Setzer se divertia com o rockabilly.
O interesse dele pela diversão roqueira foi ainda maior quando encontrou Lee Rocker e Slim Jim Phantom, respectivamente, contrabaixista e baterista minimalista, acostumados a tocar juntos desde os treze anos.
Os dois contribuíram de modo ímpar para o amálgama entre punk rock puro com um rock n’ roll dos anos 1950 que capitanearia o revival do rockabilly que se deu no limiar dos anos 1970.
Três meses após aportarem em Londres já conseguiram um contrato para o registro de suas composições, obtendo reconhecimento imediato com seu ritmo dançante, já impresso naquela primeira faixa de seu debut, “Runaway Boy”.
Além desta abertura atemporal, ainda degustávamos um revitalizado rock básico nas clássicas “Rock This Town”, “Rumble In Brighton” e no cover de “Jeanie, Jeanie, Jeanie”, originalmente de Eddie Cochran.
Já canções como “Fishnet Stockins” e “Crawl Up And Die” invocam espíritos roqueiros adormecidos pela invasão britânica e pela Motown.
Outro destaque especial vai para a diferenciada “Storm to Embassy”, musicalmente mais vanguardista que as restantes, trazendo elementos inerentes ao movimento pos-punk, essa pepita ainda carrega a virtude de ser a única canção com conotação política da banda.
Entretanto as mais brilhantes canções são, sem dúvidas, “Stray Cat Strut” e “Wild Saxophone”. A primeira, um blues rock no melhor que o virtuosismo de Setzer podia produzir em malícia com a seis cordas, ritmo cadenciado e contagiante. Já a segunda, cujo saxofone é desfilado por Gary Barnacle, em uma canção de ritmo alucinante e linhas musicais vertiginosas, onde a guitarra não é o personagem principal.
Esta energia os levaram a abrir shows do Rolling Stones e angariar vários admiradores de um amálgama entre Bill Halley and His Comets, Chuck Berry, Eddie Cochran e hillbilly com atitude punk.
Um álbum obrigatório!
Ano: 1981
Top 3: “Rock This Town”, “Stray Cat Strut”, e “Runaway Boys”.
Formação: Brian Setzer (guitarra e vocal), Lee Rocker (contrabaixo) e Slim Jim Phantom (bateria).
Disco Pai: Eddie Cochran – “Eddie Cochran” (1960).
Disco Irmão: The Meteors – “Wreckin’ Crew” (1981).
Disco Filho: The Headcat – “Fool’s Paradise” (2006).
Curiosidades: Mesmo saboreando um considerável sucesso no Reino Unido, chegando a atingir a 6ª posição nos charts, o Stray Cats ainda gravaria mais um álbum na ilha européia antes de voltar aos E.U.A. com o álbum “Built For Speed”, em 1982, que era uma coletânea dos dois primeiros álbuns britânicos. Dois anos mais tarde a banda se separaria pela primeira vez.
Pra quem gosta de: Topetes, jaquetas de couro, pin-ups, tatuagens, hambúrgueres e cerveja.
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